António Pimenta Machado dirigiu o Vitória entre 1980 e 2004 num mandato cuja duração apenas é superada pelos de Pinto da Costa à frente do F.C.Porto.
Não vou aqui hoje escrever sobre o que foram os seus mandatos, sobre o bom e o mau da sua presidência, sobre o Vitória que encontrou em 1980 e o que deixou em 2004.
Já o disse em várias ocasiões, e repito-o agora, que o considero o melhor presidente da História do clube.
Fiz parte dos orgãos sociais com ele, entre 1995 e 2002, vivi por dentro muitos episódios, sei bem o quanto se exagera (para mal) nalgumas apreciações que por aí se vão lendo.
Mas não é disso que se trata neste texto.
Mas sim da frase que o celebrizou no futebol português e que tão mal interpretada é por alguns.
"O que hoje é verdade amanhã é mentira".
Dito no contexto do despedimento, em 1987, do treinador Renê Simões é das frases que melhor exemplifica o que é a realidade do nosso futebol.
Era-o já no tempo em que foi dita e continua a sê-lo na actualidade.
Basta olhar em volta.
E por isso é injusto que se associe essa frase a algum contorno da personalidade do seu autor quando em boa verdade é uma radiografia perfeita do nosso futebol e, mais do que isso, daquilo que é o próprio futebol e a sua realidade.
E aqui deixo um exemplo passado comigo e com Pimenta Machado.
A época de 2000/2001 estava a correr mal.
Paulo Autuori, que tinha iniciado a época, fora substituído por Álvaro Magalhães mas os resultados teimavam em não aparecer e a continuidade deste tornou-se insustentável pelo que após mais um mau resultado em casa( e a insatisfação dos associados) se tornou irremediável a sua saída.
E recordo-me que passada mais de uma hora sobre o final do jogo conversava, a sós, com o então presidente sobre o substituto do treinador.
Pedida a minha opinião sugeri-lhe...José Mourinho.
Acabado de sair do Benfica e no inicio da sua carreira como treinador principal.
Pimenta Machado achou a sugestão interessante mas disse-me estar a pensar em Augusto Inácio que tinha sido campeão na época anterior treinando o Sporting e se encontrava na altura sem clube.
Com o argumento,decisivo, que tinha mais experiência e era portanto melhor treinador para o Vitória.
Em 2000 Augusto Inácio era melhor que Mourinho.
Nesse "hoje" era verdade.
No "amanhã" que se seguiu era mentira.
Lá está... o futebol é assim mesmo!
Depois Falamos
10 comentários:
Onde é que está o nexo entre esta história e a célebre frase de Pimenta Machado ?
Caro Anónimo:
se ler com mais atenção vai ver que percebe. Não é difícil.
Excelente texto, Luis!
???? também não percebi !!
Luis Almeida
Para bom entendedor meia palavra basta.
Uma boa historia que sai do baú. Obrigado por partilhar.
Mendes
Nem sempre tem acontecido, mas não podia estar mais de acordo com este texto na sua integra.
Parabéns.
De anónimo das 2:22 para anónimo das 8:53 da tarde: O que Pimenta Machado provavelmente quis dizer foi que, o treinador que naquele dia saía do Vitória, não era bom para a equipa. Mas que no futuro isso poderia ser mentira. Não é difícil de perceber. Foi uma forma digna de dizer que o treinador não estava a treinar bem a equipa mas que no futuro o seu despedimento poderia ser interpretado como um erro. Ou, por outro lado, que no futuro até poderia ser um excelente treinador. Dispensou o treinador admitindo que poderia estar a cometer um erro. A frase também pode ser interpretada como salvaguarda da sua decisão. Um verdadeiro gentleman o Pimenta Machado!
E realmente a frase pode aplicar-se em muitos aspetos do futebol. Tem razão Sr Luís Cirilo.
Caro Ricardo:
Obrigado.
Caro Luís Almeida:
Deixe lá. É uma história antiga.
Caro Mendes:
Ainda bem que gostou. Acho que vou contar mais algumas. A começar por uma passada com um árbitro já retirado.
Caro Manuel Ferreira:
Obrigado. Uma das razões pelas quais este blogue existe é precisamente para proporcionar o debate de ideias e opiniões.
Caro Anónimo:
A analogia que eu fiz com a frase foi a de nesse tempo ser verdade que Inácio era melhor que Mourinho mas no futuro isso viria a revelar-se mentira. Admito que PM, em relação a Álvaro Magalhães,tenha feito o raciocinio idêntico ao seu
Não tenho bem a certeza mas parece-me que essa frase dita por Pimenta Machado, ipsis verbis, foi: "O que hoje é verdade amanhã pode ser mentira".
Não sei se Pimenta Machado foi o melhor presidente de sempre pois não conheço a fundo o trabalho dos seus antecessores, já em relação aos sucessores acho que Júlio Mendes não lhe fica atrás, são diferentes, claro, mas somando os prós e os contras estão empatados.
A ver vamos se Júlio Mendes mantém a sua performance ou até a melhora e melhorando poderá vir a ser, ele sim, o melhor presidente de sempre.
Como é um tema com muito para expor, vou apenas dar as linhas gerais das minhas razões para o "empate" entre ambos:
- PM fez o clube crescer, afirmar-se, manter-se e tinha voz "grossa" na defesa do clube mas foi completamente ultrapassado pela modernidade, na gestão, na questão das SADs e no profissionalismo e na verdade em termos desportivos por muito que tenha tentado não ganhou nada de grande monta.
- JM salvou o clube financeiramente, está a operar uma mudança de paradigma que transportará o clube para o futuro do futebol em Portugal (país "criador"/vendedor e não comprador de futebolistas) e ganhou a (até agora) única Taça de Portugal da história de 92 anos do futebol do clube, mas tem voz fraca na defesa do clube face ao sistema (inclusivamente foi pré-candidato a testa de ferro do sistema).
Ambos partilham algumas qualidades e alguns defeitos mas penso que se houvesse alguém que fosse a soma dos 2 teríamos um presidente perfeito.
Caro Francisco:
A minha opinião é diferente dado que considero que Pimenta Machado foi o melhor presidente da nossa História.
Quanto à comparação que faz acho muito difícil comparar 24 anos de presidência com apenas 3.
E para mim o mais importante na presidência de PM foi a radical transformação que fez do clube. Em termos de infraestruturas, de posicionamento no panorama desportivo, de respeito que infundia aos nossos adversários. Deu dimensão ao Vitória.
Por outro lado se já é possível fazer uma analise global do que foram os mandatos de Pimenta estamos muito longe de poder dizer o mesmo da de Júlio Mendes. E quanto a mudanças de paradigma ainda é cedo, muito cedo para avaliar
Enviar um comentário