quinta-feira, janeiro 08, 2015

Memórias de um Senhor

Pintura de Arménio Sá Airosa

A propósito deste retrato, que vi na página de facebook do seu autor, vieram-me à memória três pequenos episódios que tive o grato prazer de partilhar com o dr. Joaquim Simões uma das mais notáveis personalidade de Guimarães na segunda metade do século XX.
Já conhecia o dr. Santos Simões muito antes de o conhecer pessoalmente.
Sabia-o um homem de esquerda, resistente à ditadura e por ela proibido de leccionar no ensino público, e muito ligado aos movimentos e associações culturais de Guimarães ao longo de dezenas de anos.
Te-lo-ei conhecido pessoalmente em data que não consigo precisar mas algures em meados dos anos 90.
Já ele presidia à Sociedade Martins Sarmento(SMS),com quem os episódios que vou contar também estão relacionados,onde efectuou um notabilissimo trabalho que é comummente reconhecido e elogiado por todos quantos o conhecem.
Em 1997 fui convidado pelos então  presidentes da direcção e da assembleia geral do Vitória (respectivamente Pimenta Machado e José Cotter) para presidir à comissão que organizaria a comemoração dos 75 anos do clube.
Nesse contexto, e porque era objectivo da comissão alargar tanto quanto possível as comemorações à comunidade vimaranense, pareceu-nos que a SMS poderia ser um parceiro importante nesse alargamento dada a relevância que todos lhe reconhecem.
Pedida uma reunião ao dr. Santos Simões fui, na companhia de alguns colegas da comissão, por ele recebido para lhe expormos a nossa pretensão de a SMS ser sede de algumas iniciativas do programa que então tínhamos alinhavado.
Confesso que apesar de o saber associado do clube, e até integrante dos seus orgãos sociais no passado, aguardava com alguma expectativa a sua reacção aquela proposta de misturar as festividades de um clube desportivo com uma associação cultural circunspecta e formal como a SMS é.
Foi a melhor!
Aderiu de imediato à ideia, enriqueceu-a com algumas sugestões e abriu-nos totalmente as portas da SMS para a realização do que entendêssemos necessário.
Lá se fizeram alguns colóquios, lá se fez uma exposição de caricaturas desportivas de Francisco Zambujal (cedida pelo jornal A Bola) , lá se fez uma conferência.
Quase sempre com a presença interessada do dr. Santos Simões.
Em 2000 era eu deputado e secretário geral adjunto do PSD quando, no âmbito de uma vinda ao Minho, o então líder do partido (Durão Barroso) me mostrou muito interesse de na passagem por Guimarães visitar uma exposição que estava patente na SMS.
O problema estava que a agenda só lhe permitia estar em Guimarães num sábado ao fim da tarde numa altura em que a SMS já se encontrava encerrada.
Telefonei ao dr. Santos Simões , expus-lhe a questão, e pedi-lhe se por muito favor seria possível ter lá um funcionário para nos abrir a porta e permitir ao dr. Durão Barroso visitar a exposição dado que não teria outra oportunidade de a ver.
Lembro-me de ouvir o dr. Santos Simões rir-se do outro lado da linha e perguntar-me a que horas tinha de ter lá o "guia" para mostrar a exposição.
Combinamos para as 19.00 h se bem me recordo.
Fomos pontuais.
Ao chegarmos ao edifício lá estava o "guia" à porta esperando a nossa chegada.
O próprio dr. Santos Simões!
Que durante quase uma hora mostrou a exposição (creio que de moedas antigas) ao dr. Durão Barroso mantendo ambos uma animada conversa em volta da exposição e...não só!
Em 2002, ocupava eu o cargo de governador cívil, quando o dr. Santos Simões num certo dia me telefonou a perguntar se teria disponibilidade para o receber no Governo Cívil numa data próxima para me expor um assunto que muito o preocupava.
Disse-lhe que não.
Mas que teria muito gosto de no dia seguinte, antes de ir para Braga, passar pela SMS para tomar um café com ele e falarmos sobre o tal assunto.
Assim foi.
E conversamos sobre as dificuldades financeiras da Sociedade, os projectos parados por falta de apoio do poder central, a própria (in)sustentabilidade da SMS no quadro financeiro em que vivia.
Não era naturalmente assunto, como ambos sabíamos, que estivesse na mão de um governador civil resolver.
Mas cabia no quadro das suas competências sensibilizar o governo para o problema e desenvolver as diligências necessárias a permitir aos responsáveis governamentais tomarem o conhecimento mais detalhado possível da questão.
E nesse contexto falei nesse mesmo dia com o então secretário de estado da cultura (José Manuel Amaral Lopes) e com ele combinei uma visita à SMS numa deslocação próxima ao distrito para tomar conhecimento "in loco" da situação.
Assim se fez.
Passadas duas ou três semanas acompanhei o secretário de estado à SMS onde manteve uma longa reunião com o dr. Santos Simões e se comprometeu a fazer o que estivesse ao seu alcance para ajudar a resolver os problemas existentes.
Passados dois ou três dias recebi um amável cartão do dr. Santos Simões a agradecer as diligências feitas e o interesse demonstrado pela SMS da qual entretanto, e por proposta por ele subscrita, me tinha tornado associado.
Não tinha que agradecer.
Eu é que agradeço , e estarei sempre grato por isso, o ter conhecido uma pessoa com os méritos e as qualidades do dr. Santos Simões que passou grande parte da sua vida a tornar melhor a comunidade de onde não era natural mas para a qual trabalhou de forma magnifica em tantas áreas.
Tenho pena,isso sim, de ter convivido com ele tão pouco tempo.
Mas valeu bem a pena.
Depois Falamos.

2 comentários:

King_vsc disse...

Também tenho boas recordações da pouca vivência que tive com o Dr. Santos Simões.
Como pessoa e como professor, sempre tive uma grande admiração por aquele Homem inteligente, culto, humilde e de bom trato. Com ele qualquer aluno, mesmo que não fosse especialmente dotado para a matemática, "era obrigado" a gostar, tal era a simplicidade com que expunha e explicava os problemas!
Recordo-me que na turma havia uma miúda (família muito humilde), logo no 1º período demonstrava bastante dificuldade. O Dr. Santos Simões chamou os pais, inteirou-se da situação, sei que passou a fazer uma refeição na escola e ajudava-a, uma ou duas vezes por semana com explicações gratuitas. Atenção que isto ninguém na turma sabia pela boca do Dr. Santos Simões. Ele nem desconfiava, pois tinha um espírito altruísta e o que dava não queria nada em troca.
Foi dos professores que mais me marcou pela sua simplicidade.

luis cirilo disse...

Caro King:
Obrigado pelos exemplos que deu e que reforçam a imagem que procurei dar do dr. Santos Simões neste post.
Foi de facto uma pessoa invulgar.