sexta-feira, dezembro 02, 2011

Velhas Livrarias

Tenho por hábito, sempre que possível, dar uma volta a pé (depois de jantar) pelo centro histórico de Guimarães para fazer exercicio e simultâneamente ir vendo o que se passa em termos de novidades no comércio local.
Um destes dias, depois de atravessar o descampado urbano outrora conhecido por Toural, resolvi fazer um périplo pelos locais onde se situavam as livrarias da minha infância.
Onde comprei muitos livros, escolares e de entretenimento, onde folheei muitos outros e essencialmente onde solidifiquei o meu gosto pela leitura que me tem acompanhado pela vida fora.
Comecei pela Rua da Rainha.
Onde ficava a livraria "Lemos" talvez a maior que Guimarães possuiu nos tempos pré FNAC.
Andares cheios de estantes e de livros.
E mais do que isso um "cheiro" a livro que só nessas casas se encontra.
Hoje é um pronto a vestir!
E uma perda irreparável para a cultura vimaranense.
Segui pela rua de Santo António.
Onde ficava a "Gráfica Minhota".
Que não sendo uma livaria propriamente dita vendia livros e material escolar além de trabalhos gráficos.
É um restaurante.
Pouco adiante,do lado esquerdo,ficava aquela a que me une uma memória afectiva bem maior.
A "Raúl Brandão".
Onde comprei inúmeros livros ("Os Cinco", "Os Sete" e tantos outros livros juvenis) e onde li um razoável número deles graças a um conceito avançado para o tempo que era o de estimularem os leitores a folhearem livros e a lê-los mesmo na livraria.
Os juvenis,lembro-me bem estavam no piso inferior.
Hoje é uma casa que vende malas se não estou em erro.
Acabei o périplo no Largo Navarros de Andrade onde se situava a "Livrália".
Tinha pouco livros,comparando com as anteriores,mas era o local onde durante muitos anos comprava quase todo o material escolar e muitas revistas que coleccionava.
É um pronto a vestir!
Em linha recta da "Lemos" à "Livrália" não são mais de 300 metros.
Nesse curto percurso fecharam quatro livrarias para abrirem estabelecimentos de que existe fartura na cidade e nos shoppings.
Hoje resistem três casas de livros na cidade.
A "Ideal", ainda hoje gerida por um verdadeiro livreiro chamado Luis Caldas ,que já fora a "alma" da "Raul Brandão" e continua a "teimar" nos livros.
O tradicional "Xico das Novidades" ,que depois de chegar a ter uma pequena livraria autónoma da papelaria, juntou tudo num espaço maior de que teve recentemente de sair porque o edificio foi comprado pelo municipio no âmbito da CEC2012 regressando ao espaço original.
E a "Orpheu", na rua Gil Vicente, que também ela aposta em contrariar o fatalismo das compras na FNAC e continua a apostar em vender livros.
Pouco para uma cidade como Guimarães.
Com centro histórico património mundial,capital europeia da cultura, e destino turistico de excelência.
Mas foi o que o passar dos tempos nos destinou.
O passar dos tempos e decisões erradas quanto á mobilidade no centro histórico.
Mas isso fica para outra vez.
Depois Falamos.

19 comentários:

Anónimo disse...

Que saudade da "Lemos" e da antiga "Xico das Novidades".

Se me permite diria que

Faltou acrescentar o fecho da "Bertrand", do lado contrário à da Livrália e a abertura de uma nova livraria na Praça Heróis da Fundação onde funcionava uma casa de vinhos.

Mas como a moda é comprar no

Anónimo disse...

As "livrarias" do meu Portugal são cada vez mais.
Livros nos Correios, nas estações de serviço, ou livros colados nos jornais, são (infelizmente) o dia-a-dia.
Nos hipers, são vendidos com cheiro a couves e champôo.
Num país, onde o homem lê a Bola e a mulher a Maria, está tudo dito.

Lucas disse...

A verdadeira livraria vimaranense, está na Rua de Santo António, a única que apenas comercializa livros.
É um espaço muito belo, agradável, com um atendimento muito profissional e simpatia á mistura.
Pena, ser pouco conhecida, e por vezes não lembrada.
Livraria do saudoso Luis Pinto dos Santos, agora dirigida por seu irmão Guilherme, merece uma visita, nem que seja apenas, para cheirar a tinta dos livros...

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
Tem razão. Lembro-me be dessa Bertrand onde também comprei alguns livros. Mas fechou muito antes de todas as outras.
A da praça heróis da fundação não conheço ainda.
Caro Anónimo:
É um bocado isso de facto. Mas essa venda de livros nada tem a ver com livrarias.
Caro Lucas:
TEm toda a razão.
E é um esquecimento imperdoável da minha parte amigo que fui do Luis Pinto dos Santos. E cliente da livraria que é tudo aquilo que diz.
Há lapsos mesmo incompreensiveis

Anónimo disse...

Em Portugal, para além de se ler muito pouco, o mais preocupante, é o facto de aproximadamente 1/3 dos compradores de livros, acaba por não os ler.
É mesmo verdade, compra-se, por vezes, porque é moda, ou simplesmente, para "calçar" uma cadeira, cujo pé se partiu...
Enfim, sinais dos tempos.

Rafael Pinto

Anónimo disse...

falta aí uma referência à "8 séculos", também já desaparecida, e que ficava na "porta da vila", quase junto à ex Lemos

Anónimo disse...

Já agora, apenas um pormenor.
A Bertrand que existia no largo Navarros de Andrade, onde hoje se vendem cozinhas, chamava-se, salvo erro, "livraria Internacional"

Anónimo disse...

caro amigo luis cirilo, perdou-me pela simples retificação para ser verdadeiro com os vimaranenses, escreveu que a "gráfica vimaranense" se localizava na rua de santo antonio mas na verdade esta localiza se na rua da liberdade, a grafica que existiu na rua santo antonio chamava se "gráfica minhota".
obrigado por ser vimaranense e vitoriano, espero que seja o proximo presidente do vitoria.

Anónimo disse...

"falta aí uma referência à "8 séculos"

Não me lembro;deve ser muito antiga.

José Duarte disse...

Que bom ter falado nisso! Frequentei a "Raúl Brandão" durante anos, alguns bastante perigosos... Éramos, entre outros: o Paulo Dias de Castro, livreiro; o saudoso João Fernandes (advogado) que tinha lá uma irmã ao balcão; o Melo, comunista, que abriu outra "Raúl Brandão" em Fafe, indo com outra livraria parar a Felgueiras como quem fugia à Pide (e fugia!); enfim, tempos do demónio, envolvendo-me eu com biabruras semi-clandestinas como o inofensivo "Luuanda", do Luandino Vieira, que conservei antes de ser "requisitado" aos livreiros pelo S.N.I. capaz de nos mandar a todos para Caxias, e conversas do advento sobre a queda da ditadura... Maldição!, que hoje bem gostava de ter uma efígie do Salazar à cabeceira da minha cama! Sabe, à parte uns poucos, escrevem todos sobre culinária. Eu já não consigo ler - quanto mais escrever - por causa das instabilidades. Destas, porém, a pior ainda é a insegurança social... donde a minha maior afeição pelo anterior regime, apesar da dor que me causou. Anda muita gente na rua morta por escrever, mas enquanto houver biografias sobre o Pinto da Costa, ou o Mourinho, ou o Cristiano Ronaldo, acho que é melhor levar as nossas para a editora em que a gente tanto acredita, mas não é deste mundo.

luis cirilo disse...

Caro Rafael Pinto:
É verdade . E é pena. Porque o indice de leitura dá-nos uma boa imagem da cultura de um povo.
Caro Anónimo:
é verdade que sim. e era uma boa livraria fundada por um ex funcionário da "Lemos".Infelizmente durou poucos anos.
Caro Anónimo:
Creio que era esse o nome.Livraria Internacional. E era uma excelente livraria.
Caro Anónimo:
Obrigado pelas suas palavras e pela chamada de atenão.Já rectifiquei.
Caro Anónimo:
A "8 séculos" foi fundada nos anos 80 salvo erro.
Caro José Duarte:
Eu era miudo(14 anos) aquando do 25 de Abril. Mas sei que algumas livrarias(como a "Raul Brandão")eram centros de debate,de troca de opinião politica e até da comercialização clandestina de livros proibidos pela censura.
A seu modo eram centros de resistência á ditadura.

jOSÉfernandes disse...

Um dos artigos mais bonitos e elogiosos sobre Guimarães
que li, foi escrito pela jornalista e escritora Clara Ferreira
Alves numa revista do Expresso, uns anos atrás, aquando
da sua estadia na cidade com o escritor chileno Luís
Sepúlveda.
Nesse artigo não falta referência ás montras das nossas
livrarias, onde ela destacava livros sobre arte.
Pessoalmente, recordo com saudades o périplo que fazia
com os meus colegas de escola em busca de horários
pelas livrarias. A LEMOS era especial.

luis cirilo disse...

Caro José Fernandes:
Curiosa essa lembrança da ronda pelas livrarias em busca dos calendários escolares. Também a fiz muitas vezes com os meus amigos.
E sim a "Lemos" era especial.

Anónimo disse...

Obrigada, caro Luis Cirilo. Graças ao seu blog descobri o nome da livraria da R. de Santo António que fechou há tantos anos: a "Raúl Brandão". A tristeza que foi para mim o fecho dessa livraria. Acho que a montra dela contribuiu e muito para eu me tornar leitora compulsiva e apaixonada por livros, de tantas vezes que a observei. Tinha livros de todo o tipo e lembro-me de um que me ficou na memória dado o seu título transgressor (para os meus 7ou 8 anos): "Os Cus de Judas" do Lobo Antunes.
Quanto à "8 séculos", julgo que fechou em 1994/95. Ficava do lado esquerdo da Porta da Vila (sentido Rua da Rainha-Igreja da Oliveira) quase em frente à "Ideal". A entrada era estreita e um pouco escura, mas tinha livros óptimos e variados e material de pintura (lembro-me de terem na montra belos estojos de aguarelas).
Também havia uma espécie de bazar de brinquedos com livraria perto da Chico de Holanda, onde comprei inúmeros livros infantis e bonecas e que fechou no início da década de 1990. Não sei o nome, mas lembra-se desta loja?
Mais uma vez obrigada e um bem-haja, Luis.

luis cirilo disse...

Cara Anónima:
Creio que o fim da "Raúl Brandão" deixou em todos os que gostam de livros um certo sentimento de orfandade literária.
E se falo mais dessa é porque era lá mais cliente do que na "Lemos" ou posteriormente na "8 Séculos".
Mas foram grandes perdas sem qualquer duvida.
Esse bazar de que fala,próximo da Escola Francisco de Holanda,chamava-se "Satélite". Também lá comprei algumas coisas.

pedro disse...

Na cave da Raúl Brandão aprendi eu a ler, incentivado pelo dono da livraria, António Cosme, meu tio... pensei que me deixava passar horas a ler os livros à venda nas estantes por ser sobrinho mas a todos os que mostrassem interesse pela leitura e tratassem bem os livros ele deixava fazer o mesmo. Deixou saudades...
Lembro-me também perfeitamente do périplo que fazia, em Setembro, pelas inúmeras livrarias da cidade para recolher os vários modelos de horários escolares que todas as lojas se esmeravam por fazer e oferecer.

luis cirilo disse...

Caro Pedro:
Memórias comuns. Da livraria e do périplo atrás dos calendários

Anónimo disse...

Bazar Satelite

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
Exactamente.