Não posso dizer que conheço muito bem Rui Vitória.
Direi que o conheço razoavelmente fruto de umas horas de conversa em viagens para e no regresso de jogos, em estágios, e em várias reuniões ao longo dos meses que desempenhei funções no clube.
E a ideia que tenho dele, para além de uma excelente impressão pessoal que não conta para o efeito desta publicação, é a de ser um treinador moderno, actualizado, estudioso, culto e possuidor de uma saudável ambição.
É também um profissional exemplar de uma lealdade inexcedível à entidade patronal e de um espírito de colaboração raro nos tempos de hoje.
Por isso considero injusto que se queira transformar Rui Vitória no réu da actual crise de resultados do clube.
Se concordo com todas as suas decisões?
Não. Não concordo.
Se gosto de algumas exibições que a equipa faz?
Não. Não gosto.
Se o modelo de futebol praticado em bastas ocasiões é aquele que mais gosto de ver?
Não. Não é.
Se considero que tem aproveitado devidamente todos os recursos postos ao seu dispor?
Não. Não considero.
Se acho que faz sempre os discursos mais mobilizadores?
Não. Não acho.
Mas isso com RV ou com qualquer treinador porque dentro de cada adepto há...um treinador!
Mas vamos aos factos.
Rui Vitória chegou a Guimarães em Setembro de 2011 (dois anos e meio atrás) para substituir Manuel Machado que entretanto apresentara a sua demissão.
Encontrou um plantel feito a meias pelo treinador e pelo presidente, desequilibrado, com um balneário...difícil e no qual apareceram quase de imediato problemas de salários em atraso.
Foi um ano difícil mas ninguém o ouviu queixar-se.
Fez o seu trabalho.
Desse tempo restam no clube apenas cinco(!!!) jogadores.
Douglas (ao tempo suplente de Nilson) ,Leonel Olimpio, Barrientos (acabado de chegar) Dinis e Crivellaro que viriam a ser emprestados só regressando posteriormente ao clube.
Cinco...e passaram apenas dois anos e meio.
Quando a actual direcção entrou em funções(Abril de 2012) a preparação da época seguinte levou a profundas transformações no plantel como é sabido.
Saíram muitos jogadores, alguns de referência, e entraram aqueles que foi possível fazer entrar.
Alguém ouviu RV queixar-se?
Não. Não ouviu.
Aceitou o que lhe deram e trabalhou de cara alegre(ás vezes sabe Deus...e sei eu algumas coisas) sempre com uma atitude positiva e uma lealdade inatacável aquilo que a direcção lhe dizia que tinha de ser.
Ganhou a Taça de Portugal.
Sabendo que a equipa que jogou a final já estava desfeita.
O ataque (Soudani-Baldé-Ricardo) ou estava todo vendido ou a caminho disso, Tiago Rodrigues idem, Adoua ia sair por não querer renovar e Alex, João Ribeiro, N'Dyaie por esta ou aquela razão também estavam de partida.
Já para nem falar de jogadores titulares como Defendi ou Toscano que já tinham saído em Janeiro de 2013.
Pelo caminho convocou,para jogos oficiais, 23 jogadores da equipa B doze dos quais jogaram efectivamente por períodos maiores ou menores de tempo.
Convenhamos que não é fácil.
Uma vez mais de cara alegre aceitou o plantel que lhe deram para esta época.
Jogou a supertaça com uma equipa debilitada, sem reforços que só chegaram depois, e não arranjou desculpas para a derrota.
E não era difícil fazê-lo.
De lá para cá o que se sabe.
Um bom campeonato em jogos fora, menos bom em casa, mas uma luta consistente pelos lugares europeus até chegar à fatídica janela de mercado de Janeiro em que perdeu de uma só vez um central titularissimo e a sua primeira opção para o lugar na impossibilidade (que se verificou algumas vezes) de esse titular jogar.
A par disso o Vitória foi o único candidato à Europa que não fez uma única contratação nessa época.
Alguém o ouviu queixar-se?
Não me parece.
Continuou com uma atitude positiva mas um discurso cada vez mais cauteloso quanto a objectivos por razões tão fáceis de compreender que me dispenso de as repetir.
Saltam á vista.
Façamos aqui um ponto de ordem:
Em dois anos e meio Rui Vitória teve, mas já não tem, entre outros os seguintes 23(um plantel...) jogadores:
Nilson-Adoua-Bruno Teles-Anderson Santana-João Paulo-Defendi-N´Dyaie-Freire-Abdoulaye-Alex-Pedro Mendes-Nuno Assis-João Alves-Toscano-William-Faouzi-Edgar-Maranhão-Targino-Ricardo-Soudani-Baldé-João Ribeiro.
Em dois anos e meio!
Sejamos claros: É uma brutal injustiça fazer de Rui o "Réu" desta crise de resultados.
Tem as suas responsabilidades é claro.
Porque umas vezes comete erros,outras faz opções que não se justificam, aqui e ali adopta estratégias de jogo que não resultam.
Como qualquer treinador.
Mas a verdade é que nunca teve a oportunidade de trabalhar com um plantel estável e estabilizado.
É um permanente "tapar de cabeça" descobrindo os "pés" ou vice versa.
Por isso sem querer "branquear" algumas responsabilidades de Rui Vitória no mau momento da equipa creio ser justo dizer que essas responsabilidades não o diminuem nem lhe retiram, do meu ponto de vista, o imenso crédito de que justamente desfruta junto da maioria dos vitorianos.
Até porque não se esconde e dá a cara semanalmente em defesa de estratégias e orientações que não são as suas mas aquelas que a SAD lhe determina.
Ou há alguém que acredite que um treinador jovem e ambicioso como RV é não gostaria de em cada oportunidade poder dizer(como Marco Silva do Estoril) que lidera uma equipa candidata à liga Europa e ao quarto lugar(ou mais do que isso) no campeonato?
Claro que gostaria.
Mas Rui Vitória é sensato e inteligente e por isso não o diz porque sabe que lhe faltam os meios para assumir, de caras, uma candidatura dessas.
E é tão solidamente leal à sua entidade patronal que assume sozinho o ónus de um discurso "antipático" e de uma estratégia que não é a sua.
E isso, desfavorecendo-o profissionalmente, apenas reforça a convicção que é um homem de carácter com quem se pode contar nos bons e especialmente nos maus momentos.
Depois Falamos
P.S: Com todas as atenuantes evocadas não deixo de considerar que com os recursos humanos ao seu dispor o Rui Vitória podia, aqui e ali, por a equipa a jogar um bocadinho melhor!
E tenho a certeza que ele sabe isso.