Ao longo de muitos anos de vida politica,
desportiva e essencialmente profissional tenho tido a oportunidade de trabalhar
em vários pontos do país conhecendo diferentes realidades e levando comigo a
minha “realidade” vimaranense e naturalmente vitoriana.
E tenho constatado, de há muitos anos a
esta parte e com confesso orgulho, que Guimarães e os vimaranenses suscitam por
todo o país alguma admiração, algum espanto e também aqui ou ali alguma
invejazinha mal disfarçada.
Porque toda a gente acha que nós em
Guimarães somos diferentes.
E então no que ao Vitória se refere somos
mesmo muito diferentes de qualquer outra comunidade.
Radicalmente diferentes diria.
E isso suscita-me, num tempo natalício em
que se deve fazer alguma pausa nos debates (não tantas como alguns querem bem
entendido...) e nas polémicas, uma pequena reflexão sobre aquilo que é e deve
ser o bairrismo no século XXI.
Começando pela ironia de considerar que
nos tempos presentes o bairrismo deve
ser algo quase antagónico do entendimento que normalmente se dava ao conceito e
que durante muitos anos foi uma espécia de trave mestra do conceito conforme
ele era entendido.
Tradicionalmente bairrismo entendia-se
como a exaltação dos valores da “terra”, fossem materiais ou imateriais, como a
glorificação dos seus naturais (quase numa perspectiva da pequena aldeia
gaulesa de Astérix) como a depreciação natural do que vinha de fora em
detrimento do que era nosso.
Hoje temos de ter do bairrismo uma
percepção diferente sob pena de ele em vez de ser uma marca distintiva se
tornar num factor que nos cerceie.
Numa sociedade global como aquela em que
vivemos seria verdadeiramente suicidário pretendermos fechar-nos em volta de
nós próprios, ostracizar o mundo que nos rodeia, e alimentarmo-nos do mito da
autosuficiência.
Pelo contrário.
Do antigo bairrismo temos de saber
aproveitar o amor à terra, o orgulho de sermos de Guimarães, o papel único que
esta comunidade tem na História de Portugal.
E depois competir.
Competir com outras realidades, com outras
marcas e produtos, com outros destinos turísticos e de negócios, com outros
municípios de tamanho equivalente ao nosso.
Sabendo que umas vezes vamos ganhar e
outras perder.
Intuindo que perderemos mais vezes do que
ganharemos antes de ganharmos mais do que perdermos.
Mas perdendo ou ganhando o essencial é
sermos capazes de competir.
Com os nossos argumentos, o nosso
sentimento muito próprio, a mais-valia extraordinária que é o sabermos que em
nós começou esta aventura única chamada Portugal.
É por isso que é bom e é único ser de
Guimarães.
E essa é uma naturalidade que não trocava
por nenhuma outra.
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