O meu artigo desta semana no zerozero.
Portugal é um país de futebol!
Bastará atentar na comunicação social, na atenção que os portugueses
dão às modalidades por contraponto com o futebol, nas paixões clubistas a
reboque do desporto rei para perceber que tal como noutras áreas da nossa vida
comunitária também no desporto o nosso país apresenta carências em termos de
cultura.
Neste caso cultura desportiva.
E nem me estou a referir à paranóia dos chamados” grandes”, matéria em
que somos simplesmente deprimentes, mas apenas à forma como em Portugal se
olham as modalidades que não o futebol.
O que é, no mínimo, estranho se analisado a outra luz que não a falta
de cultura desportiva de que enfermamos desde sempre também por força da
Educação que não nos foi dada durante muitos anos nessa matéria.
E é estranho porque sendo Portugal um país pequeno em população, sem a
base de recretuamento de outros paises em termos desportivos e com boa parte
dessa captação virada para o futebol, ainda assim é um país que tem produzido
campeões noutras áreas que não a futebolistica.
E sem grande esforços de memória, nem tão pouco a preocupação de ser
exaustivo, é fácil de recordar alguns nomes que nas suas modalidades atingiram
o mais elevado nível e venceram grandes competiçoes internacionais.
Começando por aquele que considero o maior de todos.
Carlos Lopes.
Um grande campeão, com títulos olímpicos mundiais e europeus, que
marcou uma era no atletismo e foi o último atleta europeu a conseguir fazer
frente aos africanos nas provas de fundo e meio fundo.
Fazer frente e ...vênce-los.
Mas também Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Fernando Mamede, Naíde Gomes e
Nélson Évora (o único dos citados ainda no activo) são nomes maiores no
atletismo português.
Tal como no ciclismo se recordará sempre Joaquim Agostinho, um grande
campeão, que levou bem alto o nome de Portugal nas grandes provas de ciclismo e
que só não terá levado ainda mais longe o seu palmarés porque começou tarde e
tinha uma feitio muito próprio que o levava a amuos que prejudicavam a sua
performance desportiva.
E no hóquei em patins, modalidade em que Portugal esteve sempre na
elite mundial com inúmeros títulos conquistados a nível de selecção e clubes, em
que para História se recordará sempre as grande equipas e os grandes jogadores
como António Livramento, Fernando Adrião ou Vitor Hugo entre tantos outros.
Ou no ténis de mesa em que nos últimos anos Portugal tem brilhado ao
mais alto nível, ou no hipismo e na vela com títulos internacionais, ou nas
modalidades como o judo, jiu jitsu, karate e outras em que o nosso país tem
campeões do mundo.
Portugal é, desportivamente falando, muito mais que futebol.
E é mais que tempo de os portugueses reconhecerem isso e darem a essas
modalidades não futebolísticas a atenção, o apoio e o carinho que elas tanto
tem feito por merecer e que em tantas ocasiões lhes tem sido negado.
Até porque as modalidades não são
adversárias do futebol.
Nalguns casos e nalguns clubes como Benfica, Porto e Sporting foram as
modalidades (essencialmente o ciclismo) que ajudaram a que tivessem uma
dimensão nacional, e adeptos em todo o país, nos tempos anteriores à televisão
em que para muitos ver as camisolas dos principais clubes era só quando a Volta
a Portugal lhes passava à porta.
Os tempos , por exemplo, de José Maria Nicolau e Alfredo Trindade.
E por isso considero que o ecletismo deve ser a imagem de marca dos
grandes clubes do desporto português.
Que não são apenas três, como por aí se julga, mas bastantes mais como
sabe qualquer pessoa que não tenha do desporto uma visão condicionada pelas
palas do futebol ou pelos enormes interesses que gravitam em seu redor.
Porque o ecletismo traz praticantes para o clube, traz simpatizantes
para a sua massa adepta, oferece às comunidades opções de prática desportiva e
retribui o muito que essas comunidades dão aos clubes em termos de apoios
diversos.
É evidente que o ecletismo deve ser balizado por uma indispensável
racionalidade económica (para disparates já bem basta o futebol) ,sob pena de
ser inviável, mas se as coisas forem bem feitas e por gente que saiba da poda é
perfeitamente viável que os principais emblemas do desporto português não
figurem apenas nas camisolas do futebol.
Porque um clube ser eclético,e cada um saberá que dimensão o pode ser,
é uma questão de inteligência, de estratégia desportiva e de crescimento
sustentado do próprio clube e do número de adeptos.
É pena que alguns não percebam uma coisa tão simples!