quarta-feira, abril 29, 2015

Profissionalismo

Não é a minha Liga favorita.
Mas vem em segundo lugar logo após a fascinante Liga inglesa que é, do meu ponto de vista, a melhor do mundo em competitividade, organização e seriedade.
E também numa forma muito própria de olhar o futebol que é impossível encontrar fora das Ilhas Britânicas.
Num aparte devo dizer que percebo bem o fascínio de José Mourinho por treinar em Inglaterra.
Pois a liga espanhola, da qual fazem parte dois dos maiores clubes do mundo e onde jogam os dois melhores futebolistas mundiais da actualidade, está a entrar numa fase de decisões como acontece,aliás, com muitas outras Ligas europeias.
Decisões sobre o titulo, sobre quem vai à champions e à liga Europa, decisões sobre quem desce de divisão.
Três dos seus clubes (Barcelona, Real Madrid e Sevilha) estão ainda nas meias finais da liga dos campeões e da liga Europa.
Barcelona e Atlético de Bilbau ainda tem de disputar entre si a Taça do Rei.
E isto obriga a um apertar do calendário.
Um apertar de tal ordem que entre a passada sexta feira(24/4), com um Córdoba-Atlético de Bilbau, e até à próxima 2ª feira (4/5) com um Almeria-Celta de Vigo se vão disputar jogos da Liga durante onze dias consecutivos.
Sem lamentações,sem queixas, sem invocarem isso como pretexto para resultados menos favoráveis ou exibições menos conseguidas.
Com estádios cheios, emoção a rodos, espectáculo garantido.
Em suma futebol profissional.
Ao mais alto nível.
Aquele nível que gera paixões, atrai patrocinadores, rentabiliza a indústria futebol tal como ela tem de ser rentabilizada.
Depois Falamos.

7 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Falando de profissionalismo !

Acabei de ler pela terceira vez, o terceiro volume de "Memorias do Fogo": o século do vento, de Eduardo Galeano, o louco do futebol. Por vezes é bom de repetir a leitura dum livro que é sempre actual.

Como me situei sempre à esquerda, desde a minha juventude, comecei a apreciar este autor sul-americano quando descobri o seu livro: " As veias abertas da América Latina", onde o autor se diz orgulhoso de ai ter nascido, neste continente de merda, como escreveu, esta maravilha, neste século de vento. Este Homem é um monumento da literatura militante e popular da América Latina.

Homem de esquerda, passou a maior parte da sua vida no exílio. A ditadura uruguaiana primeiro, a argentina depois, escorraçaram este escritor humanista da "sua" América Latina.

Em 1985 regressou a Montevideu, onde tinha nascido, após o regresso da democracia. Foi lá que acabou de fintar a vida, aureolado da glória dum defensor verdadeiro do povo, um "avançado marcador de golos" do humanismo.

Talvez isto seja apreciado pelo meu Amigo Luís Cirilo: Eduardo Galeano é um dos escritores mais loucos do futebol no mundo!
Uma piscadela de olhos à sua declaração de amor ao futebol aparecida em 1995, um amor sem fronteiras dos belos textos e do desporto-rei, o magnifico "O Futebol, Sombra e Luz".:

Que o Amigo Luís Cirilo me desculpe de ocupar este espaço, mas este livro projecta-nos na estatura do homem, a sinceridade do seu militantismo nunca desmentido nesta lama espessa onde se debatem os danados do imperialismo e do capitalismo que transparece no seu amor imoderado pelo futebol, desporto popular por excelência. Algumas frases valem mais que mil desenvolvimentos. A palavra ao artista:


Freitas Pereira

Joaquim de Freitas disse...

" Na Alemanha morria a espectacular "joaninha" de Volkswagen, enquanto que na Inglaterra nascia o primeiro bebé de laboratório e que o aborto era legalizado na Itália. Ouvia-se falar das primeiras vítimas do Sida, maldição que não tinha ainda este nome. As Brigadas Vermelhas assassinavam Aldo Moro., os Estados Unidos comprometiam-se a retroceder ao Panamá o canal que lhes tinham roubado no início do século. De fonte bem informada, anunciava-se em Miami a queda iminente de Fidel Castro, nalgumas horas. Na Nicarágua, a dinastia dos Somoza vacilava, no Irão vacilava a dinastia do Shah. Em Panzos, os militares da Guatemala metralhavam agricultores. Na Bolívia, Domitilia Barrios e quatro outras mulheres das minas de estanho começavam uma greve da fome . A ditadura caía. Mas em contrapartida, a ditadura Argentina tinha boa saúde, e para o demonstrar organizava o 1° Campeonato do Mundo de Futebol. Doze países, no estádio municipal de Buenos Aires, o general Videla decorava Havelange. A alguns passos de lá funcionava ,com pleno rendimento ,o Aushwitz argentino, o centro de tortura e exterminação da Escola de Mecânica da Marinha. E alguns km mais longe os aviões militares lançavam ao mar prisioneiros vivos, comunistas, socialistas e democratas. " O mundo podia ver enfim o verdadeiro rosto da Argentina, felicitava-se assim o presidente da FIFA perante as câmaras da televisão. (Isto faz-me pensar em Platini pedindo aos brasileiros revoltados de estar sossegados durante o último Campeonato).

Henry Kissinger, convidado especial anunciava: Este país tem um grande futuro a todos os níveis. E o capitão da equipa de Alemanha, Berti Vogts, que deu o pontapé de abertura, declarava alguns dias mais tarde: -A Argentina é um país onde a ordem reina. Não vi nenhum prisioneiro político.

Se voltei a ler o livro de Galeano, é que, com a elegância dum marcador de golos patenteado, Eduardo Galeano fez o seu Adeus no dia 13 de Abril 2015. Dois dias antes da cimeira de Panamá onde Obama apertou a mão de Castro!

O assobio final duma partida que se prolongará. Uma partida que Galeano jogou como um grande campeão, utilizando as palavras como passes curtos ou transversais, mas sempre decisivos, na direcção dos povos sul-americanos, e (quem o pode negar?) em direcção de todos os danados da terra.

Freitas Pereira

PS)Mil desculpas pelo espaço, Caro Amigo !

Joaquim de Freitas disse...

Errata : 11° Campeonato do Mundo de Futebol e nao 1° .As minhas desculpas.
Freitas Pereira

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
Não tem nada que pedir desculpa.
Por um lado porque sabe bem o quanto aprecio os seus comentários e por outro porque nos traz o futebol visto sobre outra perspectiva.
A de um intelectual que adorando futebol também sabia diferenciar a paixão desportiva do aproveitamento politico que dele é feito em tantas e tão diversas circunstâncias.
Conheço o autor(não li os livros que refere mas espero fazê-lo))e o excerto que reproduziu é bem demonstrativo da forma como ele olhava o futebol a e sua inserção social.
E como o futebol( e a sociedade) precisam de olhares diferentes...

Joaquim de Freitas disse...

Caro Luis Cirilo

A sua ultima frase é muito importante. Que todos a compreendam, porque isso é a democracia.

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
Mesmo para quem, como eu, milita num partido político é importante perceber que há sempre formas diferentes de olhar para um mesmo assunto.
Porque os dogmas, as visões "únicas", as verdades "oficiais" nada tem de democrático.
E nos tempos que vivemos é forçoso reconhecer que vivemos em democracias frágeis e em que as tentações autoritárias espreitam a cada esquina

Joaquim de Freitas disse...

Estamos perfeitamente de acordo.