quinta-feira, setembro 01, 2011

Direitos e Deveres

Foto: http://gloriasdopassado.blogspot.com/

Publiquei este artigo no jornal "Povo de Guimarães

Descia-se a rua Francisco Agra ou percorria-se a rua Alfredo Pimenta até chegar á ponte de santa Luzia onde desembocava a antiga estraga Guimarães-Braga.
Depois, poucas centenas de metros acima do lado esquerdo, encontravam-se uns portões de madeira com um telhado do mesmo material a fazer lembrar, vagamente, alguns estádios ingleses anteriores á II guerra mundial.
Por aí se entrava na “Universidade da Amorosa” onde sucessivas gerações de atletas aprenderam a jogar futebol e sucessivas gerações de adeptos aprenderam a gostar do Vitória.
Utilizada durante 19 anos consecutivos ( 1946-1965) como “casa” do Vitória para as suas participações em campeonatos regionais e nacionais (e mantendo-se até 1974 como casa da formação vitoriana) foi lá que assisti ao meu primeiro jogo do Vitória que foi precisamente o ultimo lá disputado para o campeonato nacional.
O adversário era o Porto e o Vitória venceu o jogo.
Nesses portões estavam os …porteiros a quem os sócios mostravam o cartão e os não sócios o bilhete respectivo.
Quando em 1965-1966 o Vitória se mudou para o então municipal, muito mais amplo e com muitas mais entradas mas onde se via muito pior o jogo devido á distância das bancadas, o sistema de entrada manteve-se.
Pese embora ter aparecido o então conhecido como o “bilhete para o tijolo”, promovido pela saudosa comissão de fundos para um Vitória maior, que era uma forma de o clube fazer uma receita adicional que dava sempre muito jeito num tempo em que não havia televisões a pagar, publicidade nas camisolas e por aí fora.
Era um tempo em que ser sócio dava direito a ir aos jogos (e em quatro deles pagava-se “dia do clube”), aos treinos, a participar nas assembleias-gerais e ponto final.
Sendo que os jogos eram vistos de pé, quando chovia, ou sentados em bancadas de pedra ou madeira.
Nada que se parecesse com os confortos que hoje o estádio D. Afonso Henriques proporciona.
E ninguém reclamava.
Os tempos andaram.
E á boleia do mundial de juniores de 1991 e do Euro 2004 o Vitória modernizou extraordinariamente o seu estádio, fazendo dele um dos melhores do país, e a par disso construiu um excelente complexo desportivo e um pavilhão com óptimas condições para a prática de várias modalidades.
Hoje os sócios continuam a pagar a sua quota.
Independentemente de comprarem lugar anual tem uma cadeira com conforto mínimo onde assistirem aos jogos e bancadas cobertas na quase totalidade do estádio.
Os detentores de lugar anual não pagam bilhete para assistirem aos jogos contrariamente ao que acontece em muitos outros clubes.
Tem um pavilhão onde assistem, ora de borla ora pagando um bilhete simbólico, a jogos de primeiríssimo nível de voleibol e basquetebol com as equipas do clube a disputarem primeiros lugares dos campeonatos e taças de Portugal.
Nos vários relvados do complexo podem assistir a todos os jogos que quiserem dos escalões de formação sem pagarem um cêntimo por isso.
Digamos que face ao mesmo dever (pagarem a quota) os sócios tem muito mais direitos e regalias.
Infelizmente há alguns (poucos) que acham que esses direitos ainda não chegam.
E que onze euros/mês lhes dá também o direito de insultarem dirigentes, cuspirem em treinadores e baterem nos jogadores!
Como se não existissem formas civilizadas, e até estatutárias, de exprimirem o seu descontentamento perante a actual situação da equipa.
Curiosa interpretação não só dos seus direitos como daquilo que é ser vitoriano.
Eles provavelmente, mais alguns admiradores do mundo “facebookiano” e da blogosfera, acharão que fizeram uma grande proeza e que deram mostra de um vitorianismo a toda a prova.
Até a propósito desse acto, que envergonha todo um clube, achar-se-ão no direito de proclamar aquela frase tão estafada quanto a perder sentido todos os dias do “Somos Únicos”.
Estão no seu direito.
Como o Vitória, todo ele, tem o dever de separar as águas e dizer a esses pseudo vitorianos que estão a mais no clube.
Porque aquilo que fizeram nada tem a ver com o prestígio, a História e a dignidade de uma instituição chamada Vitória Sport Clube.

14 comentários:

benachour10 disse...

Não podia concordar mais com este artigo.Parabens!

Manuel Aspinall disse...

Boas tardes, caro Luís Cirilo.

Concordo em absoluto com o texto que escreveu.

Apesar de ser do conhecimento geral o relativo descontentamento da massa associativa face aos mais recentes resultados da equipa, não há nada que possa servir de desculpa este genero de atitudes.

Coisas deste género são próprias de débeis mentais, de animais desprovidos de qualquer capacidade de raciocínio.

Pessoas destas, cuja paixão pelo clube é, no mínimo , discutível, devem imediatamente ser identificadas, processadas judicialmente e verem a sua condição de associado revista.

Elementos deste calibre não cabem na família Vitoriana, pois não contribuem minimamente para o seu engrandecimento ou bom nome.

Depois admiram-se quando certos jogadores preferem outras paragens. Quem, no seu perfeito juízo, quer ver a sua integridade física, e dos seus, ameaçada?

Não cabe na cabeça de ninguém, e estes imberbes e párias também não deveriam caber no seio da nossa família...

Anónimo disse...

Caro Sr. Luis Cirilo

Parabéns pelo excelente texto.
Julgo que sou um pouco mais velho que o sr., por isso, aquilo que descreveu em relação ao velhinho Amorosa, é quase uma fotografia daquilo que era o Vitória antigamente.
Lembro a propósito, que nesse tempo também tínhamos uma excelente equipa de Hoquei em Patins, onde também por vezes era utilizado para sessões de luta livre.
A paixão pelo futebol naquele tempo era diferente, mas também se viram cenas ás vezes pouco edificantes, principalmente quando se defrontava os nossos eternos rivais.
Os tempos eram outros, o dinheiro não abundava jogava-se mais pelo amor à camisola e havia acima de tudo respeito pelos adversários.
Também tal como o sr., fiquei chocado com o comportamento de alguns indivíduos que se intitulam de bons vitorianos, mas que foram uns autênticos energúmenos que deviam ser banidos dos recintos desportivos.
Os verdadeiros vitorianos não se revêm nem aprovam, estou certo, estes actos nada edificantes.

S. Guimarães

Fábio Silva disse...

Caro Sr. Luís Cirilo, sou um adepto sócio do vitória com 20 anos, aquilo que se passou no complexo não deveria ter sucedido, isso estamos todos de acordo, mas o que aqueles adeptos "VITORIANOS" queriam fazer era demonstrar o seu desagrado de uma forma mais visível, mas nunca, NUNCA usar a violência, e sinceramente não vi nenhuma agressão ao jogador em causa! É verdade que como adeptos pagamos 11€ por mês para ver a nossa equipa a jogar, não nos dá o direito a insultar nem a agredir, mas diga.me, há quanto tempo não vê um jogo do nosso vitória???? Não praticam futebol, não mostram garra empenho nem dedicação pelo símbolo que têm ao peito! E nós não pedimos o dinheiro de volta!
Fauzi diz hoje que não tem condições para jogar no vitória depois daquilo que se passou, eu pergunto.me ele alguma vez mostrou categoria para jogar no vitória?

Os adeptos agiram mal, mas serem irradiados??? Quando são os jogadores s falhar? passa tudo em branco?

Por fim dou os meus parabéns ao Sr presidente do meu clube "e esse sim envergonha o vitória" pela prontidão que teve em chamar selvagens aos adeptos do vsc, qd esses mesmos adeptos q acompanham a equipa para todo lado são atacados demora uma semana para abrir a boca, se chegar a abrir, qd o clube que preside é roubado a olhos vistos e ele não se prenúncia!
Afinal o mal do vitória agora são os adeptos....

APinto disse...

Por vezes, e infelizmente são cada vez mais, sinto vergonha de dizer que sou Vitoriano.
É bom recordar, que também na "blogosfera", andam por aí uns ditos vitorianos, que apenas sabem "malhar" no clube, o que convenhamos, vai quase dar ao mesmo.
Ainda bem que este texto foi passado para o "Povo".
Parabéns.

Pinto

Anónimo disse...

Tá mais que na hora, de unir a (verdadeira) familia Vitoriana.
Deixemos os insultos, os apupos os assobios, e até os "lencinhos" para outros.
APOIO, tem que ser a palavra de ordem para sempre.
Parabéns pelo texto.
Vinte valores.

Sonho Vitoriano!!! disse...

Pena é que, pessoas como Luis Cirilo, sejam uma espécie em vias de extinção no nosso clube.
Enquanto vitoriano gosto de aprender e de saber sempre mais sobre o nosso Vitória e nesse aspecto este artigo é um verdadeiro tesouro. Mas infelizmente são cada vez menos as pessoas que me podem falar assim do Vitória. Infelizmente duas das grandes referências que tinha nesse sentido, Jorge Folhadela e Custódio Garcia, já cá não estão. O que só faz mesmo de Luis Cirilo um vitoriano como poucos.
Quanto ao que diz sobre os bárbaros que infelizmente agrediram jogadores estou totalmente de acordo.
Peço-lhe só que vá deixando, no blog, de quando em vez lições sobre o Vitória, como esta que aqui nos deixou.

Anónimo disse...

Eu,ao contrário do Sr,Pinto, tenho orgulho de dizer em toda a parte que sou Vitoriano.
Que o que se passou é vergonhoso... isso é, mas passa-se em todo o lado. Em toda a parte há selvagens. Viva o Vitória.

Anónimo disse...

Boas Dr.
Excelente artigo. Concordo quase em absoluto com tudo que lá escreveu. Apesar de ser mais novo ainda tenho algumas recordações da Amorosa embora muitas delas passadas em história que o meu falecido pai me contava. Bons tempos.
Agora os tempos são outros e é bem verdade quando diz que por onze euros mês possuímos outras condições como sócios comparativamente com o passado. Embora não ache demasiado cara a quota mensal devo lembrar que é das mais caras da superliga ( porto, sporting, benfica, braga ) ou até a mais cara. Por outro lado teremos "as cadeiras" mais baratas.
Regressando ao tema "quente" da invasão do complexo, parece-me que está este demasiado empolado. Num passado recente já assistimos a bem pior aquando da descida de divisão. Aí sim assistimos a situações graves como a que se passou à porta do hotel de Guimarães com o Antchouet e alguns sócios do Vitória tendo estes chegado a vias de facto. Não foi o caso do sucedido no complexo e volto a frisar que existe um vídeo no youtube, vídeo este de uma televisão nacional, onde se pode apreciar tudo o que se passou. Para além da reprovável e condenável invasão mais não ouve que uma mais acesa troca de palavras com alguns empurrões à mistura. Vejo nesse vídeo muitos mas muitos jogadores calmíssimos, vejo Nuno Assis a brincar, sim a brincar e a rir com alguns deles, vejo o Pedro Mendes com toda a calma do mundo a pedir que saiam dali. Na zona de mais confusão o que se vê é um adepto a tentar confrontar alguns jogadores e vê-se o Sr. Faouzi a responder com veemência e a insistir nessa veemência pelo que é afastado por alguns companheiros de equipa. Pelo que se vê nas imagens só o Sr. Faouzi se insurge com tal comportamento. Todos mas todos que se vêm nas imagens estão calmos à excepção do Sr. Faouzi. Pelos vistos serviu-lhe a carapuça ou será que o resto do plantel do Vitória é um bando de meninos cobardes que tiveram medo da invasão e não responderam??? Ou será que são inteligentes e até percebem a frustração dos adeptos neste momento difícil??? Eu opto pela segunda. Pelos vistos o Sr.Faouzi está muito ofendido. Pois devo dizer-lhe que também eu estou ofendido pelas figuras que ele faz dentro do campo, pois para ele lá andar a fazer o que mais gosta eu, como todos nós, vou pagando.
Peço a todos que aqui comentam e a si Dr. Cirilo que vejam essas imagens e concluam por vocês próprios. Esta é a minha visão e entendimento daquilo que se passou no complexo.
Triste é esta pseudo direção não ser tão célere a criticar outras situações bem graves também que se vão acumulando em torno do Vitória, ou seja, faltas de respeito como a que aconteceu no sorteio da liga com a troca de nome do nosso Vitória. Nessas e noutras ninguém se insurge, ninguém reclama, ninguém se indigna. E como essa muitas outras.
Por isso caro Dr. Cirilo que fique claro que condeno veementemente o que se passou no complexo ou qualquer outro acto do género mas estou em perfeito desacordo consigo quando defende a expulsão de alguns responsáveis pelo sucedido de sócios do Vitória. Em todo o resto, aliás como quase sempre, estou em perfeita sintonia consigo e com as suas ideias.

Abraço
Jorge Nuno Folhadela

luis cirilo disse...

Caro Benachour10:
Obrigado. É importante serenar a familia vitoriana.
Caro Manuel Aspinall:
Eu não ponho em causa que os autores dos desacatos no treino gostem do Vitória.
Só que gostam de uma forma errada que carece de uma pedagogia firme para evitar que estes acontecimentos se repitam.
Caro S.Guimarães:
Lembro-me bem do rinque do hóquei,junto aos balneários,mas nunca vi o Vitória disputar essa modalidade. Devo dizer que tenho verdadeiras saudades do campo da Amorosa onde passei muitas manhãs de domingo e tardes de sabado a ver jogos dos escalões de formação e das reservas. QUanto aos incidentes foram lamentáveis e espero que não se repitam. As pessoas tem de apreder a controlas emoções.
Caro Fábio:
Há algo em que estamos todos de acordo. Aquilo não devia ter acontecido. E acredito que os seus autores até já estejam arrependidos depois de serenarem. Acho importante que a calma regresse ao clube.
Caro A Pinto:
Vergonha de ser vitoriano isso nunca! De alguns actos que não prestigiaram o clube todos temos vergonha.
Caro Anónimo:
Partilho da sua ideia que acho muito sensata.é tempo de unir o clube e ajudá-lo a sair desta classificação que nos preocupa.
Caro Sonho Vitoriano:
Muito obrigado pelas suas palavras que são um verdadeiro estimulo para quem gosta de escrever sobre o nosso clube. Creio que há muitos vitorianos como eu e continuará a haver porque isto passa de pais para filhos e assim sucessivamente.O meu avô paterno quando faleceu era o sócio nº 20 do Vitória(guardo religiosamente o seu cartãso)por isso já perceberá de onde vem o meu vitorianism.
As duas pessoas que citou,saudosos amigos que nos deixaram tão cedo,foram de facto dois grandes vitorianos. Com eles aprendi muito sobre o nosso clube. E com Lourenço Alves Pinto e Hélder Rocha também.
Caro Anónimo:
Eu também tenho um orgulho imenso em ser vitoriano.MAs não desculpo actos praticados pelos nossos adeptos por causa de adeptos dos outros também os cometerem.
Caro Jorge Folhadela:
Creio que o importante,agora, é fazer esses adeptos ( e outros que se revejam nessas atitudes)perceberem que agiram mal e que colocaram o Vitória numa posição que não nos prestigia nada.
Eu percebo a indignação,percebo o desejo de ver a equipa corresponder ás nossas expectativas,percebo tudo isso.
Mas as pessoas não podem achar-se no direito de fazerem justiça pelas próprias mãos. Quando se chega ao ponto d eperseguir um jogador até á sua casa estaremos de acordo que estamos muito para lá do admíssivel.
Eu já vi as imagens da RTP.
Podemos dar-lhe a interpretação que quisermos. De maior ou menos gravidade. Uma coisa é certa: dentro do relvado estava gente que não tinha nada que estar lá. E a questão é essa!

Gonçalo Capitão disse...

Muito bem, Luís!

luis cirilo disse...

Caro Gonçalo:
Obrigado.

josefernandes disse...

Joséfernandes,
Estive presente no treino com os meus filhos e fiquei estupefacto.
O meu filho de 6 anos ficou horrorizado.
No meu entender os atletas foram literalmente atirados às feras.
Nos minutos que antecederam o treino foram arremessadas várias pequenas bombas, bem audíveis e fumarentas, que indiciavam algo.
Ninguém do “staff” do Vitória se terá apercebido? Duvido.
Os capitães e o director desportivo deveriam ser os primeiros a entrar no campo de
Treinos.
Sabendo-se hoje, que Faouzi já teria sido “incomodado” juntamente com a sua família,
Porque foi dos primeiros a entrar?
Falta de prudência.
Concluindo: nojento o comportamento daqueles, poucos, pseudo Vitorianos.
Cobarde e triste a atitude da direcção, que não dão a cara, em ambientes hostis.
Limitando-se a comunicados.

luis cirilo disse...

Caro José Fernandes:
Espero,sinceramente,que toda a gente tenha aprendido com este momento deplorável passado no nosso clube.
Para que nunca mais se repitam cenas daquelas.
De facto há aspectos na organização do Vitória que tem de ser melhorados.