O início de uma nova época desportiva significa sempre para os adeptos e simpatizantes dos clubes um tempo de esperança, do renovar de expectativas, do sonhar que a época iniciada vai ser melhor que a época terminada porque há sempre mais conquistas para fazer, mais titulos e troféus para alcançar, melhores classificações para obter.
E isso é transversal a todos os clubes independentemente do escalão em que se encontram e das competições que disputam.
Afinal a magia do futebol está muito na capacidade de sonhar dos adeptos!
No Vitória não é diferente e, bem pelo contrário, sucessivos anos de desilusões temperados por um ou outro que corre melhor apenas contribuiram para reforçar a capacidade de sonhar dos adeptos como lenitivo para consecutivos fracassos desportivos e não só.
A que acresce o facto de tendo uma massa associativa fervorosa e fiel esta se encontrar geralmente unida em torno das equipas do clube mas de forma igualmente geral desunida perante quem gere a cada momento a instituição.
É assim desde 2004 no corolário do processo que levou á saída de António Pimenta Machado, que foi o melhor e o mais carismático dos presidentes em cem anos de História, deixando feridas profundas no seio na massa associativa que infelizmente não só nunca sararam como periodicamente se agravam com alguma intensidade.
Em março de 2022 o Vitória teve eleições que como é tradicional no clube foram disputadas e a elas concorreram três listas e três projectos naturalmente diferentes.
O então presidente Miguel Pinto Lisboa , depois de um mandato muito complicado essencialmente por causa da pandemia, recandidatava-se com um projecto sólido, bem estruturado e recolhendo a experiência dos erros e acertos do mandato concluido.
O antigo jogador e “capitão” de equipa do Vitória, Alex Costa, apresentava também ele uma lista com ideias interessantes, um discurso coerente e bem construido e aproveitando uma certa moda de antigos jogadores casismáticos assumirem a presidência dos seus clubes de que Rui Costa no Benfica é o exemplo mais evidente no futebol português.
E António Miguel Cardoso, candidato derrotado po Pinto Lisboa em 2019, apresentava nova candidatura sustentada por um conjunto de ideias e projectos muito interessantes, com uma lista de candidatos atractiva e beneficiando de desde a derrota de 2019 ter estado em permanente campanha eleitoral através de figuras proeminentes da sua lista e de alguns apoiantes especialmente reconhecidos na família vitoriana.
E com a preciosa ajuda de alguns que deviam a si próprios a isenção mas foram agentes activos na promoção de António Miguel Cardoso e no desgaste permanente de Miguel Pinto Lisboa.
Foi pois sem grande surpresa que António Miguel Cardoso venceu.
E ao vencer, como qualquer dos seus antecessores, tornou-se presidente de todo o Vitória ou seja dos que nele votaram e dos que votaram nos outros dois candidatos como é normal acontecer.
Como também é normal que não pudesse esperar o mesmo apoio inicial de todos porque ser líder não é apenas vencer eleições mas saber na sequência delas unir o clube e pelo exemplo e pela acção tornar-se uma referência para os adeptos.
E a liderança é indissociável de êxitos desportivos por um lado mas também do cumprimento de promessas eleitorais por outro correspondendo assim ás expectativas de quem nele votou e convencendo os que votaram noutras candidaturas.
Não admira , portanto, que enquanto os seus apoiantes subscreviam todas as suas decisões ( e muitos mas já bem longe de serem todos continuam a subscrever) já os apoiantes de Pinto Lisboa e Alex Costa olhavam para a gestão de António Cardoso com o natural cepticismo de quem não acreditando nas promessas eleitorais não via também razões plausiveis para mudar de opinião face à gestão praticada.
As coisas são o que são.
E hoje quando se olha a realidade do Vitória ao longo do que tem sido este mandato que vai praticamente a meio só mesmo aqueles cuja Fé é tão inabalável quanto dogmática podem mostrar-se satisfeitos com o que se vê, e com o que se prevê, porque todos os outros tem sobejas razões para se sentirem, no mínimo, desconfortáveis com o panorama.
Alguns exemplos.
A primeira equipa conseguiu o mínimo dos mínimos ficando em sexto lugar atrás do Arouca, a quem financiamos a época comprando-lhe André Silva, depois de perder o quinto lugar por exclusiva responsabilidade própria.
A equipa B desceu à IV divisão onde jamais uma equipa do Vitória tinha competido depois de uma época cheia de erros que foram da escolha dos vários treinadores à constituição do plantel.
A competitividade dos escalões de formação caiu brutalmente com as equipas a deixarem de disputar titulos para algumas delas se reduzirem à luta pela não descida.
A parceria com a Vsports, herdada da gestão de Miguel Pinto Lisboa à falta de qualquer outra solução financeira, tornou-se num flop desconhecendo-se qual é o actual estado da mesma e quais as responsabilidades do Vitória perante a empresa mas sabendo-se que não cumpriu nenhum dos pressupostos que levaram à sua efectivação depois de um processo que não deixou boas recordações face ao que foi dito, desdito e não dito.
A área financeira registou até ao momento a saida de vários responsáveis desde o vice presidente até ao director financeiro o que naturalmente preocupa face ao desconhecimento das razões para tantas demissões e ainda por cima em sector tão sensível.
O lugar na direcção da Liga, obtido na gestão anterior, foi agora perdido sem se conhecerem explicações para o facto.
A gestão financeira tem vivido exclusivamente da venda de jogadores herdados das gestões de Miguel Pinto Lisboa e Júlio Mendes dado não se vislumbrar qualquer outra solução e registando-se o facto de a actual SAD ainda não ter conseguido vender qualquer jogador por ela contratado.
A obra do mini estádio, essencial para as equipas de formação e particularmente para a equipa B, continua parada desconhecendo-se prazo para a conclusão.
A informação sobre a gestão do clube, que as promessas eleitorais garantiam como permanente e exaustiva, tem sido o contrário com imensa falta de informação e um constante diferimento da mesma para datas posteriores.
A revisão estatutária, convictamente prometida em campanha eleitoral e que eu próprio no último ano já ouvi a vários responsáveis estar prestes a avançar, continua parada.
Num dos poucos sucessos da época (a par da subida de divisão do andebol), a conquista do tetra campeonato em pólo aquático a direcção perdeu uma boa oportunidade de dar o exemplo de interesse e apoio às modalidades não estando presente ao menos no dia da conquista do titulo.
Num clube em que o discurso oficial, vá-se lá saber o porquê (mas já lá vamos), é o das dificuldades financeiras e do não haver dinheiro para nada é difícil perceber que o estágio de pré temporada tenha sido, sem qualquer necessidade, numa das estâncias turísticas mais caras do Algarve.
E a concluir estes exemplos vamos então dar aquele que neste momento está mais na ordem do dia.
Sabe-se que o Vitória, como todos os clubes, atravessou problemas devido á pandemia e a outras causas já muito debatidas e escalpelizadas nas redes sociais vitorianas e não só.
Mas é cada vez mais difícil perceber esse discurso, e as suas consequência práticas consubstanciadas na venda de jogadores abaixo do seu valor (algo que na campanha eleitoral tanto se criticava à direcção em funções e se prometia jamais voltar a acontecer até porque haveria uma almofada financeira que o evitaria...) , quando se sabe que em pouco mais de um ano a actual SAD na venda dos tais jogadores herdados das gestões de Miguel Pinto Lisboa e Júlio Mendes já encaixou mais de 50 milhões de euros (ainda agora mais 600.000 da venda de Otávio) o que mesmo descontando as generosas comissões a multiplos empresários e outras despesas dá certamente um total liquido acima de 40 milhões de euros o que é completamente incompatível com o discurso da pobreza.
E é por tudo isto, e outras coisas mais que seria fastidioso referir nesta oportunidade, que se pode considerar que ano e meio após ganhar as eleições o presidente António Miguel Cardoso está muito longe de conseguir unir a massa associativa vitoriana e mais longe ainda de ser o líder de que o Vitória tanto precisa.
Como atrás foi dito as coisas são o que são.
E aqueles vitorianos que legitimanente apoiaram a lista vencedora tem a responsabilidade primeira de exigirem que esta rectifique o percurso, mude de postura e cumpra as promessas eleitorais ao invés de alguns andarem mais preocupados em contestarem os que discordam deste estado de coisas do qual não tem a mínima responsabilidade porque não foram eleitores da actual direcção ao contrário deles.
E não duvido que a responsabilidade, em vários âmbitos, vai ser uma questão central dos próximos meses e anos do Vitória.
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