Já todos sabemos que tudo aquilo que diga respeito a Cristiano
Ronaldo, seja dos golos que continua a marcar em doses industriais seja da sua
vida privada passando por uma enorme multiplicidade de outros assuntos é
notícia e chama a atenção de milhões de pessoas em todo o mundo ou não fosse
ele uma personagem de mediatismo mundial.
Não admira, portanto, que a sua ausência da selecção desde o Mundial
da Rússia se esteja a tornar um assunto cada vez mais discutido face aquelas,
que não podem deixar de ser consideradas como estranhas, sucessivas ausências
do “onze” nacional.
O facto de nem FPF nem seleccionador terem dado até hoje uma
explicação sobre o assunto também não ajudou, como é bom de ver, ao seu
entendimento pelo que é assunto que promete durar por mais algum (bastante?)
tempo.
Claro que se podiam refugiar nas questões de “opção técnica” mas seria
pior a emenda que o soneto porque para quem segue o campeonato de Itália, como
é o meu caso, é perfeitamente evidente que o jogador está num grande momento de
forma e a marcar golos a um ritmo que lhe é habitual pelo que seria motivo mais
que suficiente para se duvidar da sanidade mental de um seleccionador que o
deixasse de fora por “opção técnica”.
A razão terá de ser outra.
Provavelmente prender-se-á com a gestão de esforço do jogador, que
sendo um super atleta não deixa nem por isso de caminhar para os 34 anos de
idade, a exemplo do que Zidane já fizera com grande sucesso nas duas últimas
temporadas que ambos passaram no Real Madrid (um como treinador e o outro como
jogador) e em que dessa gestão resultou um Ronaldo em grande forma física na
altura decisiva das épocas permitindo-lhe aparecer ao melhor nível, por
exemplo, nas finais da Liga dos Campeões.
Provavelmente será mesmo isso e a intenção é que a selecção nas fases
decisivas, como a “Final Four” da Liga das Nações em Junho do próximo ano
(Porto e Guimarães) tenha o seu melhor jogador nas melhores condições.
Entende-se a opção e louva-se a forma como a selecção sem Ronaldo
conseguiu o apuramento, sem derrotas, rubricando até exibições de muito bom
nível com excepção da primeira parte do jogo em S. Siro em que a equipa esteve
quase irreconhecível.
Mas é uma opção que tem dois riscos associados.
Uma é gerir os jogadores que deram o seu contributo à selecção nestes
jogos e que podem muito bem, e ninguém lhes pode levar isso a mal, estranhar
que quem não esteve disponível para fazer a fase de apuramento apareça agora
para fazer a fase final que é sempre muito mais interessante a vários níveis desde
logo pelo mediatismo que encerra a nível europeu e até mundial.
É verdade que não é a primeira vez que isto sucede porque em 2006
depois de ter anunciado a sua retirada (o que tinha um peso ainda maior), e não
ter feito a fase de apuramento para o Mundial da Alemanha, Luís Figo
disponibilizou-se para jogar a fase final tendo sido naturalmente convocado por
Scolari.
Na altura embora se tivesse percebido um ou outro “ranger de dentes” a
verdade é que todos os jogadores perceberam que com Figo a selecção era mais
forte e acabou, em boa verdade, por fazer um excelente Mundial.
Acredito, até pelo “peso” de Ronaldo no grupo, que desta vez sucederá
o mesmo embora possa existir sempre o tal risco de este ou aquele entenderem
menos bem a opção.
Mas há outro risco nesta opção e esse parece-me mais sério.
Que são os clubes onde jogam os restantes seleccionados e muito em
especial aqueles que disputam títulos nacionais e internacionais, e que
portanto não querem ver os seus jogadores expostos a sobrecargas competitivas,
que seguramente não acharão piada nenhuma a verem os seus jogadores
consecutivamente convocados enquanto Ronaldo (com consequente benefício da
Juventus) passa ao lado dessa sobrecarga.
Acontece que alguns desses clubes disputam o campeonato de Itália e
outros a Liga dos Campeões com a Juventus e podem entender esta opção de
Fernando Santos (e ou de Ronaldo) como um favorecimento indevido a um clube.
E isso sim pode ver a causar…aborrecimentos!
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