Como alguns leitores saberão decidi, depois de quarenta e três anos de militância iniciados na JSD em 1975, deixar o PSD por razões que nada tem a ver com o resultado das últimas directas do partido nem com a liderança de Rui Rio mas apenas com uma reflexão profunda que fiz sobre as razões para continuar ou não a militar num partido no qual passei boa parte da minha vida.
Foram meses de reflexão que me levaram a concluir que era tempo de
terminar um longo percurso comum e seguir outro caminho que não sendo
substancialmente diverso é ainda assim bastante diferente.
Devo dizer que não saí aborrecido com rigorosamente ninguém e creio
que as muitas pessoas dentro do PSD com quem estabeleci relações de amizade,
nalguns casos com décadas de duração, lamentando a minha decisão
compreenderam-na e não ficaram aborrecidas.
Porque entenderam que sair de uma “casa” onde se passou quarenta e
três anos obedece seguramente a fortes imperativos de consciência.
E portanto o PSD, para mim, passou a ser passado.
Passado de que guardo muitas e excelentes recordações, especialmente
das amizades que construi por todo o país, mas de que também não posso evitar a
recordação de alguns momentos maus que em bom rigor até poderiam ter provocado
uma saída bem anterior aos tempos actuais.
Adiante.
Uma vez desfiliado do PSD e no âmbito de conversas que mantinha
periodicamente com Pedro Santana Lopes, que já tinha apoiado nas directas de
2008 (disputadas com Pedro Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite), concluí que
o partido que ele e um vasto conjunto de pessoas estavam a fundar encerrava em
si um projecto político atraente, inovador e situado numa área ideológica na
qual me revia com grande facilidade e potenciador de uma esperança de renovação
do nosso sistema político-partidário.
E aderi ao Aliança.
Sabedor que depois de ter deixado um grande partido, um dos fundadores
do nosso regime democrático com quatro décadas de uma História de que se pode
orgulhar, passaria a alinhar nas hostes de um partido que quer ser grande mas
que ainda tem um longo e árduo caminho até conseguir sê-lo de facto.
Mas um caminho com um percurso bem definido.
Um caminho que passa por saber de forma clara quem são os adversários,
quem são aqueles com quem nos podemos entender em prol de Portugal e quais são
os objectivos a que nos propomos em termos internos e externos.
Em termos internos passam por construir um partido moderno, com uma
base digital importante, com militantes comprometidos com o projecto, uma
estrutura de funcionamento “leve”, sem organizações autónomas (sejam de
juventude, sindicais, autárquicas ou as inaceitáveis baseadas no género),
poucas sedes físicas e o direito ao voto dos militantes independentemente de ter ou não
cotas pagas.
Complementarmente uma Academia de formação para jovens em idade entre
os 14 e os 23 ou 25 anos (ainda não está completamente decidido) que
proporcionará aos jovens de todo o país que nela queiram participar uma
efectiva formação política mas sem que os seus responsáveis tenham direito a
inerências nos órgãos políticos, nas presenças em congressos e menos ainda nas
listas candidatas a eleições externas.
Perguntarão os leitores se os jovens não terão lugar nos órgãos, nos
congressos e nas listas candidatas a autárquicas, legislativas, europeias e
regionais?
Terão.
Pelo mérito e não pela idade.
Em termos externos o objectivo imediato passa por concorrer a todos os
actos eleitorais do próximo ano, com listas próprias e programas políticos
ambiciosos, atraentes para eleitores desiludidos e abstencionistas “crónicos” e
que reflictam a diferença que queremos fazer em relação aos partidos mais
antigos do nosso sistema político.
Contribuindo dessa forma, e muito em especial pela mobilização dos
tais eleitores que não votam abstendo-se eleição após eleição, para o reforço
da área política do centro e da direita democráticos oferecendo assim a
Portugal uma alternativa à Frente de Esquerda que nos governa depois do
“arranjinho” de 2015.
Vimos para fazer melhor e fazer diferente.
Não pelas palavras, que são sempre fáceis de proferir, mas sim pelos
actos concretos que são o melhor exemplo que se pode oferecer quanto à
seriedade das intenções e à validade do que nos propomos fazer.
E a concluir deixo um exemplo, concreto, de como nos propomos fazer
diferente dos partidos tradicionais.
Nunca o Alentejo, uma das regiões mais pobres, desertificadas e
esquecidas do país, recebeu o congresso de um partido político ao invés de
praticamente todas as outras regiões à excepção de Trás-os-Montes também ela
sistematicamente ignorada.
Provavelmente porque os partidos consideram que sendo o Alentejo uma
região pouco densamente povoada, ou seja com poucos eleitores, não valerá a
pena apostarem nela para obterem efeitos eleitorais dessa opção.
Pois o Aliança vai realizar o seu congresso fundador em Évora.
Levando ao Alentejo pela primeira vez um congresso partidário e dando
o claro sinal de que olha todo o país por igual independentemente de haver
muitos ou poucos eleitores na região onde realiza o seu evento.
É um exemplo que fica como marca do início de percurso do Aliança.
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