Sou e serei sempre um admirador do extraordinário futebolista que Eusébio foi.
Interrogo-me, sem jamais ter resposta, quanto valeria hoje um jogador como ele face aos valores de mercado que se praticam para os génios do futebol.
No seu tempo, encurtado por lesões graves e pela utilização despudorada que o Benfica dele fez por razões económicas, só teve paralelo em Pelé.
Foram os dois maiores jogadores dos anos sessenta e inicio dos setenta do século passado.
Não sei se foram os melhores de sempre porque há comparações impossíveis de fazer com 50 anos de intervalo.
Nem importa.
Eusébio faz parte de uma galeria muito exclusiva dos "imortais" do futebol.
E por isso merece todas as homenagens que lhe foram feitas, justificou plenamente o lugar no Panteão Nacional, ficará para a História como um dos portugueses mais conhecidos e admirados de sempre.
Por isso acho deplorável todo o "circo" montado em volta da transladação dos seus restos mortais para o Panteão.
Ruas com trânsito cortado, horas de directos televisivos, um percurso que andou a serpentear pela cidade desde o cemitério até ao Panteão passando por tudo quanto era esquina com algum significado na carreira do jogador, uma quase repetição do seu funeral em Janeiro de 2014.
Porquê e para quê?
Com que intuitos?
Não discuto o cerimonial no Panteão porque faz parte do protocolo de Estado para cerimónias deste género.
Mas discuto, e muito, tudo o resto.
Porque foi exactamente o contrário do que a carreira de Eusébio significou.
Ele deixou um legado de grandeza, de superação, de permanente ambição.
Este "circo" de hoje mostrou mentalidades tacanhas, parolice inultrapassável, os piores defeitos do ADN português.
Eusébio foi "maior" que Portugal.
Hoje Portugal conseguiu ser ainda mais pequeno do que é habitual.
Eusébio não "merecia" isto.
Depois Falamos.
P.S. Esperemos que o aproveitamento de Eusébio se fique por aqui.
Já chega!
P.S. Esperemos que o aproveitamento de Eusébio se fique por aqui.
Já chega!
4 comentários:
Pensei exactamente o mesmo quando me apercebi de que a transladação para o Panteão ia ocorrer ontem. Apercebi-me assim que cheguei a Guimarães e desliguei o modo "férias". Em tudo o que era televisão lá estava o percurso, o que se ia passar, tudo e mais alguma coisa. Durante a tarde apercebi-me que havia, nos 4 canais generalistas, dois que tinham emissões especiais e iam acompanhar em directo tudo e mais alguma coisa, e mais um que ia fazendo transmissões durante todo o percurso. O percurso iniciou-se, se não estou em erro, por volta das 15 horas e terminou no Panteão pouco passava das 19 horas. Isto dá um total de... 4 horas! Somos enormes em muitos aspectos, mas ainda há uma mentalidade muito pequena e mesquinha que aproveita tudo e mais alguma coisa para se montar um autêntico circo mediático!
Eu vejo assim a questão do Panteão: o Gungunhana foi um herói nacionalista moçambicano, não sendo, portanto, apenas o rei de Gaza. Lutaria pela emancipação de todo o território que estava sob dominação portuguesa cobiçado, aliás, por ingleses e germânicos. Depois do Ultimato que nos obrigou a abandonar a pretensão ao território de "Angola à contra-costa" depois das explorações de Capelo e Ivens, ou seja, o chamado "Mapa Cor de Rosa", a coroa portuguesa tratou de defender o direito a Moçambique com unhas e dentes... incumbindo Mouzinho de Albuquerque de vencer e deportar para Portugal o rei de Gaza, Gungunhana.
Ao invés do que acaba de acontecer ao Eusébio - jogador da bola - que passeou (embora já cadáver) desde o cemitério de Benfica até ao local dos mortos ilustres portugueses, o Panteão, rodopiando por Lisboa com a fantochada dos políticos e demais espécies gastadoras do erário público, fez-se lembrar a deambulação de Gungunhana pela capital do ultramar falido, para receber cuspidelas e insultos de toda a corte e população em geral, visto representar uma afronta para Portugal que, curiosamento, não foi capaz de responder à altura aquando do Ultimato inglês.
Por fim, Samora Machel, requereu os restos mortais do herói nacional moçambicano - que tinha sido deportado para os Açores, onde morreu. Só que, a campa rasa do cemitério da Conceição já tinha recebido sei lá quantos cadáveres por cima do régulo... e foi para Moçambique um caixão com mais de duzentos quilos de areia.
Eusébio, herói nacional de duas pátrias irmãs, indo para o Panteão, lava um pouco a face das traquinices da nossa pobre história. Bem haja.
Cara Raquel:
Foi exactamente isso.
Mentalidades que ainda não saíram do "pão e circo" tão do agrado dos imperadores romanos para entreterem o povo.
Embora neste caso possam existir outras motivações promocionais da antiga entidade patronal do transladado.
Em qualquer dos casos o Eusébio não merecia isto.
Porque ele foi muito grande e projectou uma imagem que é exactamente o contrário desta tacanhez.
Caro José Duarte:
ora aí está uma interpretação muito original da transladação de Eusébio.
Mas se ajudar a uma boa relação entre Portugal e Moçambique também por isso valeu a pena.
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