Porque o tema é tão interessante e o biografado uma personagem tão central do nosso espectro políticos dos últimos 30 anos que é difícil fazer pausas na sua leitura.
Li-o com imenso interesse.
E nele descobri (mas as biografias também servem para isso) um Jorge Coelho, para lá do politico que todos conhecemos, com uma dimensão humana que importa realçar face a um percurso de vida que nem sempre foi fácil e teve períodos em que foi verdadeiramente difícil.
Não posso dizer que o conheço pessoalmente.
Terei falado com ele umas duas vezes, se tanto, para lá dos cumprimentos de circunstância quando nos cruzávamos nos corredores do parlamento ou numa comissão parlamentar a que ele ia quer como ministro quer como deputado depois de se demitir após a tragédia de Entre os Rios.
E uma coisa posso atestar.
A sua simpatia e afabilidade era iguais quer como deputado quer como ministro.
Não posso dizer o mesmo de todos.
Incluindo muito boa gente do meu partido.
E de uma coisa estou perfeitamente certo.
Jorge Coelho é um adversário politico daqueles pelos quais temos respeito e consideração.
Porque sendo durissimo no debate politico na defesa das posições do PS (não era por acaso que lhe chamavam o bulldozer...) é simultâneamente leal, bem humorado e capaz de consensos.
E Portugal precisa de políticos assim.
Depois Falamos
9 comentários:
Jorge Coelho é o clássico exemplo que nenhum ex-membro do governo deveria de exercer cargos de administração ou chefia, até mesmo de consultadoria ou aconselhaamento, em empresas privadas ou publico-privadas, qualquer que fosse a sua dimensão, exceptuando a sua participação nas ONG ou associações da caridade.
A lei portuguesa deveria dar o exemplo e restringir preto no branco o acesso destes 'buldozers' aos interesses financeiros desmedidos, depois da política activa, para combater as dúvidas do flagelo da corrução que vem cambaleando cada vez mais sóbria destes os tempos da monarquia.
Por muito interessante que a biografia dele se leia rapidamente, tudo o que ele fez vai descambar ao inegável contributo no império Mota-Engil. É aqui onde a porca torce o rabo, Sr. Luís Cirilo. Nenhum grande grupo económico, especialista em grandes obras públicas, contrata para os seus quadros ex-membros do Governo para tê-los emoldurados no hall de entrada. Têm de dar o corpo, a cara, o nome e sua influência ao 'manifesto' porque o acesso para o que vem seguir fica facilitado. É o sonho de qualquer grande empresa. Ter um pé nas chorudas obras do Estado e outro a chutar a concorrência do caminho. Com qualquer Jorge Coelho no curriculo, as portas abrem-se às empresas como auto-estradas sem portagem, por onde quer que se entre. Ao invés de um borra-botas qualquer, por muito de génio ou bem-falante que seja, fica-se marcar passo.
Enquanto não forem tomadas medidas para se evitar estas ousadias à 'coelhone', que ainda passam por legais perante a sociedade, a política perde todo o crédito diante do eleitorado.
Admira-me Jorge Coelho ter aceite retratar-se nesta biografia com tantos telhados de vidro quando deveria era de estar caladinho e arrumado num canto como a vassoura.
Quim Rolhas
Pode ser afável e sociável, mas é tudo o que abomino nesta república socialista e laica. E não ponho os nomes aos bois , senão ia eu presa e o Cirilo também -«quem se mete com o PS (leia-se, o Estado) leva»
Caro Anónimo:
Percebo o seu ponto de vista.
Mas Jorge Coelho foi para a Mota-Engil sete anos depois de ter abandonado o governo.
Creio ser um período de "nojo" mais do que suficiente. Porque um cidadão por ter exercido funções politicas não pode ficar inibido de ter a sua vida profissional.
Cara il:
Para socialista o JC é bem aceitável. Então quando pensamos em Costas, Lellos, Galambas, Lacões e afins torna-se numa verdadeira estrela.
Sr. Luís Cirilo, eu discordo da promoção de um ex-ministro, depois da sua vida política activa, em cargos de administração. Mas isso sou eu. Está de caras que as influências de um ex-ministro nos quadros de uma empresa se traduzem em enormes vantagens financeiras.
Se não, como era possível explicar, esta parte da biografia de Jorge Coelho que a seguir transcrevo:
«Antes de ingressar no Governo de António Guterres em 1995, segundo a declaração de IRS apresentada ao Tribunal Constitucional Jorge Coelho teve um rendimento bruto de €41.233 e em 2009, 3 anos após ter renunciado a todos os cargos políticos e partidários, apresentou um rendimento anual de €702.758»!
Diga-me, Sr. Luis Cirilo, acha isto normal?
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
Um cidadão que ocupa cargos governamentais não pode, num estado de direito, deixar de ter vida profissional. Por esse caminho qualquer dia o governo era formado no IEFP. Concordo que sair do governo para administrador de empresas que negoceiam com o governo não seria ético. JC foi para a Mota Engil sete anos depois de deixar de ser ministro. Creio ser tempo suficiente. Quanto ás declarações de rendimentos é óbvio que tendo sido ministro isso traz um capital de conhecimentos e influências que depois se reflectem nos negócios das suas empresas de consultoria. Mas isso é assim em todo o lado.
Continuo a pensar ao contrário. Jorge Coelho demitiu-se do Governo na sequência da tragégia de Entre-os-Rios, numa altura que ocupava o cargo de ministro do Equipamento Social, ministério que decide quando se faz ou deixa de fazer obra em Portugal.
A razões para a sua demissão forçada e de acordo com a praxe, sete anos antes de entrar para a Mota-Engil, recordo-me perfeitamente, permitia na consciência dele que «a culpa não morresse solteira». Na altura, achei todo este processo muito estranho porque a dimensão da tragédia deveria de surtir não apenas uma demissão relâmpago, mas uma série de penas de prisão e/ou multas para vários responsáveis, inclusivé o próprio Ministro que seria o último da lista de responsabilidades.
Sr. Luís Cirilo, ele demitiu-se para não desencadear um efeito dominó que castigaria com corda na garganta altos responsáveis de vários ministérios, institutos e organismos do Estado.
A demissão continua a ser a saída mais fácil porque trava o ímpeto do Ministério Público ou das autoridades judiciárias barrando os caminhos da investigação. Na antiga Roma, o suicídio era o derradeito acto de coragem e nobreza para quem cometia erros às custas de vidas humanas.
Onde eu quero chegar? Jorge Coelho sai do Governo com uma mão atrás e outra à frente, coitadinho, mas o que sucede depois é o que o torna valioso para a Mota-Engil. Todos os que deveria ser condenados e não foram ficaram a dever grandes favores a Jorge Coelho pela sua nobre atitude de Ministro, que dá a 'vida' pelos outros, mas que nada mais fez do que abafar uma investigação que se pretendia exaustiva de uma tragédia que podia ser evitável e onde os verdadeiros responsáveis até hoje continuam impunes.
Na hora de cobrar favores, Jorge Coelhe aparece a lembrar o seu feito dantesco a esses mesmos responsáveis e que está lentamente a refazer a sua vida ao lado da 'amiga' Mota Engil. O resultado salta à vista, fruto do esforço de uma Madalena chorosa: de rendimentos na ordem dos 45 mil euros por ano passa para quase 1 milhão de euros anuais.
Não vamos dar mais voltas à cabeça com isto. É como jogar no euromilhões a saber os números sete anos antes. Qualquer um ganha. Por isso, a lei não pode coninuar conivente e alimentar estes esquemas de cobraça de favores que, no fundo, ainda são crimes punidos, vulgarmente designados por tráfico de influências, os mesmos que em França, por estes dias, levaram à detenção de Nicolas Sarkozy.
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
É a sua visão do assunto que não corresponde totalmente à minha mas respeito na mesma.
Não tenho a mesma ideia que o meu amigo acerca de JC mas também não o conheço o suficiente para garantir que tenho razão e você não.
Gostei da sua resposta politicamente correcta. Pelo menos, deixei-o a pensar.
Só faltou dizer que esta biografia surge como que a limpar quaisquer dúvidas do passado e a germinar uma candidatura a Belém. Pudera! Com os bolsos cheios, torna-se tudo mais fácil.
Aviso que nunca votaria em alguém que se aproveitou de cargos políticos para tirar vantagem e enriquecer como se Portugal fosse como a Rússia, Angola ou Guiné-Bissau.
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
Creio que nem precisava de lhe dizer que nem remotamente apoiaria uma candidatura de JC a Belém. Que não acontecerá de qualquer forma.
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