A convite do Pedro Cunha, da Associação Vitória Sempre ,faço parte de um grupo de 5 bloggers vimaramenses e vitorianos que semanalmente,e á vez,vão escrevendo sobre assuntos relacionados com o clube.
Já agora ,e para memória futura,aqui deixo os nomes e blogs dos referidos companheiros de escrita:
Carlos Ribeiro do
http://ovimaranes.blogspot.com/Pedro Ribeiro do
http://paixaovitoriana.blogspot.com/Paulo Gonçalves do
http://colunacomvistasobreacidade.blogspot.com/Guima do
http://bancadanascente.blogspot.com/Esta semana o meu texto foi sobre sócios,SADs e a forma como vejo o futuro do Vitória em termos de organização do seu futebol.
Aqui fica.
CLUBE DE SÓCIOS ?
Não vale evidentemente a pena traçar exaustivamente, num artigo com este âmbito, o que tem sido a História dos clubes de futebol em Portugal.
Como nasceram, como se desenvolveram, como se fundiram, transformaram em SAD ou até desapareceram.
Há para todos os gostos.
Mas se nos quisermos centrar naquilo que foram os últimos anos concluiremos que existe uma real desorientação nos caminhos a seguir.Essencialmente devido aos problemas financeiros que o futebol moderno ( e nalguns casos as gestões antigas) traz e á falta de preparação da maioria dos dirigentes para entenderem os novos problemas que se lhes põe.
E cuja solução passa muito por gestões profissionais, modernas e avaliadas por objectivos.
Que é o que em Portugal nenhum dirigente, nenhum presidente quer.
Seja nos clubes seja nas SAD.
Pelo contrário, uma vez eleitos ,existe uma tendência inultrapassável para considerarem o clube como seu, a gestão como demasiado complexa para o associado comum entender, as decisões tomadas como imunes a qualquer contestação.
Em bom rigor não é possível definir uma linha clara de separação entre clubes e SAD.
Até porque em alguns casos no clube e na SAD o presidente é o mesmo.
Olhemos então para o Vitória.
Que é o que mais nos interessa.
Sem a mínima pretensão a fazer a história do clube mas reportando-me aos quase quarenta anos de sócio, já conheci no Vitória vários presidentes, vários estilos de gestão, vários condicionalismos na escolha do dirigente máximo.
Desde os tempos da têxtil pujante em que sobressairam homens como Casimiro Coelho Lima, António Rodrigues Guimarães ou Antero Henriques Júnior, aos tempos de uma relativa abertura a dirigentes em que o “peso” da carteira não fosse importante como Fernando Roriz (o presidente com quem pela primeira vez disputamos o titulo) ou Gil Mesquita, depois a longa presidência de Pimenta Machado e os anos recentes de Vítor Magalhães e Emílio Macedo.
Há, e já sei que vem aí polémica, um traço comum em todos estes presidentes.
Eleitos pelos sócios não foram por eles escolhidos !
Em tempos diferentes, com relações de poder diversas, foram sempre escolhidos por forças dominantes e apresentados á massa associativa como a melhor solução para o Vitória.
E alguns foram-no mesmo !
Num primeiro tempo, e recordo que me reporto aos últimos quarenta anos, eram as chamadas elites vimaranenses, que iam escolhendo os presidentes embora aqui e ali com uma “ajudinha” dos sócios como, por exemplo, com caravanas automóveis que iam a Pevidém pedir ao indigitado para aceitar a presidência.
A seguir deu-se uma relativa “democratização” (chamo a atenção para a relatividade dos conceitos neste contexto) com as presidências referidas de Roriz e Mesquita.
E entra-se no ciclo Pimenta Machado.
Que começa por também ele ser escolhido pelas tais elites (tinha feito parte de direcções anteriores) numa lógica de continuidade e simultânea renovação mas rapidamente se autonomiza delas.
E durante vinte anos governa o Vitória contra tudo e contra todos (elites, Câmaras, etc) com base numa relação directa com os associados que ,com e sem oposição, o reelegem sucessivas vezes com maiorias claríssimas.
Paradoxalmente essa que foi a sua força durante muitos anos esteve também na origem de um fim de ciclo desagradável e que é do conhecimento de todos.
Porque o facto de gozar da confiança de uma esmagadora maioria dos sócios foi criando um sentimento de poder absoluto e impunidade, a par de um afastamento de forças vivas do concelho cuja importância era inegável, que no dia em que as coisas descambaram (também por não ter saído a tempo e horas) revelou uma solidão que viria a tornar-se fatal.
Nesses vinte anos muita coisa mudou em Guimarães.
Mais do que no Vitória.
E o presidente que veio a seguir já não foi escolhido pelas elites, já não adveio de uma relação umbilical com os sócios mas teve a sua origem num “Bloco Central” de interesses entre a Câmara socialista e o sector dominante do PSD de Guimarães.
Com uma persistente e bem articulada campanha de promoção por parte dos órgãos de comunicação do grupo Santiago !
Só podia acabar como acabou…
Não é este o espaço adequado para análises políticas mas é para mim óbvio que hoje qualquer potencial presidente (salvo um improvável Abramovich) precisa da bênção do poder autárquico para se tornar presidente de facto.
Porque o poder político está hoje para o associativismo, e não apenas o desportivo, como no passado estiveram as referidas elites.
É, gostemos ou não, a lógica actual das coisas.
Concluindo que o artigo já vai longo.Emílio Macedo, como o seu antecessor embora felizmente diferente em muitas coisas, é também ele produto de escolhas feitas no recatos dos gabinetes.
Já não os gabinetes dos conselhos de administração de empresas têxteis mas sim os do edifício de Santa Clara.
E daí que, por não ter uma história vitoriana muito longa (o antecessor nem tinha história nenhuma bem pelo contrário…) e dado que a sua eleição se deveu muito a ser a melhor solução entre as que apareceram e não a um legitimo entusiasmos associativo, enfrenta hoje alguns problemas de relacionamento com os sócios.
Que foram habituados a desconfiar dos últimos anos de gestão de Pimenta e a partir daí passaram a desconfiar de todas as gestões.
Nomeadamente quando há transferências de jogadores.
E Emílio Macedo ,cuja experiência de dirigismo vem do Sandinenses clube que ajudou a fundar e ao qual pagava do seu bolso as despesas ,não se achando portanto no dever de dar explicações (o que é perfeitamente compreensível) convive mal com esta realidade de permanente exigência associativa.
Creio que com ele ou outro qualquer o problema não tem solução neste quadro associativo devido a uma contradição insanável:
Porque quem paga 11 euros por mês, mais a cadeira, não pode ter acesso a toda a informação e querer mandar no clube mas também quem é eleito pelos sócios não tem o direito de lhes esconder informação.
A solução passará pela criação de uma SAD.
Mas de uma verdadeira SAD (não as aberrações que por ai andam com a eventual excepção do Sporting), com dirigentes nomeados pelos accionistas, com objectivos globais de gestão bem definidos e remunerações, ou despedimentos, condizentes.
O que poderá libertar o clube em definitivo de élites e do próprio poder politico.
Confesso que a mim me custa a ideia de ver a gestão do futebol vitoriano passar a ser feita por uma Sociedade Anónima .
Sem os sócios (excepto os que forem accionistas) terem uma palavra a dizer.
Mas em bom rigor é apenas formalizar, racionalizando, aquela que já é uma situação de facto.
Porque clubes de sócios, na alta competição, são raridades históricas de passado glorioso, presente incerto e sem futuro promissor.