quinta-feira, julho 17, 2025

Boavista

A alguns já o infortúnio desportivo, a má gestão directiva ou outros factores, levaram há muito dos grandes palcos deixando um rasto de saudade e a memória dos tempos em que se batiam com os principais clubes portugueses.
Bastará recordar a Cuf, o Barreirense, o Salgueiros, o Atlético, o Lusitano de Évora, o Tisense, o União de Tomar, o Olhanense, etc para comprovar isso.
Mais recentemente foram outros e carregados de História que também desapareceram dos palcos que são deles para cairem em divisões inferiores, e até muito inferiores, como foram os casos de Académica, Vitória Futebol Clube, Belenenses, Leixões, Marítimo, etc.
Agora chegou a vez do Boavista.
E o Boavista, tal como o Belenenses, é um caso especial.
Porque foi campeão nacional, com o "Belém" os únicos que o conseguiram para lá dos tradicionais Benfica, Porto e Sporting, porque ganhou cinco taças de Portugal (mas de uma delas falaremos adiante), porque teve participações europeias de mérito, porque tem um dos dez melhores estádios do país.
E a descida de um clube assim, directamente da primeira liga para o inferno do recomeço num escalão distrital, não pode ser encarada como uma vulgar despromoção eventualmente remediada na época seguinte com nova subida, mas sim como algo que afecta o nosso futebol de forma marcante.
Cabe aqui falar do que foi a rivalidade entre Vitória e Boavista que terá sido depois do Sporting de Braga o clube com quem ela, rivalidade, terá sido mais acesa e com períodos de grande tensão polvilhados com, aqui e ali, episódios bem desnecessários.
Essa rivalidade começou nos anos 70, graças a um patife chamado António Garrido que em duas épocas consecutivas desapossou o Vitória de um quarto lugar  que era seu para o dar ao Boavista no último jogo do campeonato de 1974/1975 e depois num dos maiores roubos da História do nosso futebol tirou uma taça de Portugal ao Vitória para a dar aos axadrezados num jogo que foi há 49 anos mas permanece bem vivo na memória de todos quantos o viram como foi o meu caso.
A partir daí estabeleceu-se uma rivalidade entre ambos os clubes que passou pelos anos 80  e teve o seu pico nos anos 90 quando sob as fortíssimas lideranças de António Pimenta Machado e Valentim Loureiro as "batalhas" entre ambos, presidentes e clubes, foram épicas e deixaram marcas que nunca se desvaneceram.
Que com a ida de Valentim para a Liga inclinaram a balança, e os campos, a favor do Boavista porque já não bastava ao Vitória ser melhor que o Boavista para lhe ganhar jogos e/ou ficar à sua frente nos campeonatos porque ou era muito melhor ou nada feito.
Mas essa é uma História que continua por fazer!
O século XXI trouxe uma certa acalmia nessa rivalidade porque com novas lideranças e com os infortúnios vividos pelo Boavista, que o levaram inclusive a descidas de divisão, os jogos entre ambos pssaram a ser claramente dominados (e quase sempre vencidos) pelo Vitória face a um adversário a anos luz do passado atrás referido.
Mas a rivalidade embora atenuada nunca deixou de existir como as visitas do Vitória ao Bessa ou do Boavista ao D. Afonso Henriques bem comprovaram em sucessivos episódios ocorridos e nalguns casos bem dispensáveis.
Mas mesmo reconhecendo essa rivalidade e sabendo bem o quanto o Vitória foi prejudicado pelo Boavista nos tempos da família Loureiro não fiquei nada satisfeito com aquilo que aconteceu e continua a acontecer a esse clube histórico do nosso desporto.
Desde logo porqe há muito Boavista antes dos Loureiro, com uma História digna e a merecer apreço, e porque houve Boavista depois dos Loureiro embora infelizmente entregue em muito  más mãos que levaram a este desfecho face a todos os erros cometidos na SAD.
Depois porque cada vez que um histórico (e o Boavista é dos clubes com mais História no nosso futebol) desaparece dos grandes palcos é o próprio futebol que fica mais pobre e os pergaminhos do seu principal campeonato mais frágeis.
Hoje com  primeira liga povoada com clubes que nem estádio tem, com SADs de duvidosa constituição e proveniência, com clubes que tem médias de assistência risíveis para um campeonato primodivisionário como não lamentar a ausência de históricos como Boavista, Académica, Belenenses ou Vitória Futebol Clube?
Num tempo em que para lá dos inamoviveis Benfica, Porto e Sporting apenas encontramos na primeira liga o Vitória e o Braga como clubes com larga História e grande tradição nesse campeonato.
Sim, lamento a descida do Boavista e o seu "mergulho" , quiçá fatal, no inferno dos distritais.
Porque a verdadeira rivalidade, aquela que faz sentido e dá alma ao desporto, é gostarmos de competir com os nossos rivais e sentirmos aquele prazer muito especial de lhes ganhar e sermos melhores que eles.
A nós vitorianos resta, nessa matéria  tão específica da rivalidade, o Sporting de Braga.
Porque o Boavista dificilmente voltaremos a encontrar.
E tenho pena disso.
Depois Falamos.

Nota: O Boavista Futebol Clube é hoje dirigido por um boavisteiro honesto e competente que aceitou pegar no seu clube no momento mais difícil da sua História. Tem pela frente uma tarefa tremenda , polvilhada de dificuldades e com obstáculos muito difíceis de ultrapassar. Desejo-lhe o maior sucesso. Ele merece e o Boavista também.

Sem comentários: