Foto de Marco Jacobeu
Sou de uma geração em que ganhar ao Braga, especialmente no nosso estádio, era algo de tão normal que nem causava qualquer tipo de admiração nem era motivo para qualquer referência.
Nos últimos anos, por razões que não são para aqui chamadas, isso deixou de acontecer com regularidade mas a partir da época passada voltou-se ao normal e por isso o triunfo de ontem insere-se nessa normalidade quase centenária.
E para não fugir ao normal ganhamos porque fomos melhores.
Ponto.
Ainda assim deixo aqui dez notas sobre o jogo de ontem.
1) JUSTO. Foi um triunfo absolutamente justo daquela que foi a melhor equipa, Que soube atacar e soube defender sempre dentro de um dispositivo e de uma estratégia que se revelaram absolutamente acertados.
2) MORENO: Em três jogos com o Braga só ganhamos um, é verdade, mas pode dizer-se que tacticamente Moreno ganhou os três a Artur Jorge. Em Braga, para o campeonato, perdemos com um golo fora de horas mas depois de uma exibição tacticamente muito boa e para a Taça então o banho táctico foi de tal ordem que chegamos a 2-0, podiamos ter feito mais golos mas apenas aquele "apagão" colectivo de meia dúzia de minutos justificou uma derrota que não merecíamos. Ontem...foi o que se viu.
3) DANI SILVA: Apenas uma lesão pôs termo a uma exibição que estava a ser brilhante. Encheu o relvado no transporte de bola, no descobrir linhas de passe para os colegas, nas mudanças de flanco, no acerto a defender. O ano passado era o "capitão" da equipa B na Liga 3. Este ano voa para um grande destino.
4) SAFIRA: Um quase "patinho feio" cuja contratação foi olhada com pouca crença e cujas primeiras exibições pareceram confirmar isso. Tem vindo a responder da melhor forma que um ponta de lança tem para o fazer. Com golos. Ontem marcou um e esteve na jogada do outro. Não é um predestinado mas é um jogador muito útil e que adora estar no Vitória como foi bem patente no final do jogo.
5) DEFESA: Bruno Varela e Villanueva são os mais experientes numa defesa de miúdos. André Amaro, Bamba e Maga tem vinte anos e Afonso Freitas vinte e dois. Miudos mas bons. E por isso são a terceira defesa menos batida da Liga apenas superada pelas de Benfica e Porto. Talento e trabalho.
6) ANDRÉ AMARO: Bamba é mais referido e mais cobiçado, e ainda ontem fez uma bela exibição, mas ao seu lado está outro grande talento a caminho de uma carreira auspiciosa. André Amaro tem apenas 20 anos mas já é dos melhores centrais portugueses. Tivesse ele a boa imprensa que outros tem e se calhar estaria no radar de Roberto Martinez.
7) VITORIANOS: Não é novidade, já se sabe, mas ontem o apoio dos vitorianos à equipa foi o dos grandes dias e teve muita importância no triunfo como Moreno e os jogadores reconheceram. Depois de um ou outro jogo em que pareceram num período de forma menos bom também os adeptos estão a fazer uma segunda volta ao nível da equipa.
8) DESACATOS: Os que houve, e poucos foram, devem-se apenas ao não saber perder. Dos adeptos do Braga que de repente desataram a atirar cadeiras e tochas para uma bancada de adeptos vitorianos sem que nada o justificasse e de algumas pessoas da estrutura do Braga , incluindo o treinador, que foram para o túnel no final do jogo dar largas à sua azia. Na bancada a polícia resolveu e no túnel espera-se que o conselho de disciplina resolva.
9) ESPECTADORES: Foi um grande dérbi, intensamente jogado, e com uma moldura humana condizente. Mesmo com as tropelias da Sport-Tv , ajudadas pela cumplicidade da Liga, ao marcar um jogo destes para as 21.15 h de uma segunda feira (só em Portugal...) os quase 20.000 espectadores presentes (entre os quais quase 2000 braguistas) são a prova de que há quem saiba pôr o amor aos seus clubes acima das rasteiras que se fazem ao futebol.
10) ÁRBITRO: Luís Godinho não teve tarefa fácil, porque arbitrar um dérbi com a carga emotiva dos jogos entre Vitória e Braga nunca o é, mas há que dizer que não tendo feito um bom trabalho também não teve influência no desfecho embora possa ter tido no resultado. O Vitória não ganhou por causa do árbitro, como é evidente, mas podia ter ganho por uma diferença maior se não fosse uma decisão errada dele ao anular um golo a Anderson num lance em que Bamba e Matheus disputam a bola nas alturas mas fora da área de protecção do guarda redes. Nas competições europeias ou no campeonato inglês teria sido golo. De resto o segundo amarelo a Tiago Silva é anedótico porque nem falta é quanto mais falta para amarelo. E por isso, ironia do destino, se há alguém com razões de queixa da arbitragem é precisamente o Vitória e não aqueles que o evocam como justificação para a sua incapacidade de fazerem melhor.
Em suma , e concluindo, o Vitória parece estar no bom caminho para o apuramento europeu.
Na segundo volta com cinco jogos disputados leva quatro triunfos e um empate e a equipa está num bom momento de forma beneficiando também do paulatino regresso dos jogadores que estavam lesionados.
Há que continuar.