Agora que o Vitória já entrou no ano em que vai completar cem anos, no
dia 22 de setembro, e com o crescendo de notícias e publicações sobre o clube é
cada vez mais tempo de todos quanto se interessam pela instituição e pela sua
História fazerem um esforço redobrado em prol do rigor e do aprofundamento do
que foi e está a ser este século de vida.
O que está aliás bem patente no primeiro livro publicado sob a égide
do Centenário ( O Clube do Rei Cem anos cem cartoons) no qual 15 autores diferentes
escrevem sobre as dez décadas de existência do clube e nalguns casos com um
louvável esforço de investigação histórica atendendo à escassez de fontes sobre
as primeiras delas.
E por isso não quis hoje deixar de me pronunciar, embora não sendo
historiador de profissão e menos ainda de presunção, sobre um aspecto da vida
do clube que é fonte de alguma controvérsia e merece alguns esclarecimentos que
não tendo a pretensão de serem definitivos podem, ainda assim, ajudar a que a
verdade triunfe sobre as falsidades que de quando em vez por aí aparecem.
Refiro-me ao complexo desportivo pertença do Vitória Sport Clube e
denominado António Pimenta Machado desde julho de 1997 quando em AG os sócios
lhe atribuíram esse nome.
E em volta do complexo desportivo há uma lenda e uma narrativa sobre
as quais a seguir me debruçarei.
A lenda, propagada ao sabor de erradas tradições orais, de
insuficientes investigações, de reiterada má fé daqueles que querem retirar
mérito a quem o tem ou de pura e simples ignorância refere que os terreno do
complexo desportivo foram oferecidos ao Vitória pela, há muito extinta,
associação cívica “Unidade Vimaranense” (UV).
Ou, quando muito, vendidos por um preço simbólico naquilo que se
denomina como uma doação onerosa.
Não corresponde à verdade.
Porque os terrenos foram comprados pelo Vitória Sport Clube e por
valores significativos para a época em que as várias transacções foram feitas.
Dando-se até o caso de o último deles nem ter sido comprado à Unidade Vimaranense,
mas sim a outro proprietário.
E a cronologia é simples de fazer.
Em 24 de Fevereiro de 1979 a direcção presidida por Gil Mesquita
celebra um contrato promessa para a aquisição dos primeiros terrenos, pelo
valor significativo para a época de treze milhões e seiscentos mil escudos,
quantia que viria a ser liquidada posteriormente pela também já extinta (depois
de relevantes serviços prestados ao clube) “Comissão de Fundos para um Vitória
Maior” face à impossibilidade de o clube libertar verbas para esse efeito.
Posteriormente, já numa direcção de António Pimenta Machado, o clube
celebra a 24 de abril de 1987 novo contrato promessa com a UV, no valor de dez
milhões de escudos, comprometendo-se a pagar de imediato metade da verba e a
outra metade até à celebração da escritura assumindo ainda a responsabilidade
de pagamento de dívidas da UV bem como de adiantamentos dos seus (da UV)
accionistas.
Finalmente, a 15 de fevereiro de 1990, realiza-se a escritura pelo
valor de dez milhões novecentos e setenta e cinco mil e quinhentos escudos e
trinta centavos, de que a UV dá imediata quitação ao Vitória sendo nela
referido que o valor recebido se destinava a liquidar benfeitorias, a
reembolsar acções subscritas pelos sócios da UV bem como a devolver valores por
estes adiantados à associação.
Sendo certo que na escritura se fala de doação, quando foi aquisição,
por razões fáceis de deduzir para quem
quiser esmiuçar minimamente o assunto.
A isso se acrescenta o compromisso do Vitória em pagar multas fiscais,
impostos liquidados e a liquidar, nomeadamente referentes a mais valias
referentes à transacção, o que viria a acarretar ao clube uma despesa
suplementar de cerca de seis milhões de escudos.
Significa isto que na aquisição de terrenos destinados a fins
agrícolas e de reduzido valor comercial o Vitória Sport Clube investiu cerca de
trinta milhões de escudos, há mais de trinta anos atrás, o que está bem longe
de significar que recebeu terrenos oferecidos ou pagos por valor simbólico.
Posteriormente o clube viria ainda a comprar um terreno na chamada
“Quinta de Margaride”, onde agora está um dos relvados sintécticos, por cerca
de oito milhões de escudos o que eleva o valor total do investimento na
aquisição do complexo desportivo para cerca de quarenta milhões de escudos.
E, portanto, esta lenda dos terenos oferecidos ou alvo de doação
onerosa por valor simbólico não passa de isso mesmo, de uma lenda sem
correspondência com a realidade.
Como tantas outras!
Mas em torno do complexo desportivo António Pimenta Machado para lá
desta lenda existe também uma narrativa, muito mais recente, quanto à sua
denominação.
Começou por ser conhecido, por razões óbvias, pelos campos da unidade
(vimaranense) mas em julho de 1997 já não recordo se por unanimidade se por
maioria esmagadora foi-lhe atribuída a denominação de Complexo Desportivo
António Pimenta Machado que se mantém até aos dias de hoje.
É esse o seu nome e mais nenhum.
Tal como consta, aliás, da placa descerrada em 1997 aquando da
inauguração do complexo pelo então Presidente Jorge Sampaio e que depois de
anos em que esteve afixada dentro do edificio sede foi mandada colocar no
exterior do mesmo em 2020 para que possa ser vista por todos quantos por lá
passem.
E por isso foi com surpresa que anos atrás, sem qualquer deliberação
da Assembleia Geral nesse sentido, passaram os responsáveis do clube a
chamar-lhe “Academia do Vitória” em todas as oportunidades, documentos e
comunicação nas redes sociais do clube, deixando cair o seu verdadeiro nome e
colocando até umas letras na fachada com a inscrição “Academia Vitória SC”como
se a decisão da AG de 1997 não tivesse existido.
Ao contrário do que fizeram com o pavilhão a que em proposta dirigida à
AG, e aprovada pelos sócios, retiraram o nome de “Pavilhão do Vitória” para lhe
passarem a chamar “pavilhão da Unidade Vimaranense” decisão de que discordo profundamente
mas que respeito dado ter seguido à risca os trâmites estatutários.
Ainda perceberia, embora me custasse muito ver retirar a património do
Vitória o nome “Vitória”, se a deliberação fosse no sentido de dar ao pavilhão
o nome do presidente Gil Mesquita que foi aquele com quem o complexo começou a
ser construído.
Isso até faria sentido.
Agora a uma associação cívica que vendeu os terrenos ao Vitória por valores
substanciais para a época e que apenas os vendeu porque o projecto hoteleiro
que para lá tinha idealizado não teve pernas para andar pareceu-me francamente
mal.
Mas está feito e acho que assim deve continuar porque o clube não pode
andar a mudar o nome aos edifícios do seu património em curtos intervalos de
tempo.
Como atrás referi não sendo historiador de profissão, e muito menos de
presunção, baseei este texto no que se refere à compra dos terrenos na leitura
de documentos da época e que do meu ponto de vista explicam cabalmente o que
afirmo.
Não faço deles verdade absoluta.
E não procurando polémicas, mas também não fugindo delas quando surgem,
acredito que se outras visões houver sobre o assunto, igualmente assentes em
documentos, é matéria que pode ser susceptível de debate.
Desde que feito com inteligência nos raciocínios, elegância na
apresentação dos argumentos e a boa educação a que está obrigado quem quer
debater com seriedade qualquer assunto.
Caso contrário, e porque educar adultos não é o meu trabalho,
arriscam-se a ficarem a falar sozinhos!
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