Portugal foi ontem a votos e os portugueses foram muito claros naquilo que desejam para os próximos quatro anos.
Querem um governo de maioria absoluta do PS, querem o PSD a liderar a oposição, querem dar uma oportunidade a novos partidos de direita de terem representação parlamentar significativa e não querem a extrema esquerda a ter qualquer influência na governação.
E mostraram também, por maioria absoluta, a mais gritante indiferença pela forma como foram governados nestes seis anos preferindo dar ouvidos aos "amanhãs que cantam" em que o PS sempre foi exímio.
Em termos partidários o resultado ´das eleições tem, do meu ponto de vista é claro, as seguintes leituras:
PS - É o claro vencedor conseguindo vencer em todos os círculos eleitorais do continente e nos Açores o que é um resultado verdadeiramente espectacular. Com maioria absoluta, um Presidente remetido à insignificância, o PRR europeu, a ausência de debates quinzenais e um PSD que vai passar muito tempo a arrumar a casa os socialistas tem um caminho atapetado de rosas.
PSD- É o grande derrotado , em termos absolutos, destas eleições. Apenas venceu na Madeira, perdeu onde nunca tinha perdido (Viseu à cabeça), subiu nos votos mas diminuiu no número de deputados, pagou a ambiguidade de querer ser alternativa mas deixando pairar a intenção de apoiar um governo minoritário de António Costa. Pelo caminho tratou o Chega com sobranceria nem percebendo que não só estava a fazer o jogo da esquerda, e com a argumentação sectária típica da esquerda, como ainda a desiludir o eleitorado de direita quanto à hipótese de uma maioria dessa área. Terminou a trágica noite eleitoral com um discurso inenarrável de Rio a falar alemão, a pronunciar-se sobre as contas de campanha como se estivesse nalgumm congresso de contabilistas e a ser incapaz de dizer com clareza que se ia demitir.
CHEGA: É o grande vencedor relativo destas eleições, Conseguiu ser o terceiro partido, tem mais do dobro dos deputados do BE, tem mais deputados que BE e PCP em conjunto, passou de um para doze deputados(eleitos por oito distritos) o que é um crescimento absolutamente brutal. Não atingiu os desejados 15% mas isso será o lado para que dorme melhor. É previsível que seja o grupo parlamentar que mais vai incomodar o governo.
IL: É o outro vencedor relativo da noite eleitoral. Passou de um para oito deputados (eleitos em Lisboa, Porto, Braga e Setúbal o que confirma ser um partido de zonas urbanas) , tornou-se a quarta força política, teve um crescimento de 65.000 votos para 268.000 e é previsível que com uma sólida representação parlamentar continue a crescer no país.
BE: É outro dos grandes derrotados destas eleições. Severamente castigado pelos eleitores, que lhe retiraram 14 dos 19 deputados, pagou o preço de ter chumbado o orçamento de estado e viu muito do seu eleitorado fugir para o PS. Esmagado pelo CHEGA no confronto particular entre ambos os partidos pelo terceiro lugar é surpreendente que nenhum jornalista pergunte à sua líder se se vai demitir como fizeram com Rio e Rodrigues dos Santos. Mas já se sabe que à esquerda a culpa morre sempre solteira. Com mais 3000 votos mas menos um deputado o BE caiu de terceiro para sexto partido e espera-se agora que a comunicação social o trate em função da sua dimensão.
Na azia da derrota a líder teve ainda tempo para fazer as habituais declarações canalhas sobre deputados eleitos que lhe deviam merecer um (ou doze) processos crime. Mas à esquerda tudo se perdoa. Ou não?
CDU: Uma derrota clamorosa. Perdeu quase 100.000 votos, perdeu seis deputados (dois do PEV), passou a ser a quinta força política em termos de deputados e vê um futuro cada vez mais complexo. Também pagou o chumbo do orçamento de estado e o não ter sabido renovar a liderança em tempo útil.
PAN: Passou de quatro para um único deputado, perdeu 80.000 votos e definitivamente passou de moda. Será irrelevante no quadro parlamentar.
LIVRE: Conseguiu a almejada eleição do líder , que sucede à Joacine de péssima memória, mas no quadro de maioria absoluta do PS discutirá com o PAN qual deles será mais irrelevante no Parlamento.
CDS: Um partido histórico que estava no Parlamento desde 1975 perde pela primeira vez representação parlamentar. Fruto das especificidades do nosso sistema eleitoral mesmo tendo mais 4300 votos que o PAN e mais 17600 que o LIVRE não conseguiu eleger nenhum deputado. Pagou por andar meses a fio em disputas internas que o fragilizaram muito e por Francisco Rodrigues dos Santos, que até fez uma boa campanha e bons debates, não se ter afirmado junto do eleitorado tradicional do partido. Presente nos governos regionais de Madeira e Açores e na governação de várias dezenas de autarquias é prematuro anunciar o seu fim. Mas a margem de erro na escolha de novo líder (tal como no PSD aliás) acabou. Um erro pode ser o último erro.
PEV: Estava no parlamento desde 1983 mas sempre sob a asa protectora do PCP, na coligação CDU, dado que nunca concorreu sozinho a qualquer tipo de eleição. O emagracimento eleitoral da CDU levou a que o PEV perdesse os seus dois habituais deputados. Previsivelmente continuará a viver , ainda que em vida artificial, sob a tal asa protectora. O problema é que o "cobertor" está cada vez mais curto.
E em termos gerais é esta a leitura que faço do resultado das eleições.
Portugal é hoje um mapa político cor de rosa.
E sem desejar que as coisas corram mal, porque nós cidadãos é que pagamos os erros da governação, não posso deixar de recordar que não só Portugal tem péssimas recordações de outro mapa cor de rosa como também sabemos como acabou a outra maioria absoluta do PS.
Não se lembram?
Primeiro com a troika e depois com o primeiro ministro dessa maioria na cadeia.
Há quem diga que a História tende a repetir-se.
Esperemos que não.
Depois Falamos.