Como ponto prévio, muito por causa daqueles que veem teorias da conspiração em todo o lado e fazem da mania da perseguição o seu argumento primeiro, devo dizer que considero João Félix um bom jogador que pode aspirar a ser um grande jogador se continuar a evoluir da forma como o tem feito até aqui.
Dito isto importa referir que após meia época de sucesso, num
campeonato em que há goleadas de 10-0 e jogando num clube em que tudo é menos
difícil do que noutros do mesmo patamar (porque daí para baixo estamos
conversados...), é um brutal exagero o endeusamento que se está a fazer em
volta de um jovem jogador que o que mais precisa nesta fase da sua carreira é
tranquilidade para se concentrar na sua profissão.
Não me vou referir sequer aos valores da sua propalada, mas ainda não confirmada, transferência para um clube
espanhol porque de há muito que deixei de acreditar na chuva de milhões que
anda em volta do futebol, e de alguns dos seus clubes e jogadores, porque essas
verbas envolvem sempre aspectos muito mal explicados e dos quais nunca se
consegue apurar a verdadeira realidade dos factos.
Direi apenas que o o jovem João Félix, um talento natural que ainda
precisa de evoluir muito para chegar ao patamar dos grandes jogadores europeus,
pago por metade dessa verba de cento e vinte milhões já era muito bem pago e
ainda assim esse pagamento significaria um sinal de visível optimismo por parte
do comprador.
Ponto!
Mas refiro-me, mais do que às verbas do negócio, ao carnaval mediático
montado em torno do jogador pelos jornais desportivos de Lisboa e por um diário
que faz do sensacionalismo profissão com sucessivas primeiras páginas com o
jogador e dando livre curso a uma imaginação “jornalística” que parece sem
limites.
Até o preço que pagou num almoço para que convidou alguns amigos foi
notícia de primeira página imagine-se.
Já para nem falar daquele pitoresco e despropositado episódio de ser
nomeado “embaixador” da terra onde nasceu com direito a recepção na câmara
municipal e tudo como se tivesse algum feito relevante no seu ainda curtíssimo
currículo.
A História do nosso futebol, e destes orgãos de comunicação social já
agora, está cheia de exageros deste género em volta de jogadores que
por demonstrarem algum talento e alguma capacidade nos seus primeiros passos na
primeira equipa de dois ou três clubes se tornam desde logo nos novos “Eusébios”
ou novos “Figos” ou “Futres” ou coisa do género porque se mistura uma ânsia em
torno do sensacionalismo que vende com paixões clubistícas que muito não
conseguem deixar à porta das redacções.
Quem não se lembra de Dani? Ou de Freire? Ou de Hugo Leal?Ou de
Cavungi?
Para citar apenas alguns dos muitos a que foram vaticinados futuros
extraordinários mas que nunca passaram de carreiras medianas ou nem sequer isso.
E se alguns dos leitores, até por questões de idade, não recordam os
nomes citados darei um exemplo muito mais recente e que todos terão facilidade
em recordar.
Renato Sanches.
Como Félix fez meia época de sucesso no mesmo clube, foi chamado à
selecção (aí com excelente prestação no Euro 2016) e protagonizou uma grande , mas prematura, transferência para o Bayern
de Munique.
Resultado?
Passou os três últimos anos a marcar passo, dividido entre um
empréstimo mal sucedido ao Swansea e longas permanências no banco do clube
alemão, e está agora ansioso por sair da Alemanha e reatar a sua carreira
consciente de que ela já podia estar noutro patamar se as opções tivessem sido
mais sensatas e o endeusamento menor.
Receio que João Félix vá pelo mesmo caminho, com esta possível saída
para um clube e um campeonato onde as exigências e a competitividade são
brutalmente maiores que no “bem bom” da Liga portuguesa, repetindo assim o que
foi no seu tempo a triste experiência de João Vieira Pinto no mesmíssimo
Atlético de Madrid.
Esperemos que não.
E que Félix consiga ser o grande jogador, que em potência já é e de
que o futebol nacional tanto necessita agora que na ainda algo distante linha do horizonte já se vê ao longe o fim da
carreira de Ronaldo, mas que o consiga ser no seu tempo sem precipitações e “folclores”
como os que se tem visto na comunicação social e não só.
Acredito que o conseguirá.
Pelo seu valor e apesar destes profissionais da bajulação que apenas o
prejudicam.
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