De regresso ao futebol para realçar o que se passa hoje no campeonato
nacional de futebol, primeira liga, e que constitui uma curiosidade nunca
sucedida e que envolve directamente os dois clubes de Guimarães.
É sabido que o nosso futebol vive uma realidade macrocéfala, muito
centrada desde sempre em Lisboa e Porto, que deixa par ao resto do país os “prémios
de consolação” constituídos por apuramentos europeus e taças de Portugal ,
supertaças e taças da liga.
No que toca a títulos apenas Lisboa (Benfica, Sporting e Belenenses) e
Porto (F.C.Porto e Boavista) conseguiram ,até hoje, ter campeões nacionais pese
embora outros clubes como Vitória, Académica, Vitória Futebol Clube e Sporting
de Braga já terem andado lá perto em fases diferentes do historial do nosso
futebol.
As razões para isso são várias:
Desde logo demográficas porque sendo os dois maiores centros
populacionais do país isso gerou, naturalmente, que os seus principais clubes tivessem uma massa adepta
maior que a dos outros clubes do país pese embora a evolução dos tempos tenha
demonstrado que títulos à parte o quarto clube de Portugal em número de adeptos
é claramente o Vitória que atrás dos chamados “grandes” deixa, ainda assim,
todos os outros a larga distância.
Esse maior número de adeptos de Lisboa e Porto, a que se juntariam
posteriormente largas camadas de populações de todo o país que preferiram, e
continuam a preferir embora menos,festejar triunfos de equipas que agora veem
na televisão (dantes só ouviam os relatos radiofónicos)mas em cujo estádios
nunca (ou quase nunca) entraram sendo, quando muito, daqueles que andam a
encher estádios pelo país apoiando a equipa que vem de fora em vez da equipa da
casa, contribuíram também para essa macrocefalia que condiciona desde sempre o
nosso futebol.
Se a isso juntarmos uma
comunicação social, especialmente a desportiva mas também a outra, que dá uma
atenção ridiculamente exagerada a três clubes e faz de todos os outros
parceiros menores a quem só ligam quando há jogo com um dos privilegiados
explica-se que o futebol português seja Lisboa e Porto e o resto (quase)
paisagem.
Sim, quase.
Porque há Guimarães.
E em Guimarães há duas realidades, chamadas Vitória e Moreirense, que
honram todos os vimaranenses e constituem uma autêntica pedrada no charco na
pobre realidade de um futebol concentrado em três emblemas.
Desde logo o Vitória.
O clube em cujo estádio todos os visitantes são pequenos (em número de
adeptos) e que nas deslocações joga em “casa” em boa parte dos jogos tal o
calor do apoio e o número de adeptos que seguem a equipa pelo país.
É certo que o palmarés está muito aquém da realidade do clube, da sua
História, das médias de assistência no seu estádio e da ambição dos adeptos que
pela sua permanente atitude justificam bem mais que uma solitária Taça de
Portugal e uma não menos solitária Supertaça mas ainda assim é claramente um
clube de referência no nosso futebol.
O Moreirense , mais pequeno e sediado numa vila do concelho, tem
também um percurso de que se pode orgulhar no qual avulta uma taça da liga
conquistada depois de na “final four” vencer Braga e Benfica clubes que tem
claramente outras possibilidades.
Guimarães é assim, mas sem ser capital de distrito como os outros, o
único concelho além de Lisboa, Porto e Funchal (este num contexto bem diferente face ao apoio que os seus clubes
recebem do governo regional) que tem
duas equipas na primeira liga o que é um factor de prestígio para o concelho e
que mostra bem a sua excepcionalidade no todo nacional.
E ainda por cima dois clubes que tem um excelente relacionamento, com
massas associativas que se dão bem e onde existem muitos que são associados e
adeptos dos dois clubes em simultâneo o que é também uma marca distintiva em
relação a outras realidades bem conhecidas.
Pois a grande curiosidade actual é que Vitória e Moreirense disputam ,
neste momento, o quinto lugar e consequente acesso à Liga Europa na próxima
temporada com a curiosidade acrescida de ser o clube de Moreira de Cónegos quem
ocupa actualmente essa posição.
E embora para os vimaranenses, e vitorianos muito em especial, seja
pouco animador ver o Vitória a disputar o quinto lugar não deixa de ser curioso
e a merecer realce que essa disputa seja precisamente com o outro clube do
concelho.
O que pode indiciar, e oxalá assim seja, que quando o Vitória lutar
pelos patamares que merece (e que são acima do quinto lugar) pode haver outro
clube de Guimarães a permanecer nessa luta e a catapultar Guimarães de forma
ainda amais sólida para o primeiro plano do futebol português.
O Moreirense já está a fazer a sua parte.
Falta o Vitória!
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