terça-feira, fevereiro 02, 2016

Feira da Ladra

Não sou, nunca fui, nem serei um elitista na aquisição de bens de consumo.
Sejam de que género forem!
A minha preocupação é que sejam necessários, uteis, práticos de usar e que cumpram o papel a que estão destinados durante tanto tempo quanto for possível.
Sou um defensor, até por razões familiares, do comércio tradicional onde compro sempre que posso mas não tenho nenhum problema em recorrer ás grandes superficies onde os produtos são massificados mas tem certificados de qualidade e podem ser reclamados caso não reúnam as condições necessárias.
Fujo é das feiras.
Onde se pode comprar de tudo, oriundo das mais diversas proveniências por mais insólitas que sejam, em que a quantidade supera sempre a qualidade e onde face à facilidade do exposto acaba por se comprar aquilo que não se precisa apenas porque está à mão de semear e parece uma grande pechincha.
Já para não falar dos impostos que eu pago e que muitos desses comerciantes de feira nem sabem o que são!
Mas admito perfeitamente, porque sou um democrata, quem tem entusiasmo por feiras.
Quem acha que na quantidade encontra qualidade, acha que é a mesma coisa um artigo de feira de um artigo comprado numa loja com outro tipo de garantias, se deixa levar pela imaginação e faz do mais banal produto comprado na feira um artigo de excelência que lhe será de imensa utilidade.
Quem um "come" do que gosta.
Isto não significa que eu próprio não vá à feira uma vez por outra (e não estou sequer a falar de campanhas eleitorais...) ver o que por lá há e procurar, porque não, uma pechincha que faça da regra excepção.
Mas não são nunca a minha primeira prioridade.
Quando preciso de um artigo, seja de vestuário, de calçado, de decoração, vou em primeiro lugar a uma loja especializada onde sei que compro com garantias minimas.
Só se lá não encontrar, ou o preço for proibitivo, é que recorro excepcionalmente à feira.
E sempre, mas sempre, sem comprar por atacado caindo na tentação de levar porque é barato ou quase dado.
Procurando, apenas e só, aquilo que faz falta.
Feiras, mesmo com o tipicismo das ultimamente tão vulgarizadas  "feiras da ladra", não  são definitivamente comigo.
Depois Falamos.

P.S. Para que não se pense que tenho preconceito contra as feiras devo dizer que um destes dias fui a uma. Onde adquiri por aparentes excelentes preços (não sei é de onde os artigos vieram e qual vai ser a sua duração...) um par de botas, uma camisola, um guarda chuva e uma dúzia de meias.
Parece ser bom material.
Veremos...

2 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Achei muita piada a este seu "post" Caro Amigo! Porque após analise das probabilidades da origem dos seus produtos, de todos ou quase todos, ou a matéria prima que serviu para a confecção, ou as máquinas que serviram para os produzir, ou mesmo a totalidade dos produtos confeccionados, tiveram a mesma origem: A Ásia, e, afinando, talvez a China ou o Bangladesh, ou a Índia ou o Vietname!
A verdadeira "feira da ladra" é ai que se situa: Onde entra mão de obra, a probabilidade de serem braços de escravos do Oriente que produz, é grande!
A China fabrica 70% do calçado mundial e 80% do têxtil!

Permita que lhe conte a história duma viagem , já lá vão dez anos, nos 80 km da auto-estrada, que devorou os últimos campos de chá verde e de arroz, de Xangai a Wujiang, pequena cidade de ....800 000 habitantes . Os camiões de 10 toneladas quase em fila indiana, deixando pouco espaço aos cortejos de Audi e de Mercedes. Passamos em frente duma estação de serviço, equipada com 50 bombas de gasolina!

Esta província do Jiangsu é o berço histórico da seda, reconvertida na produção de fibra de polyester. Nessa época , esta região produzia já 20% dos 50 mil milhões de $ de têxteis fabricados na China. Imagine o que deve ser hoje...

A fábrica modelo desta cidade pertence a um jovem, que fundou o Grupo Hengli. Só esta fábrica produziu 350 000 toneladas de tecido polyester nesse ano de 2005. Com 34 anos na altura, era um herói lá do sitio. Começou a trabalhar aos 16 anos Tinha 7 000 trabalhadores, que ganhavam na época 200 euros por mês, e trabalhavam com máquinas novinhas compradas na Alemanha.
Hoje deve ter engrossado um pouco ....

O objectivo da minha viagem era uma fábrica de equipamentos para a indústria automóvel, situada lá perto!

Pensei muitas vezes , após esta viagem através do império do têxtil, na China, nas dificuldades que já em 1956 e 57 tive em Moçambique, como viajante do Pimenta Machado, ( a minha "primeira" vida !) para vender os nossos têxteis contra os indianos e os chineses.
Tenho realmente receio que o meu Amigo tenha passado à concorrência. Senão, é um milagre!
Cumprimentos.

Freitas Pereira

PS) Também vou de vez em quando às feiras daqui. Só para matar saudades dos têxteis do Vale do Ave! Mas é tudo chinês....

luis cirilo disse...

Caro Joaquim de Freitas:
As minhas primeiras idas a feiras, pela mão da minha Mãe e de uma tia paterna,foram à praça de S. Tiago onde ela então se realizava.
Depois durante alguns anos a feira realizava-se na rua dr Alfredo Pimenta (actual Alameda Alfredo Pimenta)mesmo em frente à casa dos meus avós paternos e aí já nem precisava de ir à feira porque ela estava mesmo à minha frente.
A ideia que guardo dessas feiras é de serem um espaço para os pequenos produtores e pequenos agricultores venderem os seus produtos nacionais e genuínos. Não com a variedade de hoje mas com a vantagem de serem realmente genuínos.
Depois estive muitos anos sem por pé numa feira.
Quando comecei a ter uma vida politica activa, muito em especial nos anos em que fui deputado mas também depois, a ida ás feiras tornou-se "normal" em tempos de campanhas eleitorais e então restei a relação com uma realidade já bem diferente daquela de que guardava memórias de infância.
Hoje as feiras já nada tem a ver com esse passado.
São autênticas industrias da contrafacção, da venda de produtos importados e de outros de proveniência mais do que duvidosa.
E tem o meu amigo razão.
Com uma forte componente "made in China".
Dos têxteis ao calçado passando por brinquedos e produtos de decoração.
Realmente resta-me a concorrência porque feiras...já eram.
Só mesmo por curiosidade.