quarta-feira, junho 03, 2015

Da Rússia ao Qatar

Tal como se previa, desde há muito tempo a esta parte, rebentou um escândalo de dimensões ainda não totalmente perceptíveis na FIFA que por arrastamento levou a uma defenestração de Blatter que em bom rigor ele há muito tempo merecia.
E naturalmente que dados os contornos do escândalo, todo ele em volta de corrupção e subornos, se põe em causa a forma como foram atribuídos a alguns países a organização de campeonatos mundiais bem como a forma desportiva como alguns deles decorreram.
No primeiro caso fala-se essencialmente dos mundiais de África do Sul e Brasil já disputados e dos vindouros mundiais da Rússia e do Qatar e no segundo da "miraculosa" carreira mundialista da Coreia do Sul no mundial que organizou juntamente com o Japão.
Dos favores desportivos a A ou a B, nesse e noutros mundiais, já não valerá a pena falar porque são casos arrumados e não há volta a dar-lhe.
Dos subornos que terão levado à escolha de uns países em detrimento de outros, especialmente em relação aos Mundiais que estão para vir, deve analisar-se o assunto mas sem se cair na tentação de fazer do futuro um ajuste de contas com o passado fazendo uns pagar pelos outros.
Porque, sejamos claro, a corrupção não foi inventada por Blatter e o seu gangue de dirigentes da FIFA para atribuírem mundiais à Rússia e ao Qatar,no futuro, como à África do Sul ou ao Brasil no passado.
Muito provavelmente é um problema que vem dos tempos de João Havelange altura em que já se ouvia falar, ainda que veladamente, de problemas como o agora conhecido.
Por isso os mundiais da Rússia e do Qatar só devem ser reavaliados sob prismas estritamente desportivos tendo em atenção ,apenas e só, o interesse do futebol.
E aí não tenho a mínima duvida.
O Mundial de 2018 deve ser na Rússia e o de 2022 não deve ser no Qatar.
Porque a Rússia, o maior país do planeta, tem tudo necessário a um grande mundial.
Público, estádios, tradição futebolistica, campeonatos profissionais, clubes de grande tradição inclusive nas competições europeias, grandes jogadores e excelentes treinadores,climas adequados (penso que nenhum grupo ficará na Sibéria!), um palmarés importante da respectiva selecção em mundiais anteriores.
O Qatar não tem nada disso.
Apenas muito dinheiro, um clima absolutamente impróprio para competições desportivas no Verão, projectos para estádios megalómanos que depois do mundial não servirão para nada.
E por isso bem andará a futura direcção da FIFA se atribuir o mundial de 2022 a outro país.
Já o retirar o Mundial de 2018 à Rússia, como algumas "teorias da conspiração" parecem querer apontar como a razão para este escândalo rebentar agora, seria um grave erro desportivo.
Desportivo... e não só!
Depois Falamos

2 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Caro Dr. Cirilo : Quando há montanhas de dinheiro em jogo, os apetites abrem-se : Platini, Gignola, entre outros... e a lista vai continuar.

O New York Times tinha informado publicamente que os raids da policia suíça , sob instruções dos EUA, seriam efectuados contra os quadros da FIFA em Genebra.
Não sejamos cândidos : Os Americanos não perdoaram à FIFA de ter preferido o Qatar aos EUA.

Agora, os EUA tentam de pôr a sua marioneta no lugar do Blatter. O candidato americano é um membro da família real da Jordânia.

Que se teria dito se hoje a FIFA, como algumas grandes bancas, tinha dado dinheiro à Fundação Clinton, à biblioteca presidencial de Obama ou tinha feito "lobbbying" junto dos deputados e senadores?
A corrupção não é um problema para os EUA, enquanto esta serve os seus interesses. Mas as regras da FIFA são tais que os EUA têm dificuldades à impor a sua lei.

A FIFA está como o sistema económico mundial : - o capitalismo - , e as instituições internacionais : estão podres.

O presidente da FIFA é eleito, como bem sabe, pelas 209 federações nacionais que têm cada uma um direito de voto, o que faz que os pequenos países, bem "untados" apoiavam Blatter, contrabalançando facilmente a sua impopularidade noutras regiões particularmente na Europa.

Este sistema "democrático" de uma federação = um voto, não agrada aos Americanos. O NYT vai até ao ponto de escrever que este sistema de "igualdade" de um voto para cada membro " é estranho"!

Claro que os Americanos imaginam o que seria o Conselho de segurança da ONU e a ONU mesma, se o sistema de voto fosse idêntico. Como seria possível atingir os "seus objectivos" se cada país dispusesse dum voto ! O Vietname, o Iraque, o Afeganistão, a Jugoslávia, não poderiam ter sido invadidos.

Como modificar o sistema? Sonhei dum sistema no qual o número de votos dos países fosse função da popularidade do futebol ou dos sucessos que o pais obteve no futebol? Veríamos Portugal na cabeça da lista , com mais peso que os EUA! e os EUA na cauda!

Quanto às manobras para retirar à Rússia o Mundial de 2018, os EUA "jogam" um jogo perigoso. Claro que os Russos não esqueceram o boicoto dos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980, e as "pressões" para anular os Jogos Olímpicos de Sotchi em 2014.

Vê-se bem que Washington não recua perante nenhum expediente para impor as suas regras e a sua visão das coisas. Os EUA dispõem duma lista de países a "observar", com uma cenoura numa mão e a faca na outra! Os EUA têm tendência , desde sempre, a comportar-se como um governo mundial sancionando aqui, recompensando ali.

Homens, países, organizações e/ou instituições que os afrontam ou põem obstáculos ao seu controlo, são submetidos. O Futebol, o mais belo espectáculo do mundo , não deve cair nas mãos duma corrupção ainda mais poderosa, tendo como carburante os jazigos de gás e de petróleo do Médio Oriente., à sombra da máquina de guerra americana.

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
A FIFA é um poço de corrupção sem fundo e não foram os EUA que descobriram isso porque de há muito que se sabia.
Se os EUA agiram, fosse qual fosse a motivação, prestaram um serviço ao futebol ao contribuirem decisivamente para afastarem Blatter e a corja de bandidos que o rodeavam e faziam da FIFA um lucrativo negócio para fins pessoais.
É verdade o que diz sobre a forma como Blatter controlava os votos das federações não europeias mas é mister reconhecer que o futebol "é" a Europa mais Brasil, Argentina e ,vá lá, o Uruguai.
São esses países da UEFA, mais os três sul-americanos,que dão ao futebol tudo aquilo que ele é termos de grandes competições, de espectáculo e de popularidade. E por isso compreende-se que especialmente a UEFA esteja farte de fazer girar um negócio em que depois são outros que mandam.
Sobre os mundiais creio que fui claro.
O de 2018 deve ser na Rússia e o de 2022 não deve ser no Qatar.
E isso não tem a ver com geo estratégias politicas mas sim com o que um país é para o futebol e o outro não é.