terça-feira, setembro 09, 2014

O Referendo

Na próxima semana realiza-se o referendo sobre a independência da Escócia.
Um assunto a que os políticos europeus vinham dando muito pouca atenção até ao momento em que as sondagens começaram a revelar a possibilidade de o "sim" sair vencedor e a nação escocesa se separar do Reino Unido.
Soaram as campainhas de alarme.
Desde o governo inglês , que prometeu um conjunto de regalias e benefícios fiscais aos escoceses se votarem "não" (parece-me que correm o sério risco de a habilidade se voltar contra eles), até à própria União Europeia que veio alertar para os riscos da estabilidade na Europa se a Escócia se tornar independente.
Admito que este ultimo argumento deve deixar os escoceses preocupadissimos....
A verdade é que a Escócia foi um país independente, durante quase mil anos, desde a unificação de vários pequenos reinos em 843 até 1707 quando através do "Tratado da União" foi criado o Reino Unido da Grã Bretanha naquilo que não foi mais do que a tentativa de absorção por parte do seu vizinho inglês.
Pese embora esse tratado, a abolição dos dois parlamentos nacionais(escocês e inglês)e a criação do Parlamento da Grã Bretanha e outras medidas politico-administrativas, a integração da Escócia no Reino Unido nunca foi uma questão bem resolvida.
Porque os escoceses mantiveram sempre um forte sentimento de identidade nacional e de distinção em relação a Inglaterra e ao restante Reino Unido do qual fazem igualmente parte a problemática Irlanda do Norte e o para já tranquilo País de Gales.
Na próxima semana dirão da sua justiça.
E se o "não" vencer, como é apesar de tudo mais provável, a questão não ficará resolvida em definitivo mas apenas adiada para um próximo referendo porque o tal sentimento de nacionalidade escocesa não vai desaparecer.
Se vencer o "sim" então a Europa dos 28 terá de se ajustar ao novo país, a um Reino Unido mais pequeno, e a todas as questões que se vão por desde a moeda até à própria integração de uma Escócia independente na União Europeia.
E, é claro, o incentivo que um "sim" vencedor dará a outras regiões que de há muito aspiram a separar-se dos espaços em que estão integrados.
Catalunha e País Basco à cabeça.
Um assunto a seguir com muito interesse.
Depois Falamos.

P.S Não deixa de ser curioso que muitas das reservas do políticos ingleses contra o que consideram ser o centralismo de Bruxelas sejam argumentos dos independentistas escoceses contra o centralismo de Londres

6 comentários:

Francisco Guimarães disse...

Tenho quase a certeza que se esses países fossem republicas já eram independentes à muito tempo. Aquilo que os liga é somente a monarquia e o "Reino Unido".
Acho também que não pode haver uma boa união se tudo (ou quase) estiver do lado de apenas um (neste caso: Londres).
A verdade é que a autonomia que a Escócia goza neste momento já é considerável (com a re-criação do seu parlamento em 1999) mas ainda é Londres que controla os impostos, o sistema de segurança social, o sistema de defesa, as relações internacionais e até o licenciamento de estações de tv e rádio!
E é no controlo de algumas dessas coisas que reside a vontade do "sim" no referendo.
Quanto à Catalunha e ao País Basco, embora já gozem de uma autonomia "ligeiramente mais autónoma" que a da Escócia (tem algum controlo dos impostos e seg.social) o nacionalismo e a vontade de controlar TODOS os impostos (que em tempos de crise económica e de escolhas cruciais no aplicar do dinheiro tornam essa questão fundamental) impele à vontade continua de independência.

A mim sempre me pareceu que a solução federalista (como a Norte-Americana, Brasileira ou Alemã) é sempre melhor que uma independência "forçada" mas nas ilhas Britânicas, como na península ibérica, as questões nacionalistas (e culturais e linguísticas) sempre impediram esse tipo de organização do estado e dos estados.
O modelo mais aproximado até será o da União Indiana (onde co-existem, línguas, culturas e até religiões diferentes) mas em todos eles existe algo que Unifica e "cola" os seus estados: uma moeda única, uma língua oficial única, uma representação internacional única e uma politica de defesa nacional única.
Enquanto os povos, que querem legitimamente a sua independência (no Reino Unido e em Espanha), não aceitarem essa "cola" a questão será sempre muito "quezilenta" e difícil de resolver.

luis cirilo disse...

caro Francisco:
Comentário muito pertinente o seu.
Com o qual concordo genericamente.
O problema,como refere, é que soluções como a americana são mais fáceis num país com menos de 300 anos do que em comunidades milenares como as europeias. Em que o sentimento de nacionalidade é muito mais forte e arreigado de geração para geração.
Esperemos que na Escócia seja possivel encontrar a "cola" mais adequada.

Defreitas disse...

Caro Amigo: Veremos se a Grande Bretanha vai aceitar , eventualmente, de perder 17% do PIB, de ver a Escócia subir no "ranking" das nações mais ricas da Europa - 7° lugar, acima da Inglaterra, e de ver "evaporar-se" assim o petróleo - 97%- e o gás -58%- das reservas do RU que muito arranjam hoje a economia britânica.

Com os seus 5 milhões de habitantes, uma musica, notas de banco, equipa de rugby e de futebol próprias, e mesmo paisagens únicas, os Escoceses têm muito pouco a ver com os Ingleses. Mas também têm ideias politicas diferentes, mais à esquerda, e são mais eurófilos, no momento em que o resto da Europa o é cada vez menos.

Mas a BP e a SHELL já começaram a ameaçar! E David Frost, presidente da Scotch Whisky Association já disse também que sem os ingleses para o comercializar , o Scotch vai ter dificuldades. Enfim, ainda não são independentes mais os problemas já começam!!!

Mas a seguir à Escócia, veríamos talvez, como muito bem escreveu a Catalunha, que seria mais rica que a Espanha, e o Pais Vasco, que trariam a Espanha para os tempos de Carlos V !

E depois virá a Padânia, que seria duas vezes mais rica que o resto da Itália, e a Flandres que seria duas vezes mais rica que a Valónia. Sem esquecer a Irlanda que arde de entusiasmo para deixar o RU.

E a UE , que com a ajuda da NATO quer empurrar as suas fronteiras até Moscovo, será uma manta de farrapos !

Anónimo disse...

Na parte que nos toca, esta questão nacionalista na Escócia despoletou outra que me entusiasma muito mais.
Comecei desde há dias a falar com um grupos de amigos, de várias sensibilidades desportivas, sobre a criação de uma eventual selecção nacional de Entre Douro e Minho.
De tanto desgosto estamos em relação ao actual estado das coisas e sobretudo por uma FPF amorfa e que tarda em reagir, confidencio ao Sr. Luís Cirilo que estamos a dar os primeiros passos em termos de discussão, para já, em círculo fechado.
Pode não dar em nada ou pode apenas ser o embrião de algo mais ambicioso. Temos o direito histórico do nosso lado uma vez que esta região existe há tantos ou mais anos que existe Portugal. Se Granada tem a sua selecção, as sete equipas da primeira divisão nacional dariam um contributo mais do que suficiente a esta nova causa, desde que abdicassem de fornecer jogadores à Selecção Nacional. Adianto-lhe que pelos contactos efectuados, uma boa parte da Galiza estaria disponível para participar nesta nova Selecção. Mas pelo provérbio muito antigo que temos, é que de Espanha, na qual não incluo a Galiza, nem bom vento, nem bom casamento.

Quim Rolhas

Rui Cordeiro da Silva disse...

Aqui está a comparar-se o incomparável: a Escócia é já um país, com a sua propria estrutura administrativa, bem como moeda independente da Libra Inglesa (que nestas situações tende a ser o factor mais importante de decisão).
No caso da Catalunha e do Pais Basco, a questão da independência torna-se muito mais difícil, dado que não são países (como a Escócia), são apenas regiões dentro de um país (usam a mesma moeda do país do qual se querem libertar e estão sujeitos a um mesmo sistema de administração territorial).
São, por isso, casos diferentes, mas tenho a noção de que muitos irão aproveitar (sem sucesso) o caso Escocês, para basearem as sua reivindicações.

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
Com a perspicácia habitual o meu Amigo colocou o dedo exactamente no ponto da ferida que mais dói a Londres.
O petróleo do mar do Norte e as receitas brutais que ele origina.
De resto estou totalmente de acordo com a sua análise sobre a realidade de uma Escócia independente. Que com os riscos que menciona, incluindo para o "scotch", me parece fazer sentido. Porque a Escócia é de facto uma Nação.
O resto da Europa, de Espanha a Itália, passando pela Bélgica e Irlanda sabem bem o que as espera depois de uma independência escocesa.
Caro Quim Rolhas:
aí está uma ironia adequada. à situação escocesa e á FPF/Gestifute. E ,falando a sério, conheço muita gente que acha que Portugal devia ser entre a Corunha e Coimbra. Com a capital em Guimarães é claro.
Caro Rui:
Eu não teria tanto a tua certeza quanto ás possibilidades de Catalunha e País Basco seguirem o exemplo escocês. E se no caso basco é mais dificil porque parte dele situa-se em França quanto à Catalunha não sei não...