Quem vai tendo a paciência de me ler sabe o que penso sobre o partido Chega.
Considero-o um partido da direita radical, que respeita a Constituição e professa valores democráticos, tem posições equilibradas sobre a União europeia, a moeda única e a NATO (ao contrário de outros partidos da sua área ideológica na Europa) e defende algumas causas que tem toda a razão de ser e que estavam orfãs de porta vozes.
Não o considero de extrema direita, muito menos fascista (em Portugal utiliza-se esse termo com uma ignorância brutal), nem vejo que entendimentos com ele por parte do PSD, nas regiões autónomas ou no todo nacional, ponham a democracia em perigo e o país em risco.
E portanto é um partido que respeito (muito mais que BE, PCP, Livre e PAN) e embora não sendo o meu e nunca nele tendo votado não tenho contra ele qualque preconceito ou posição de pé atrás como tantos politicamente correctos que por aí andam.
Com alguns excessos e alguma demagogia (mas quem nunca a praticou que atire a primeira pedra) soube chegar a muitos portugueses da direita à esquerda passando por importantes sectores de abstencionistas e a coragem de dizer em voz alta o que muita gente pensa mas não diz tem-lhe valido um exponencial crescimento eleitoral sem paralelo nestes 50 anos de democracia.
Um deputado em 2019, 12 em 2022, 50 em 2024!
É evidente que esse crescimento assenta muito na defesa das tais causas que estavam ao abandono, na coragem de sobre determinadas matérias assumir posições que outros em nome do politicamente correcto evitam e na liderança e mediatismo de André Ventura sobre quem assenta muito do mérito no crescimento do partido.
Percebo bem o entusiasmo que reina nas hostes do Chega com esse rápido crescimento e a ilusão que ele alimenta de poder continuar a verificar-se nas próximas eleições até um dia chegar à tal maioria absoluta de que se já ouviu alguns dos seus dirigentes falarem.
Acredito que ainda possam crescer mas não acredito que possam crescer tanto como pensam.
Mas o assunto deste texto é outro.
E tem a ver com o facto de o entusiasmo por esse crescimento, a moralizaçao advinda de as coisas lhe estarem a correr bem, a mal escondida ambição de uma desforrazinha sobre um "não é não" terem conduzido o Chega a dois erros graves nestas primeiras semanas de legislatura.
Um ao inviabilizar a eleição de Aguiar Branco obrigando o PSD a fazer uma acordo com o PS que dará a presidência do parlamento a um socialista na segunda metade do mandato.
Bem sei que algumas declarações de gente não mandatada para elas do PSD e do CDS também levaram a isso mas o Chega precipitou-se na reação (uma conversa olhos nos olhos com quem de direito talvez tivesse resolvido o problema) e acabou por ajudar o PS a ter aquilo que normalmente nunca teria.
A segunda foi a votação em conluio com o PS para abolição imediata das portagens.
Uma matéria que o PS sempre tinha rejeitado nas anteriores legislaturas (admito que ver o PS dar tamanha cambalhota tenha dado algum gozo...) e que não fazia parte dos compromissos eleitorais do Chega naquela versão imediatista.
O que levou a que a proposta demagógica e incoerente do PS fosse aprovada.
Mais uma vez com a mãozinha do Chega a ajudar.
São dois erros claros do Chega.
Que se esqueceu que um dos seus sustentáculos eleitorais fora a oposição cerrada ao governo de António Costa a par da garantia que só o voto no Chega permitiria varrer o socialismo da esfera do poder.
Não é a isso que se está a assistir!
E nestas primeiras semanas de legislatura o PS já obteve dois grandes triunfos, que nunca esperou possíveis, precisamente porque o Chega esteve ao seu lado algo que garantira que jamais aconteceria.
Tenho as maiores dúvidas que boa parte do eleitorado do Chega esteja satisfeito com isso.
Veremos o que dirão as sondagens nos próximos tempos mas desconfio que funcionarão como balde de água fria em cima do calor de um entusiasmo que de alguma forma cegou a orientação política do partido.
Depois Falamos.
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