Um último olhar sobre os candidatos que se apresentaram a estas eleições.
Pese embora os muitos nomes atirados para a praça pública a verdade é que na hora que realmente interessa- a da formalização das candidaturas- foram estes os cidadãos que disputaram a presidência da república.
E sobre eles direi o seguinte:
Marcelo Rebelo de Sousa: Era o melhor candidato, o mais conhecido, aquele com quem a maioria se identificava. E por isso ganhou tranquilamente à primeira volta. Creio que sobre ele não valerá a pena dizer mais.
Sampaio da Nóvoa: Tornado conhecido por ...Cavaco (noutro contexto é claro) o antigo reitor surgiu meses atrás como um quase "Messias" das esquerdas capaz de devolver a essa área política um palácio de Belém que nunca se conformaram em ver ocupado durante dez anos pelo social democrata Cavaco Silva. "Apadrinhado" pelos três anteriores presidentes (Eanes, Soares e Sampaio) e por grande parte da nomenclatura socialista nunca conseguiu o apoio individual de António Costa e colectivo do PS dividido em várias candidaturas. Com muitas candidaturas à esquerda nunca conseguiu sobressair como um alternativa "séria" a Marcelo e a memória que deixa destas eleições é a forma digna como soube assumir a derrota.
Marisa Matias: Conseguiu o melhor resultado de sempre do BE e isso deve-se ao discurso, ao tipo de campanha que fez e à inovação que o BE trouxe à política portuguesa ao ter como principais figuras mediáticas três mulheres. A candidata,a líder Catarina Martins e "estrela" maior do seu grupo parlamentar Mariana Mortágua.
Tudo isso são méritos do Bloco.
A que o argumento de mau perdedor usado por Jerónimo de Sousa (a candidata engraçadinha) terá ajudado mas não foi factor decisivo no resultado alcançado. A verdade é que os eleitores preferem candidatos sorridentes e com um discurso minimamente diferente a cassetes mil vezes ouvidas e desta vez repetidas por um candidato "cara de pau".
Maria de Belém: Andou durante semanas, pese embora a vacuidade do discurso e as opções de campanha difíceis de perceber, a discutir a segunda posição com Sampaio da Nóvoa. Ao contrário deste não teve o apoio (escondido mas apoio) da direcção do PS mas pôde contar com alguns "pesos pesados" do partido como Almeida Santos, Manuel Alegre, Jorge Coelho ou Vera Jardim.
Até que na última semana tudo correu mal.
A morte de Almeida Santos, que a levou a parar a campanha numa altura em que as campanhas não podem parar (lembrou-me logo Pedro Santana Lopes em 2005 ,aquando da morte da "Irmã Lúcia",a suspender a campanha do PSD nas legislativas dando todo o espaço nesses dias a José Sócrates) ,mas essencialmente com a questão das subvenções vitalícias com o Tribunal Constitucional a divulgar(convenientemente para alguns) a decisão no inicio da ultima semana de campanha e "mão amiga" -seguramente de apoiantes de Nóvoa- a fazer chegar à comunicação social a lista dos deputados que tinham subscrito o pedido de verificação de constitucionalidade.
A partir daí foi uma queda abrupta nas intenções de voto que os resultados se encarregaram de confirmar.
Um "adeus ás armas" sem honra nem glória para uma candidata que terá sonhado ir a uma segunda volta.
Edgar Silva: Só o conhecia, e muito mal, da acção política na Madeira onde ganhara relevo como opositor ao PSD e a Alberto João Jardim.
Conhecia-o mal e talvez por isso, muito na pré campanha, me tenha parecido uma jogada inteligente do PCP ao lançar um candidato com características muito próprias (fora padre por exemplo) e nada desgastado nas lutas políticas continentais.
Mas desde cedo percebi que era uma aposta totalmente errada.
Discurso antiquado, apelo a chavões de que já ninguém com menos de quarenta anos sabe o que significam (os "valores de Abril" por exemplo), um monolitismo que reportava completamente ao antes de 1989 e à queda do muro de Berlim.
Em muitos dos debates, e nalguns dos discursos que vi nas reportagens televisivas, lembrou-me irresistivelmente Octávio Pato candidato do PCP em 1976 .
Acontece que passaram quarenta anos.
Será no PCP ninguém deu por isso?
A verdade é que se a campanha de Edgar era também um tirocínio para uma futura liderança, como alguns comentadores aventaram, os resultados devem dar muito que pensar ao Comité Central.
É que com protagonistas e discursos deste género as mulheres do BE podem dormir sossegadas quanto à liderança da extrema esquerda.
Vitorino Silva: Era o mais improvável dos candidatos e muito boa gente duvidou que conseguisse sequer arranjar as assinaturas necessárias.
A verdade é que conseguiu.
E depois fez uma campanha muito humilde, muito modesta, mas muito simpática e dizendo coisas que as pessoas gostavam de ouvir.
E dado ser dos dez aquele que mais parecia um "anti candidato", aquele que menos as pessoas identificavam com um político ocupante de cargos de elevada representação, conseguiu polarizar em si o chamado voto de protesto. O daqueles cidadãos que não gostam dos políticos e dos partidos que temos, não gostam do nosso sistema político, tem da política uma péssima imagem mas querem com toda a legitimidade exprimir isso através do voto e não da comodidade da abstenção.
Não do voto em branco, ou do voto nulo, mas votando num "não candidato" e dessa forma dizendo aos partidos e aos políticos que os detestam tanto que se deram ao trabalho de saírem de casa para irem votar num candidato com o perfil de Vitorino Silva.
Foram 152.068 os que desta vez pensaram assim.
E esse é um número que deve merecer atenta ponderação dos partidos e dos responsáveis políticos porque a tendência pode ser para...aumentar.
E esse sério aviso, o de que há cada vez mais eleitores fartos dos partidos e dos seus protagonistas, é o legado que a candidatura de Vitorino Silva deixa destas eleições.
Uma candidatura que em três distritos (Viana-Porto-Viseu) conseguiu ser a quarta mais votada e em onze ficou à frente do candidato do PCP e da sua poderosa máquina eleitoral.
Paulo Morais: Era o candidato de uma "causa" única e para lá dessa causa pouco restava. E os eleitores perceberam isso na sua plenitude. Ainda assim, acredito que mais pela "causa" que pelo candidato, deram-lhe 100.000 votos o que terá servido de parca consolação a quem no pós eleição anda a pedir donativos para pagar a campanha.
O que em boa verdade não condiz nada com o moralismo de que o candidato gosta de fazer a sua imagem de marca.
Henrique Neto: Lembrou-me várias vezes o "Zangado" de "Branca de Neve e os 7 Anões"!
E embora o "Zangado" fosse o "anão" mais sensato (a par do "Mestre") e aquele que dizia coisa mais ajuizadas a verdade é que dizia-o com aquele ar zangado que não o tornava simpático a quase ninguém. Ao contrário do "Dunga", do "Atchim" e dos outros.
Quando a isso se soma uma idade (79 anos) provecta é difícil um candidato poder aspirar a mais do que àquilo que este teve.
Dizia coisas certas, tinha razão em muita coisa, mas este já não era o seu tempo.
Jorge Sequeira: É daqueles candidatos que chega ao fim de uma campanha não só sem se perceber o que andou lá a fazer mas essencialmente sem se perceber porque foi candidato. Dele não ficou uma ideia, uma proposta, um motivo para recordar a sua participação.
É simpático e divertido, tem um gosto original por indumentárias e óculos, mas isso justifica ser candidato presidencial?
Creio que não.
E por isso os 13.765 votos que conseguiu apenas podem ser levados à conta de uma grande generosidade dos eleitores.
Cândido Ferreira: Teve vários azares. Dois por culpa própria ao faltar aos debates onde poderia, ao menos, ter-se tornado mais conhecido dos eleitores e ao lançar suspeições sobre outros candidatos que nunca conseguiu provar. E os eleitores estão fartos de provar que não gostam disso.
Os outro tiveram a ver com o contexto.
Na sua área política, o PS, já havia mais quatro candidatos que por razões diversas eram mais populares que ele. Desde os "oficiais" Nóvoa e Belém aos "oficiosos" Vitorino Silva e Neto.
E se os dois primeiros estavam, por natureza, noutro patamar de ambição já os dois seguintes preenchiam melhor que ele os patamares onde podia ter encontrado o seu nicho eleitoral.
Vitorino como outsider era melhor e Neto fazia melhor o papel de "zangado" com a política e os políticos. Para além de qualquer um deles ser, por razões diferentes, bem mais conhecido.
Assim sendo o resultado apenas podia ser o que foi!
E foi com estes dez candidatos que se fizeram as presidenciais de 2016.
Iguais no respeito que lhes é devido e no direito de serem candidatos.
A diferença entre eles foi estabelecida, como é de seu direito, pelos eleitores.
E creio que diferenciaram bem.
Depois Falamos
(Continua)