quinta-feira, outubro 01, 2009

Nunca Mais !



É muito invulgar a publicação neste blog de textos que não sejam escritos por mim.
Aconteceu duas vezes em mais de 1500 postagens.
Mas este comentário do meu amigo Freitas Pereira, colocado na postagem "Basta", é de tal forma extraordinário que seria uma pena "perder-se".
Escusado será dizer que partilho totalmente dos pontos de vista deste vimaranense, vitoriano, homem da cultura e cidadão do mundo.
Depois Falamos

O ano passado tive a oportunidade de assistir a um jogo em Guimarães, com um amigo comum. Fiquei espantado com a linguagem malcriada, alguns palavrões que até já tinha esquecido, e sobretudo os insultos a todos : ao arbitro, aos jogadores da casa e aos adversários.
Homens e mulheres comungavam da mesma violência verbal.
Fiquei arrepiado do que vi e ouvi.
Assisti também, por acaso, a um jogo em Milão este ano.
O ambiente não era melhor e descobri mesmo um insulto que em Guimarães não ouvi : o insulto racista.
Tão violento que saí antes do fim.
Caras jovens, olhares jovens, pele lisa.
Menores segundo o estado civil, crianças na cabeça deles. A pior juventude, olhos sem medo nenhum. Mesmo duas moças que empunhavam uma bandeira “ em porções, letra por letra, “ G.O T M I T U N S “” ( elas nem sabiam que Gott se escreve com dois tês!, e se calhar são alunos de Alemão! “ Gott mit uns” era o que estava gravado nos cinturões dos SS nazis – “ Deus connosco - !Uma loira, barrete militar à Che Guevara, género pin-up, casaco forrado, empunhando bem alto a letra “S” na forma da cruz hitleriana ( Suastica).
Pobre Albert Camus que, antigo guarda-redes, tinha dito : “ O estádio é o ultimo sitio onde me sinto inocente !
“ Basta olhar à volta , o vestuário : os jeans, os pulóveres, os sneakers, os anoracks. Cachecóis à volta do pescoço ou sobre as ancas.
As marcas são as da publicidade, daqueles que querem ser bem vestidos, e não estar desactualizados!Estes jovens que largaram a mobylette à bocadinho ? Vestidos como à saída escola : Nike, Converse, Face, Slam, Carhartt!
Provavelmente presentes de Natal, para recompensar uma boa nota !
Aqueles mesmos que procuram tornar visível uma confusão espiritual, Os mesmos que telefonam à rádio local para dedicar a canção “Fuck” de Eamon à amiguinha, pensando que se trata duma canção romântica.
Vi uma outra loirinha, carinha angélica, pulóver rolado, atras duma bandeira do Duce e uma bandeira fascista. Tranquila, como se ela estivesse numa “happy hour” milanesa com as amigas ! Desculpe qual é a sua marca de rímel ? Ao lado haviam que falavam no telemóvel, apoiados a uma bandeira nazi.
Modernidade e passado horrível, como se fosse nada!
A segurança, a normalidade do olhar assusta, como se o estádio fosse a caixa do lixo onde se pode libertar da sua própria bestialidade. Isto faz-me pensar noutras fotos de racismo, as das linchagens dos negros do Alabama, onde os Negros linchados pendiam das arvores, os frutos estranhos que cantava Biliie Holiday, com alguns brancos prontos para a foto, com o sorriso nos lábios.E claro perguntamos : mas que diabo, um pouco de vergonha, um pouco de decência, baixem os olhos garotos!
Porquê estes insultos ?
Sabem ao menos o que insultam ?
E aqui recordo uma viagem a Auschwitz onde cruzei um grupo de alunos em viagem escolar.
Ai Amigo Cirilo, aquelas gargalhadas, aquelas discussões no telemóvel, o som dos telemóveis que acordam os mortos, nenhum respeito pela historia.
Mas no fundo, pensam eles, decerto : porque é que eles deviam ser diferentes no estádio ?São os mesmos que de tarde foram ao cinema ver a “Lista de Schindler” e à noite vieram ao estádio alinhado-se ao lado dos tiffosi nazis! Ho eles não são todos ‘bad boys’, eles são mesmo capazes de ajudar a velhinha com o seu saco de compras!Que sabem eles realmente da cruz gamada, e da Shoah ?
A minha volta não havia muitos idosos, reformados ou adultos que cresceram com o futebol., mas jovens das praças, dos muros e das escolas ; alguns casais que se beijam e riem , por baixo das bandeiras nazis , símbolos do passado.
Ninguém que venha dizer a esta gente : por favor : evitem esta indecência!
E ninguém dirá nada porque muitos daqueles que lá vêm e agem assim estão convencidos que no estádio deve-se ser brutal, e que isso é legitimo.
Se eles já são assim aos 15 anos, como serão aos 25 ?
Por isso, o seu grito, justificado, pode talvez ser atenuado por esta recordação de S. Siro, onde as coisas ainda são piores.
Texto de Joaquim Freitas Pereira

11 comentários:

Anónimo disse...

Caro Cirilo, sou visitante assíduo deste blog, resolvi comentar este post porque acho que tenha algo a dizer acerca deste assunto, porque sou vitoriano, gosto de futebol e de claques.

O fenómeno da politica a entrar nas claques do vitoria desde dos anos 90 ate aos dias foi muito pequeno e a maioria dele ridículo. Acompanhando sempre os ultras italianos e espanhóis através de revistas do género ou jogos da liga dos campeões os ultras portugueses iam copiando os ultras lá de fora, inclusive nos símbolos e logótipos que queriam utilizar nos estádios.

Por todo o Portugal apareceram faxas e panos com cruzes celtas, suásticas, S a moda do schutzstaffel, foices e martelos estrelas vermelhas, che guevaras...
Guimarães não fugiu a regra com os insane guys a usarem um misto entre cruzes celtas e che guevaras. Nos white angels aconteceu também algo do género.

Quanto ao texto do Joaquim Freitas Pereira, não é nada que me impressione, a cultura juvenil esta cada vez pior, sempre existiram sub-culturas que as pessoas adoptam ao longo da vida por gostos politico, sociais, musicais, artísticos, desportivos... São exemplos os metaleiros, rockers, hip-hopers, hippies, motards, comunistas, fascistas, skinheads, boneheads, hooligans, mods, casuais, ultras...

Muitas destes exemplos que eu nomeei se colaram ao futebol, e o resultado é o que se vê por esses estádios de todo o mundo.
Agora gostava que este mesmo senhor fosse ver um jogo do livorno, concerteza também teria muito a dizer sobre esses mesmos adeptos não fossem eles assumidamente de extrema-esquerda.

No passado jogo com o leiria fui um dos muitos que insultou o arbitro, que tratou mal o vingada para o caralh* e milo com ele, porque a paciência tem limites. Cresci a ver o futebol, quando em pequeno ia ao futebol via o mesmo ou pior portanto acho que o que se passou na segunda não é nada de anormal, vindo de adeptos fervorosos e que pressionam tanto como os nossos.

Um abraço vimaranense e vitoriano
Armando José Costa

Anónimo disse...

Dr.Luis Cirilo

Este testemunho não é de um VITORIANO, mas sim de um bracarense, ele veio com um amigo VITORIANO, e mais valia não ter vindo.

O Futebol hoje em dia é GANANCIA, ROUBOS, VIOLENCIA, SUBORNO, CORRUPÇÃO, ETC, ETC, ETC

Pior que chamar palavrões a pessoas que não são tão inocentes assim, é fazer de nós (adeptos) burros, fezerem-nos gastar dinheiro, num desporto que está complectamente VICIADO.

O Dr. ainda estes dias escreveu aqui que o "campeão já está escolhido", diga-me por favor se há maior insulto que esse!

Deixam-nos gastar dinheiro, sabendo de ante-mão que será mal aplicado.

Este é o meu ponto de vista, não quer dizer que concorde, com a violencia verbal, antes pelo contrario, mas não vou deixar de ser VITORIA, só porque o visinho do lado diz uns palavrões, que bem analisado até pode ter razão.

Um abraço
APL

Anónimo disse...

Vitoriano? E o próprio diz que assistiu apenas a um jogo? Tá explicado.

luis cirilo disse...

Caro Armando Costa:
O texto de Joaquim Freitas Pereira é, do meu ponto de vista, um manifesto contra a intolerância.
Seja de direita seja de esquerda.
No caso particular das claques violentas,que utilizam a horrorosa simbologia nazi,elas devem ser combatidas com o máximo rigor e sem qualquer cedência ou tolerância.
Porque a humanidade não tem o direito de esquecer as atrocidades do nazismo.
Quanto ao resto devo dizer-lhe,com todo o respeito,que a cultura do insulto não é a minha cultura.
Nem nos estádiso,nem na politica nem em qualquer acto social.
E digo-lhe uma coisa; as cedências que o futebol permite (como se um estádio fosse um espaço onde não existem regras de conduta) abrem a caixa de pandora de outros comportamentos.
Caro APL:
Não comentarei,sequer,as considerações que faz em relação ao "autor" do texto.
Porque ele escreve também contra qualquer género de fanatismo e a parte incial do seu comentário está impregnada desse tal fanatismo.
Compreendo a sua indignação quanto ao actual estado do futebol português.
É também a minha.
Mas acredite caro APL que não os combatemos tornando-nos piores do que eles.
O Vitória tem de se afirmar de outra forma.
Caro Anónimo:
Não,não está nada explicado.
Porque quando olhamos para as coisas pela rama arriscao-nos a cometer erros grosseiros.
O Joaquim Freitas Pereira reside há dezenas de anos fora de Portugal .
Vem cá esporádicamente visitar familiares e amigos.
Anos há em que nem a Portugal vem.
De uma das ultimas vezes que veio aproveitou para ir ver o Vitória.
Portanto é exactamente ao contrário do que você pensa.
As conclusões apressadas raramente são acertadas.

Pedro disse...

Caro dr. Círilo, não considero nada de especial este texto, aliás, não apresenta nenhum dado relevante, a não ser para o próprio, que pelos visto nunca havia assistido a um jogo de futebol. A maior parte das claques, compostas essencialmente por jovens, utilizam símbolos e imagens que não compreendem, desconhecem o seu significado e apenas o fazem com o intuito de provocar...é somente uma idiotice.
Então, devemos ser tolerantes? penso que devemos ser comedidos e não hiper-valorizar um fenómeno que, salvo raras excepções, não tem qualquer expressão, nomeadamente no futebol.

Inquieta-me muito mais este novo fenómeno, do revisonismo histórico, feita com objectivos e por gente com responsabilidades.

Um abraço

Pedro Costa

luis cirilo disse...

Caro Pedro Costa:
O retrato de ignorância que você pinta dos jovens que usam simbolos cujo significado não conhecem já é preocupante.
Mas infelizmernte a relevância do assunto é bem pior.
Porque usam os simbolos e adoptam os coportamentos violentos,xenófobos e racistas que eram uma da simagens de marca da barbárie nazi.
E usar para com essa gente a minima tolerância é dar azo ao expansionismo do fenómeno.
Jovens são as crianças dos infantários.
A partir dos 18 anos são adultos com direitos e deveres perfeitamente definidos.
E quem vê as imagens da violência á volta dos estádios percebe bem o entendimento que essa escumalha tem do cumprimento das leis.
Acho,contudo,curiosa essa presunção de que o Joaquim freitas Pereira só tenha ido uma vez ao futebol.
Sei que já foi muitas mais.
Mas ainda que não tivesse ido tal seria condição necessária para se pronunciar sobre os coportamentos criminosos de algumas claques ?
Vamos ,desde já,esforçarmo-nos por sermos tolerantes nos coimentários porque até parece ser crime apontar o dedo a algumas situações.
Quando o crime está,precisamente,nas situações.

freitas pereira disse...

Creio que é incontestável que o desporto é um elemento importante na sociedade contemporânea.

Por conseguinte, é normal que ele nos concerne a todos porque ele é o espelho da nossa sociedade.

Não penso que seja necessário assistir a todos os jogos de futebol para o constatar, embora tenha visto muitos e continue.

Basta interessar-nos um pouco ao desporto em geral através dos média , eventualmente.

Objectivos ? Quais objectivos ?:

O desporto é frequentemente apresentado pelos ideólogos desportivos como sendo não-politico ou apolitico..

Isso é uma ilusão e pode ser demonstrado que existe no desporto uma função política. O século passado abonda de exemplos nos quais o desporto e a política estiveram ligados.

Posso mencionar os jogos olímpicos de Berlim (1936), que tinham por objectivo de demonstrar a superioridade da raça ariana, base do nazismo..

Os atletas podem também utilizar o terreno desportivo para reivindicar direitos : recordemos o punho levantado e as luvas negras (símbolo do
" black power") dos americanos Tonnie Smith e John Carlos sobre o pódio do 200 metros nos jogos olímpicos de México em 1968 para condenar publicamente a condição dos afros-americanos nos Estados Unidos.

Quando , em 2001 a China foi designada para acolher os Jogos Olímpicos de 2008, o mundo ocidental democrata, o mundo livre , fingiu, num belo elenco, que a ditadura comunista ia desaparecer dela mesmo.
A democracia a través do desporto ? Certamente, muitos assim creram .
A realidade foi outra. Mas a China ganhou muito com isso.

Estes exemplos históricos das relações entre mundos desportivo e político mostra que a esfera desportiva não é distinta da vida social. Postulo, mais precisamente, que o desporto e a sociedade estão intimamente correlatados, em particular, no plano das desigualdade sociais.

Se o desporto é um espelho da sociedade podemos dizer que o julgamento positivo define o como o microcosmo dum sistema social alargado , reflectindo a ideia positiva segundo a qual a ordem social se funda num consensos, sobre valores comuns .

Definir quais são estes valores comuns seria abusar deste espaço. Mas o civismo, a educação, a tolerância , a cultura fazem certamente parte.

Defender estes valores comuns através do desporto não é obra de revisionismo histórico.

O julgamento negativo consiste em definir o desporto como uma esfera reflectindo os aspectos negativos da sociedade tais como as desigualdades sociais ou o racismo.

Não é obra de revisionismo histórico que de combater estas tendências e que é mesmo necessário combatê-las vigorosamente, porque elas são a negação da nossa sociedade, na qual temos que aceitar o "outro" mesmo e sobretudo se ele é diferente.

Pedro disse...

Bom dia, quando me refiro a revisonismo histórico, não me estou a referir nem aos comentários de Luís Círilo ou de Freitas Pereira, estou a falar de historiadores!!!

Abraço

Pedro Costa

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
Acho que a linha dominante desta troca de opiniões, e na qual estamos de pleno acordo,é que um recinto desportivo não pode ser um local de excepção.
Á porta do qual se suspendem valores civilizacionais que depois são retomados no fim do prélio desportivo.
Porque quem se porta mal dentro do estádio tende a portar-se mal fora dele.
E a função dos estádios não é serem incubadoras de delinquência e marginalidade.
Caro Pedro Costa:
Eu entendi o seu comentário.
Alias para revisionismo histórico já nos basta esta palhaçada em volta do pretenso nascimento de Afonso Henriques em Viseu!!!

cristal disse...

Caro Cirilo.
O que é assustador é constatar que existe uma classe de pessoas que, provavelmente por ignorância, ou pior por completa insensibilidade, desvalorizam a história e os ensinamentos que lhe deveriam estar associados. O Autor do texto relembra coisas muito importantes e que apenas pelas razões assinaladas são desvalorizadas. Que povo este! Já há algum tempo manifestei o meu desagrado pelo mundo do futebol (tenho pena mas quase nada nesse mundo me é agradável; esta reflexão de JFP vem apenas recordar que este não é o caminho. O mesmo direi em relação aos desacatos de rua em plena campanha eleitoral. Vale tudo? Não creio. A Direcção do VG poderá fazer alguma coisa a bem da cidade e dos cidadãos que gostam de futebol e não são arruaceiros? Se calhar está na hora...

luis cirilo disse...

Cara Cristal:
A falta de memória dos povos é,muitas vezes, o lugar onde incubam as piores repetições da História da humanidade.
Assim é em relação ao nazismo.
Nasci bastante depois do fim da II Guerra Mundial mas é um periodo que me fascina e sobre o qual tenho lido bastante ao longo da minha vida.
Ainda agora estou a ler uma História da II Grande Guerra de Martin Gilbert.
E daí o meu horror puro á ideologia nazi.
Arrepia-me ver jovens de hoje a usarem essa simbologia.
Será por ignorância,admito,mas é uma vergonha.
A ignorãncia e o pretenderem reavivar um dos periodos mais negros da História do Homem.
Quanto aos desacatos em estádios são,simplesmente,casos de policia.
Agora quando existem clubes(não o Vitória felizmente) em que os presidentes usam as claques como guardas pretorianas é mais dificil resolver o assunto.
Porque ninguém tem coragem de tratar esses presidentes com a dureza necessária.
A que se aplica a quem incentiva ao banditismo