quinta-feira, dezembro 07, 2023

Simpatias

A propósito de um programa televisivo que vi um destes dias, sobre um dos mais tradicionais clubes portugueses (já lá iremos) , ocorreu-me uma reflexão sobre até que ponto o adepto de um clube pode ter alguma simpatia por outros clubes que não o seu sem que isso signifique qualquer dúvida ou sintoma de abominável bi clubismo.
E conclui que pode.
Porque o futebol em particular e o desporto em geral não são uma guerra nem um confronto hostil mas espaços em que deve haver lugar ao fair play , ao desportivismo e ao reconhecimento do inegável  mérito alheio.
Afinal como em tantos outros sectores da vida.
E olhando para o panorama nacional (quem tem a paciência de me ler sabe que lá fora nutro simpatia por Barcelona e Atlético de Bilbau, Liverpool e Newcastle, Milan e Nápoles) constato que ao longo dos anos fui ganhando alguma simpatia por vários clubes e pelas mais diversas razões algumas das quais não totalmente explicáveis.
Daqueles que jogam actualmente na primeira liga , para lá do Moreirense que é de Guimarães e portanto um caso à parte, já referi várias vezes a simpatia pelo Desportivo de Chaves representante maior de uma região e de de uma cidade de gente boa onde já fui várias vezes acompanhando o Vitória (e em turismo também) e onde sempre fui bem recebido não tendo memória de qualquer problema.
Se tivesse segundo clube em Portugal seria o Chaves. Mas não tenho!
Mas cito também o Farense, clube simpático cujo equipamento é por vezes idêntico ao do Vitória o que no passado originou saborosas confusões aquando a entrada em campo das equipas era separada e o clube da casa é que tinha de mudar de equipamento em caso de semelhança, e que com altos e baixos se consegue afirmar como um emblema tradicional do nosso campeonato.
Mas confesso que as simpatias, eivadas de saudosismo, estão também viradas para o passado e para emblemas há muito desaparecidos dos holofotes mediáticos da divisão maior.
Por exemplo o União de Tomar.
Que foi o único clube do distrito de Santarém a jogar na primeira divisão, onde terminaram as carreiras nacionais dois nomes maiores do nosso futebol (Eusébio e Simões), sedeado numa das mais bonitas cidades portuguesas e onde um dia, ainda miúdo, vi o Vitória sofrer uma derrota que na altura ainda não o sabía mas seria uma das causadoras de no final do campeonato não termos vencido o titulo que tanto merecíamos.
O Barreirense.
Clube tradicional da margem sul, alfobre de grandes jogadores de que Chalana, Bento e Carlos Manuel são três exemplos bem conhecidos, que marcou uma época no futebol português precisamente como fábrica de talentos e que chegou a andar nas competições europeias mas que os anos a seguir ao 25 de Abril foram nefastos atirando-se sem regresso à vista para escalões inferiores.
E para os mesmos lados a CUF.
Exemplo bem sucedido, desde os anos 50 até ao 25 de Abril, de clube/empresa ou empresa/clube mais propriamente e que muitos anos antes do aparecimento das SAD conseguia fazer um "casamento" perfeito entre os interesses da empresa -Companhia União Fabril- e o seu grupo desportivo conhecido como CUF permitindo que este tivesse equipas competitivas e assim divulgasse no país e no estrangeiro (também chegou a andar pelas competições europeias) o nome da empresa.
Para lá do mais tinha um éxcelente estádio, que ainda se mantém, e jogadores de excelente nível como Manuel Fernandes, Capitão Mor, Fernando Oliveira e o eterno Arnaldo um grande jogador que nunca teve o reconhecimento que o seu talento merecia.
Mas tal como o vizinho Barreirense também o 25 de Abril lhe foi fatal com os problemas na empresa que se repercutiram no clube e que o atiraram para escalões inferiores de onde só agora parece estar a dar indicios de poder regressar.
E o Atlético.
O velho e popular Atlético Clube de Portugal, rival eterno do seu vizinho Belenenses, que participou durante muitos anos nos campeonatos da primeira divisão, chegou a finais da Taça de Portugal mas a quem a construção da ponte sobre o Tejo deu uma machadada tremenda porque dividiu o bairro de Alcântara e obrigou a que muitos dos seus moradores tivessem de ir residir para outras zonas de Lisboa e arredores privando o clube do seu apoio constante.
E, é claro, o clube onde se formou e apareceu na ribalta um jogador chamado Tito que é ainda hoje, e dificilmente deixará de ser, o maior goleador da História do Vitória. 
Curiosamente não viria do Atlético para o Vitória mas sim via União de Tomar onde jogou uma época depois de sair dos alcantarenses e antes de chegar a Guimarães.
Sendo certo que nesta simpatia pelo Atlético tem o meu amigo Carlos Gonçalves alguma responsabilidade.
E vamos então programa de televisão que motivou este texto e que se debruçou sobre o clube cuja fotografia aparece em primeiro lugar.
O Olhanense.
O velho e carismático Olhanense, campeão de Portugal em 1923, que com uma longa e honrosa história no nosso futebol se viu uma década atrás envolvido num negócio ruinoso, com supostos investidores italianos, que teve como consequência atirar com o clube da primeira divisão nacional para a segunda divisão distrital do Algarve onde agora compete e que é um claro aviso (se necessário fosse tantos os maus exemplos) para os clubes portugueses quanto á qualidade dos "investidores" que por aí aparecem prometendo mundo e fundos e depois desaparecem deixando os clubes sem mundo e sem fundos e mergulhados em abismos de onde lhe é difícil sair.
Pois um destes dias no imperdível "Cândido on Tour" do Canal 11 vi o grande comunicador que é Cândido Costa fazer uma excelente reportagem sobre o Olhanense, e a paixão que Olhão devota ao clube, com a curiosidade de esta tentativa de regresso a patamares que são os seus ser liderada por esse grande nome do nosso futebol chamado Manuel Cajuda, que tão querido é dos vitorianos, que depois de uma longa carreira como treinador decidiu passar a dirigente e colaborar activamente na recuperação do clube da sua terra.
União de Tomar, Barreirense, Cuf, Atlético e Olhanense.
Cinco emblemas históricos do nosso futebol que um dia gostaria de voltar a ver, não necessariamente todos ao mesmo tempo, a pisarem os relvados da primeira divisão como seus membros de pleno direito e dando uma maior amplitude histórica a um campeonato que com isso beneficiaria.
E quem diz estes diz outros como Sporting da Covilhã, Lusitano de Évora e Campomaiorense que no seus tempos aureos  representaram bem um interior que hoje está praticamente reduzido ao Desportivo de Chaves.
Depois Falamos

Em tempo: Claro que quando falo de clubes pelos quais tenho simpatia não posso esquecer o Sport Futebol Palmense.
Que joga na II divisão da Associação de Futebol de Lisboa e cujo campo de jogos via da varanda de minha casa quando residia em Lisboa( no prédio mais alto ao fundo da imagem) acompanhando com curiosidade alguns treinos e jogos e tendo mesmo ido assistir a alguns nas bancadas do estádio. E ainda hoje sigo atentamente o Palmense nas redes sociais. 

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