O meu artigo desta semana no zerozero.pt
Uma reflexão desprovida de qualquer tipo de clubite, de simpatias ou antipatias, sobre o que tem sido o modelo presidencial de dois dos principais clubes portugueses no seu contexto e dimensão.E também até que ponto esses modelos tem contribuído para o sucesso e insucesso dos respectivos clubes.
Refiro-me a Vitória e Braga.
Os dois clubes que disputam a hegemonia distrital e sempre que podem os lugares de topo da tabela, mas que ainda não conseguiram ser campeões nacionais, e que nesse âmbito são hoje os dois principais clubes portugueses face aos problemas em que mergulharam outros emblemas tradicionais como Boavista, Belenenses e Vitória Futebol Clube.
Começo pelo Vitória.
Cujo modelo de gestão ao longo dos seus quase sessenta primeiros anos de vida assentou numa rotação de presidentes, normalmente escolhidas entre os principais industriais e comerciantes do concelho de Guimarães, e em direcções colegiais onde tudo se decidia e tratava sem áreas reservadas aos assuntos que exigem hoje outro tipo de sigilo.
Esse modelo permitiu-lhe ser hegemónico no Minho, disputar o acesso a competições europeias de vez em quando, quase o levou ao titulo nacional em 1968/1969 (ficou a três pontos...) mas esgotou-se em si próprio porque o clube raramente deixava de ser aquela equipa simpática que jogava bom futebol mas pouco incomodava e não saía dessa rotina.
Depois chegou António Pimenta Machado.
E o clube cresceu bastante em termos desportivos, imenso em termos patrimoniais e tornou-se um clube de dimensão nacional pese embora não ter ganho mais que uma supertaça e algumas competições no futebol de formação.
Quando o ciclo terminou, ao fim de 24 anos, o Vitória era um clube completamente diferente para muito melhor e podia acalentar legítimas ambições de dar o salto para regulares sucessos desportivos e conquista de troféus.
E se é verdade que nos vinte anos seguintes, até à actualidade, ganhou uma Taça de Portugal em futebol ( e perdeu mais duas finais), ganhou titulos na formação e vários titulos nacionais , taças de Portugal e outras competições nas modalidades (basquetebol, voleibol, pólo aquático, etc) é igualmente verdade que o regresso à rotação de presidentes (5 desde Pimenta Machado) o fez perder influência, notoriedade, respeito dos orgãos e a tal estabilidade desportiva que se julgava potenciadora de sucessos mas que nunca chegou a existir.
E fê-lo perder, também , a tal hegemonia no Minho.
Precisamente porque o grande rival aprendeu com o Vitória a lição para trilhar o caminho do sucesso.
Depois de muitos anos de grande rotação presidencial, que levou até a que o presidente de câmara, Mesquita Machado, fosse em simultâneo presidente do clube por não haver mais ninguém ou porque quem havia não interessava ao poder camarário, o Sporting de Braga com a chegada à presidência de António Salvador em 2003 entrou no caminho da estabilidade e do sucesso desportivo que o Vitória nunca teve.
Em vinte anos de presidência de Salvador o Braga ganhou taças de Portugal e taças da Liga, disputou uma final da Liga Europa, foi vice campeão nacional, ganhou muitos titulos e troféus nas modalidades e construiu um excelente património desportivo.
E como consequência disso arrebatou a hegemonia minhota ao Vitória e tornou-se em vários parâmetros, não em todos, o quarto clube português e aquele que em regra mais disputa os primeiros lugares aos seus tradicionais ocupantes.
São factos!
Com a ironia, que potencia a rivalidade, de tendo copiado o modelo presidencial do Vitória estar a ter indiscutivel sucesso enquanto o criador do modelo não soube dar-lhe continuidade e regrediu de forma significativa com o acréscimo problemático de tendo voltado aos tempos pré Pimenta Machado o fez mergulhado em problemas financeiros que nesse tempo não existiam.
E por isso se durante oitenta anos o Vitória foi quase sempre melhor que o Braga, e bastará atentar no facto de ser o quarto clube nacional em termos de número de participações na primeira divisão (o Braga tem menos onze), há que reconhecer que nestes vinte em que o Braga adoptou um modelo presidencial “ à Pimenta Machado” tem sido quase sempre melhor que o Vitória e tem ganho significativa distância em termos de sucesso desportivo.
Ficam as questões para o futuro.
Se pelo lado do Sporting de Braga o modelo em curso tem dado resultado e portanto não há grandes razões para mudar, até porque mesmo com o natural desgaste de vinte anos de presidência António Salvador parece determinado em continuar e tem uma idade e uma experiência adquirida que aconselham a que ...continue, já quanto ao Vitória a questão é bem diferente e merece outro tipo de reflexão.
Porque depois de Pimenta Machado o Vitória vai no quinto presidente e pese embora alguns sucessos desportivos, mais nas modalidades que no futebol em bom rigor, está hoje mais frágil, mais dependente de factores externos e que não controla, mais à mercê de um contexto económico que o condiciona e diminui em termos competitivos.
Qual a solução?
Estabilidade e Sucesso.
Sucesso desportivo, no futebol e nas modalidades, sucesso na gestão económico-financeira, sucesso no desenvolvimento e crescimento do clube em termos associativos e patrimoniais, sucesso no aumento da influência pela presença do clube nos orgãos dirigentes do nosso desporto, sucesso no crescimento mediático do clube e na sua participação nos fóruns da comunicação social.
E estabilidade.
Sem a qual não há sucesso.
Vitor Magalhães, Emílio Macedo da Silva, Júlio Mendes e Miguel Pinto Lisboa por diferentes razões não conseguiram estabilidade nas suas lideranças ( e o primeiro chegou à presidência com uma enorme expectativa em seu torno), foram contestados e acabaram por sair de forma mais ou menos discreta.
E é esse o grande desafio que se põe hoje a António Miguel Cardoso.
Dar ao clube a estabilidade e o sucesso que lhe tem faltado.
Se vai ser capaz disso ou se também ele passará de forma mais ou menos efémera pela presidência do Vitória é algo a que apenas o futuro saberá responder porque ao fim de apenas um ano de mandato ainda é cedo para fazer essa avaliação.
Certo é que perante um Braga em velocidade de cruzeiro o Vitória não pode perder mais tempo nem cometer mais erros sob pena de perder definitivamente essa corrida tão específica. E com ela perder o seu próprio futuro!
3 comentários:
"tendo copiado o modelo presidencial do Vitória" / "Braga adoptou um modelo presidencial “ à Pimenta Machado”
Enfim... Quando li isto senti uma vergonha alheia... Agora o sucesso do SC Braga deve-se ao Vitória SC. É de rir.
Saudações Braguistas e continue a olhar para cima. Já agora, espero que esteja recoperado do 5 a zero aí em Guimarães.
Caro Anónimo:
Já se sabe que a lingua portuguesa tem as suas subtilezas mas tenho pena que não tenha percebido o que escrevi. Porque era fácil de entender.
Quando olho para cima, e faço-o muitas vezes, não vejo o Braga. Porque 19 anos não apagam 81. Nem o episódico será regra para todo o sempre.
De qualquer forma lamento a sua mentalidade. É por causa dela e de muitas como a sua que o nosso futebol é o que é.
Quanto aos 5-0 lembro-me de Alvalade. A dobrar ao que consta. Mas também constato o regresso ao normal constituido pelas duas últimas visitas do Braga ao estádio D. Afonso Henriques.
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