segunda-feira, março 09, 2009

O vil metal


Amanha chega a Lisboa um dos mais antigos e sanguinários ditadores de África.
Chama-se José Eduardo dos Santos e está no poder em Angola á quase trinta anos.
Sem eleições livres,sem alternância democrática,sem qualquer respeito pelos direitos humanos.
Nestes trinta anos o regime angolano e a sua sinistra policia secreta mataram,torturaram,prenderam e fizeram desaparecer opositores políticos.
Viciaram resultados de eleições !
Conseguiram um recorde digno do Guiness ao realizarem eleições presidenciais em 1992 cujo resultado obrigava a uma segunda volta que passados dezassete anos ainda não se realizou.
Entretanto,á cautela,mataram o candidato que se opôs a Eduardo dos Santos.
Ao abrigo de acordos assinados de boa fé,pela outra parte entenda-se,deixaram a UNITA voltar para Luanda e participar num simulacro de eleições aproveitando posteriormente a oportunidade para massacrarem muitos dos dirigentes desse partido que tinham ido para a capital do país acreditando na paz.
Eduardo dos Santos é um ditador,com as mãos sujas de sangue,que preside a um regime que se caracteriza pela tirania,pela corrupção,pelo apropriação das imensas riquezas pela oligarquia dirigente enquanto o povo continua a viver em condições miseráveis.
Compreendo as relações entre Estados.
Mas não compreendo que se receba o ditador.
E muito menos compreendo as posições de dirigentes do PSD e do PS que se congratulam com a visita e saúdam o ditador como se de um democrata se tratasse.
Tenham vergonha !
Porque sei muito bem que as direcções desses partidos estão enxameadas de dirigentes que são simultâneamente homens de negócios, membros de grandes escritórios de advogados que intermedeiam interesses,gente que tem tudo a ganhar com um bom relacionamento com o ditador e a sua clique dirigente.
Tudo a ganhar em função do vil metal entenda-se.
Mas não misturem os interesses pessoais/profissionais com as posições dos respectivos partidos.
Porque,e por esse falo porque é o que me toca,nunca o PSD se reviu no MPLA e nos seus dirigentes.
Bem pelo contrário sempre condenou a forma como esse partido se comportava na sociedade angolana.
É inadmissível que em nome dos interesses de uns quantos se subverta toda a História de vida de um partido social democrata.
Nesta matéria CDS e Bloco de Esquerda tiveram,honra lhes seja feita, posições bem mais dignas e independentes dos camiões de dinheiro que a sonangol e afins vão despejando pelos entrepostos mercantis de Lisboa.
Como diria José Mourinho,noutro contexto é certo, basta de "prostituição intelectual" !
Depois Falamos

22 comentários:

Anónimo disse...

Posso afirmar, a quem não souber, que no concelho de Lisboa várias secções foram compradas com dinheiro dos negócios de Angola...

João Carvalho disse...

Se eles até no clube do regime (SLB) estão metidos quem é que se vai atrever a fazer-lhes frente. Mais um "amigo" a juntar ao sr. Chavez e aos membros do PC Chinês que estiveram no congresso do PS. Até a realpolitic tem limites. O que não os tem é a falta de vergonha de uma certa classe de politicos que vestindo camisolas diferentes possuem o mesmo conteudo. È como beber coca-cola ou pepsi, sabe ligeiramente diferente mas o fim é o mesmo.

Unknown disse...

Este faz de conta é mesmo uma vergonha.Não me entendo nesta estranheza sem princípios.

Anónimo disse...

Caros Srs,

É verdade o Sr José Eduardo dos Santos é um ditador, mas no contexto africano, não tem paralelo, i.e., para ditador é dos melhores...

Neste momento este "ditador" é o garante da estabilidade em Angola e naquela região de África.

Não podemos nem devemos olhar com os nossos olhos europeus para a Angola, devemos ter em conta os valores e as tradições locais...

Eu não sou hipócrita, o José Eduardo dos Santos não é um Santo, nem o Dr Savimbe o era...
Entre dois nem há nem pode haver duvidas o José Eduardo dos Santos é um dirigente de outro calibre...

Por isso vamos com calma, vamos ajudar Angola a pouco e pouco poder passar a ser uma democracia, mas atenção uma democracia Africana ...

Porque eu vivo numa democracia e sinceramente a muitos políticos aqui na casa que pouco lhes falta para serem DITADORES ...

Cumprimentos,

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
Não ficando extremamente admirado não deixa de ser preocupante que as coisas já vão nesse ponto.
Será que vamos a caminho de um colonialismo de sinal contrário ?
Caro João:
Realmente o PS, e algumas pessoas do PSD,tem amigos de reputação lamentável.
Essa da coca e da pesi é gira.
Talvez a melhor imagem para o que seria um governo de bloco central.
Cara Maria:
Somos,pelo menos,dois !
Caro Anónimo:
Compreendo o seu raciocinio.
Que me parece sensato.
Também não acho que Savimbi e Santos sejam assim tão diferentes quer no conceito de democracia que (não) partilhavam quer no calibre como dirigentes.
Simplesmente não existe é uma democracia europeia e uma democracia africana.
Existe democracia e existem democratas.
O regime angolano e o sr Eduardo dos Santos são é insuspeitos de qualquer uma dessas qualidades.
E a mim irritas-me é ver esses ditadorzecos a pregarem moral e a quererem dar-nos lições.
Sei que o chamado colonialismo português cometeu atrocidades e atropelos contra as populações locais.
Embora também lhes tenha proporcionado coisas boas.
Mas os que nos sucederam nesses paises deonstraram que eramos uns aprendizes em termos de violações de direitos humanos.
Daí que eu olhe para o sr Eduardo dos Santos como aquilo que ele de facto é: Um ditador !
Se no PS e no PSD existe quem lhe queira fazer vénias e salamaleques a troco de chorudos negócios só posso lamentar.
Afinal quem um nasce para o que nasce...

Nuno Leal disse...

Caro Cirilo, apesar dos negócios que sempre existiram e sempre existirão enquanto Angola for dona de recursos naturais fabulosos, não se esqueça que os governantes são eleitos para o governar o povo e os governantes portugueses têm para governar mais de 100 mil portugueses (recentemente já li mais de 200 mil) que estão, como eu, a trabalhar em Angola e que se tivessem de regressar ao país agora o que seria? Por isso, essas coisas têm de ser todas tratadas e vistas sobre diversos pontos de vista e pegadas com pinças. Não se educa o Hugo Chavez pela força, como se comprovou pelo Fidel Castro. Por isso, como muito bem disse o anónimo, não estraguem tudo com essa soberba que são democratas porque, como o Cirilo bem conhece na pele, pelo menos nas autarquias e regiões autónomas em Portugal, a democracia também é uma palavra pouco conhecida e menos usada ainda... Ajudemos o povo de Angola, ajudemos o povo português e deixe lá os moralismos que não são necessários para o BE que tão pródigo nesses discursos é...

Anónimo disse...

Falar de democracia em África é o mesmo que falar de democracia no Médio Oriente.
Todos criticámos os EUA por quererem aplicar a democracia nos Iraque sem conhecer as contingências do país, portanto não façamos o mesmo com África.
A democracia é um conceito ocidental que não pode, nem deve, ser aplicado da mesma forma noutras latitudes do mundo. Simplesmente porque há diferenças culturais, estruturais e de mentalidades profundas.
Para falar assim de Angola é preciso conhecer este país (sim estou em Luanda), as suas gentes e a sua cultura para ter uma melhor ideia e não falar dessa forma.
Independentemente de tudo JES tem sido o garante da estabilidade e desenvolvimento económico de Angola e não tem comparação possível com outros congéneres Africanos. Tem cometido erros? Claro que sim, ninguém é perfeito! Mas creio que o saldo tem sido francamente positivo.
Venham até Angola ou falem com os nossos empresários que aqui investem ou com os portugueses que aqui trabalham e certamente ficarão com outra imagem deste país.

freitas pereira disse...

Estava há dias a ler com tristeza a montagem da bomba a retardamento em Madagáscar, bomba que pode muito bem dar numa guerra civil.
Parece incrível que tantos países Africanos, que estão hoje ameaçados na sua existência mesmo por crises de toda a ordem, económica, sanitária, étnica, nacional , escolheram todos ou quase todos , a partir dos anos sessenta, regimes “fortes” à maneira soviética ou chinesa.

Na África negra, a Tanzânia, a Zâmbia, a Guiné, o Mali, o Alto Volta, o Gana, o Sudão, a Etiópia, a Somália, o Benin, o Congo, Angola, Moçambique. Na África do Norte, a Argélia, a Tunísia (durante alguns anos) a Líbia, o Egipto, . No Oceano Indico, Madagáscar.

A confiscação das riquezas do pais foi logo a seguir, e não somente por um partido único, mas por um clã familiar ou por um grupo étnico, e para o beneficio dos seus membros, produzindo a miséria, o ódio de todos contra todos, a corrupção, o roubo generalizado, o desperdício, a derrocada da produção agrícola, etc.Seria justo acrescentar que não foi somente por causa dos seus dirigentes corrompidos, frequentemente ditadores, mas também com o apoio de certos países que os arruinam e aproveitam ao máximo dos países africanos, particularmente na Africa negra.Quando é que os dirigentes africanos vão tomar em considéraçao os milhões de seres humanos que eles têm o dever de servir ? A África comporta sem duvida dois pólos opostos : o dos dirigentes e o do povo. Os dirigentes conduzem o seu “bizness” a grande escala explorando vergonhosamente os recursos humanos e os recursos naturais. São campeões do tráfego de todo o género, enquanto que o povo recolha as migalhas no pó numa total indiferença. Claro que existe um déficit de democracia. Os hold-ups do veredicto das urnas eleitorais, os eternos conflitos post-eleitorais de partidos políticos com contornos étnicos e regionais, ou mesmo oponentes que se vendem a quem oferece mais e melhor, eis algumas das realidades que marcam a democracia na África.Então, nestas condições de insegurança, de incerteza e de confusão total, que sentido pode ter a democracia na África?Onde a liberdade de expressão não existe ou ainda onde a boa governação esta longe de estar assegurada, que género de democracia se pode esperar ?A historia trágica do Zimbabué está lá para avisar aqueles que por necessidade regressam a África, que o pior pode estar à vista rapidamente , quando a inevitável passagem do poder chegará. Porque mesmo os ditadores não são eternos.

Freitas Pereira

rei dolce disse...

caro Dr.Cirilo,

percebo o que diz, mas não concordo.
- julgo que fazem bem em receber o presidente de angola
- no fundo so estão a fazer o que durante anos, se criicou, ou seja, não maximizar a nossa vantagem estratégica com os POLOP, nomeadamente angola.
- angola, é o país que mais cresce(economia) a nivel mundial.
- é o país que mais portugueses recebeu no ultimo ano para trabalhar.
- as nossas exportações crescem, todos os meses para angola.

sim o homem, tem defeitos(muitos) na sua moral, é um facto.
sim o regime não é o melhor, é um facto.
sim, Portugal esta a ser invadido com dinheiro angolano, como ja foi com espanhol, e venham muitos e mais.

tenho um familiar a viver e trabalhar em luanda, sempre foi de direita, sempre.Nas ultimas eleições votou em José Eduardo Santos, perguntei-lhe o motivo:
-" estabilidade, economica, social e financeira." depois disse " áfrica, não é europa"

quanto á posição do CDS e BE, estranho a do CDS, por todos os motivos principalmente os economicos(e mais não digo)...o BE, enfim...
Não são partidos de Estado( mais uma vez estranho o CDS) e com sentido de responsabilidade de Estado.
cumprimentos

freitas pereira disse...

Desenvolvimento económico sim, claro, mas quem beneficia desse desenvolvimento é que é importante. Desenvolvimento económico sem liberdade, sem respeito da dignidade humana e para servir uma minoria constitui um handicap para o futuro. Para toda a nação.
Qual é o impacto desse desenvolvimento sobre as desigualdades sociais ?
E se ele as acentua ?
Estabilidade social em Angola ? Quem ousaria protestar ou criticar ? Onde estao os orgaos democraticamente eleitos habilitados para contestar ou propôr outras soluçoes ?
Fechar os olhos a esta carência de liberdade e democracia, aceitar uma situaçao porque ela traz beneficios economicos a alguns, provisoriamente , é correr o risco de acordar num pesadelo como o da Argélia, do Congo e como ,escrito acima, como do Zimbabué.

luis cirilo disse...

Caro Nuno:
Óbviamente que Portugal tem de ser sensivel a uma realidade que são os portugueses que trabalham em Angola.
Daí que eu entenda que devem existir relações entre Estados.
E o mais intensas possiveis atendendo a mais de 500 anos de História comum.
O que não entendo,por desnecessários e mentirosos,são estes elogios ao presidente de Angola pretendendo mostrar como democrata um ditador e como homem sério um corrupto.
Quanto ao que se passa nas autarquias e regiões autónomas de Portugal pode não ser o melhor dos mundos,admito,mas que eu saiba existe liberdade e não se fazem desaparecer os opositores politicos.
Por isso,caro Nuno, em relação aos povos de ambos os paises toda a compreensão e apoio.
Em relação ao ditador a denuncia frontal.
Como aliás o fez,ainda ontem,a Amnistia Internacional.
Finalmente, e em relação á posição dop PSD sobre JES recordar agora e sempre Francisco Sá Carneiro.
"Politica sem ética é uma vergonha".
Caro AP:
Como disse em relação ao comentário do Nuno Leal entendo bem a posição dos portugueses que estão em Angola.
Cujos interesses devem ser defendidos.
Mas quanto a conceitos de democracia é que me parece de dizer o seguinte:compreendo as especificidades de cada país,de cada cultura, de cada continente.
Estamos de acordo.
Mas uma coisa lhe garanto.
Um morto é sempre um morto,um torturado é sempre um torturado,um ferido é sempre um ferido.
E isso tem a ver com direitos humanos não com regimes politicos.
E é inadmissivel que nessa matéria todos os seres humanos não tenham os mesmos direitos.
Caro Freitas Pereira:
Claro que muito do que acontece hoje em África tem pesadas responsabilidades das pot~encias europeias.
Que trçaram fronteiras e definiram paises com régua e esquadro não levando em conta os factores locais que eram muitissimo mais importantes.
É igualmente verdade que muitos paises europeus,que não Portugal,olharam para África apenas na perspectiva das suas riquezas naturais e sem olharem minimamente ao interesse das populações.
É ainda verdade que por razões mercantilistas puras,como agora em relação a Angola,a Europa fechou os olhos a questões de democracia e direitos humanos e apenas se preocupou com os negócios.
E tudo isso,e muito mais,levou a que grande parte dos paises africanos se tenha livrado do colonialismo para cair na opressão de regimes corruptos e sanguinários.
É ai que entendo que a Europa,sem falsos proteccionismos,pode ter um papel a desempenhar.
Defendendo os povos e não transigindo perante os diatadores.
É dificil mas é o unico caminho digno.
Caro Rei Dolce:
Compreendo tudo isso.
E não duvido dessa estabilidade.
agora factos são factos.
E é factual que JES ´permite e promove a corrupçao,persegue e mata adversários e nada tem de democrata.
Promovamos as relações com Angola sem duvida.
Mas não precisamos de nos rebaixar a fazer vénias a um ditador que não merece qualquer respeito.

Nuno Leal disse...

Caro Luís Cirilo, querer dizer que se promove a relação entre 2 estados e a seguir vir dizer que com esse presidente não, desculpe lá mas não funciona. Porque, queira ou não, o presidente é o JES e de certeza que o vai ser novamente e com percentagens "à João Jardim", garanto-lhe.
Porque como bem diz um dos comentadores, a democracia em Angola funciona de outra forma - os sobas ainda existem e não é possivel pedir para introduzir esse conceito "democracia" como o entendemos na Europa aqui em Angola - e se calhar noutros países também.
O importante é conseguir que esses e outros direitos humanos sejam implantados no país - e isso não se faz por decreto, ensina-se às populações e ao quadros intermédios do poder. O tempo tem mostrado uma evolução e, caso não se lembre, a paz só chegou em 2002.
Por isso gostava é que os políticos em Portugal se deixassem de moralismos de "ditador" e se preocupassem com os problemas reais - os vistos de trabalho, a autorização de condução, a autorização de exercer profissões liberais em Angola. Isso é importante, deixe lá essas tretas bonitas da ética e da moral para o BE...
Por último, olhe que o poder local expulsa e mata. Se não literalmente, pelo menos eu e muitos outros estamos fora de Portugal porque o poder local coortou o meu mercado de trabalho por a minha cor não ser a do poder local, como bem sabe porque me acompanhou de perto em determinada fase. Sabe bem os problemas que arquitectos, engenheiros e outros técnicos têm para trabalhar nas autarquias onde demonstram actividade política inversa à dos seus dirigentes.
Meu caro, já terá idade para ponderar as coisas que diz e ter atenção a toda a realidade que alberga o pensamento e actividade política - por esse motivo é que acabamos por "divergir" no partido.
A ética não lhe paga o seu ordenado na CM de Gaia nem o meu aqui em Angola. Pagam os políticos e as obras dos políticos, caro amigo...

freitas pereira disse...

O debate vai longe, mas é interessante.
Se a democracia deve ser vivida na África como ela é vivida no Ocidente, ela não se abrirá sobre a liberdade. Ora, só este valor pode ajudar ao desenvolvimento da África. O utensílio democrático mal utilizado pode matar a liberdade. E é precisamente nesse campo que os intelectuais e os políticos podem desempenhar um papel primordial em frente da historia. : ajudar a democracia a construir a liberdade.
Para que a alternância democrática seja assegurada na África, os intelectuais devem mobilizar-se, trabalhar e lutar cada dia, com mais coragem, perseverança e tenacidade. Será preciso alargar as fronteiras da democracia afim de desapertar progressivamente os ferros do totalitarismo no qual o povo vive desde há muito. Trabalho árduo e de longo fôlego, porque não se podem ter ilusões : os velhos hábitos, as mentalidades herdadas do partido único não desaparecerão de um dia para o outro. Os Africanos devem optar em favor do jogo democrático como único meio de aceder ao poder e, por vias de consequência, se submeter lealmente ao veredicto do sufrágio universal. Senão espera-os o tempo dos assassinatos políticos e dos golpes de Estado para chegar ao poder.Porque ganhar o poder e conservà-lo nao basta.
O apoio em favor da democracia deve inscrever-se no quadro de eleições libres e transparentes, o pluralismo e a boa governança.
O que quer dizer promover os Direitos do Homem, a erradicação da miséria, a promoção da cultura democrática.
Veja-se bem o resultado de dezenas de anos de regime autoritário e mesmo totalitário na África do Sul, onde hoje, apesar do poder recuperado pela etnia dominante não conseguem fazer arrancar o povo para uma sociedade equilibrada. Vê-se bem que a carência de democracia não permitiu a educação e o saber às massas tão necessários hoje mais que nunca.

A blocagem ou o mau funcionamento do processo democrático na África não é só devido ao atraso económico. Podia dizer-se a mesma coisa aliás de Portugal.

Vitima de tantos anos de pilhagem , de experiências, de teorização e incompreensão de todos os géneros, ela encontra-se destrutucturada e depois rejeitada por aqueles mesmos que pretenderam agir para a sua emancipação. A democracia é uma escolha irreversível, mas ela nunca está definitivamente adquirida.

luis cirilo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luis cirilo disse...

Caro Nuno:
Estamos a misturar muita coisa e algumas delas não são misturáveis.
Nomeadamente a comparação entre autarquias portuguesas e regime angolano parece-me despropositada.
Sem prejuizo de concordar com algumas das afirmações que fazes quanto ao sectarismo politico.
Que de facto não mata mas magoa.
Mas que,em boa verdade,não é exclusivo das autarquias.
Também acontece dentro dos partidos politicos como muito bem sabes !
Também não acho comparáveis as vitórias eleitorais do PSD/Madeira com as votações do MPLA.
Na Madeira existe toda uma obra,não desculpando alguns excessos perfeitamente dispensáveis em termos de linguagem,mas ninguém põe e causa a democraticidade das votações e a legitimidade de quem governa.
O que não acontece manifestamente em Angola como algumas ONG não se tem cansado de denunciar.
Também não concordo que deixemos as questões da moral e da ética para o Blodco de Esquerda.
Isso queriam eles.
Seria um erro equiparável ao de deixar a rua para a esquerda.
E ai sim já temos cometido os nossos erros.
Tens razão quanto ao facto de a ética não pagar salários.
Por mim tenho gosto em ser politico, estar na politica, ser pago por um politico e pela sua obra.
Porque se trata de um politico honesto com uma obra extraordinária (e bem visivel) em prol das populações de Vila Nova de Gaia.
Não de um ditador,criminoso e corrupto, como o senhor Jose Eduardo dos Santos.
Nota final: terei muito gosto,até porque os anos vão passando,em conversar contigo sobre as nossas "divergências" partidárias numa próxima vinda tua a Guimarães.
Afinal,passados quase dez anos, já existe uma distância temporal suficiente para uma conversa desapaixonada.
Caro Freitas Pereira:
Mesmo que quisesse,e não quero,não conseguiria estar mais de acordo consigo quanto á liberdade coo valor fundamental para a evolução de muitos paises de África rumo á democracia.
Porque o problema está exactamente aí.
Não existe nenhuma forma de democracia que não assente na liberdade do ser humano.
Liberdade de escrever, liberdade de opinar,liberdade de contrariar e contradizer,liberdade de criar.
E isso faz toda a diferença.
Porque liberdade não tem variações conceptuais nem formas proprias como alguns pretendem para as "democracias" africanas.
Liberdade é,em qualquer ponto do mundo,um valor absoluto e indiscutivel.
Só com ela podemos esperar avanços na educação, na cultura,nos direitos humanos.
Não defendo que a Europa tente fazer de Africa um laboratório de ensaio para experimentar novos conceitos politicos e éticos.
Em bom rigor já lá fizemos asneiras que chegassem nesse campo.
Mas entendo que a Europa pode,e deve,ter um papel pedagógico e formativo dos quadros politicos do futuro de molde a proporcionar-lhes uma visão clara das vantagens da democracia.
Mas deve também ter uma atitude de grande firmeza perante os diatadores que oprimem,roubam e matam as suas populações chamem-se Mugabe,Eduardo dos Santos ou Idi Amin.
E essa firmeza passa por não tratar como cavalheiros quem não passa de bandidos comuns e,essencialmente,não lhes permitir esconder nos off shores do Ocidente as riquezas que pilham nos seus paises.
Ou alguém tem dúvidas que muitos dos investimentos angolanos em empresas portuguesas,dos bancos á comunicação social,provém de dinheiros ilicitos .
Eu não tenho.

Amílcar Bengla Mourão disse...

Amigo Cirilo, infelizmente esta ligação com o Sr. Presidente de Angola tem contornos bem mais sinistros que apenas as negociatas que se vão conhecendo. Há outras de que não se pode falar e que sujaram as nossas mãos de sangue. Como tu sempre escreves...Depois falamos.

José Alves disse...

"E essa firmeza passa por não tratar como cavalheiros quem não passa de bandidos comuns e,essencialmente,não lhes permitir esconder nos off shores do Ocidente as riquezas que pilham nos seus paises."

De todos os "cavalheiros" que temos hoje no actual cenário politico,não consigo vislumbrar um unico que que seja cavalheiro para Portugal e para os portugueses.
Quanto as riquezas que pilham nos seus países,tenha paciência,mas isso faz-me de imediato recordar o que sabemos,acerca dos nossos politicos,e tentar imaginar alguma coisa do que não sabemos.
A politica cria muitos milionários.
O pais é que infelizmente nunca ganha,é sempre a perder.
Acredito que vai ser um magnifico jantar entre ditadores,onde todos podem comungar dos mesmos ideais,pois todos têm o mesmo objectivo - O Poder.
Claro que os nossos são muito menos ditadores do que JES,não matam à catanada,limitam-se a depenar-nos aos poucos com a certeza de nós sermos o garante da continuidade do aumento da sua fortuna pessoal.
Não creio que não haja uma ditadura
em Portugal.
Tenho a certeza que esta pseuda-democracia em que vivemos não tem rigorosamente nada a ver com os ideais de que tanto ouvimos falar após o 25 de Abril.
Os nossos politicos das duas ultimas décadas têm sido na realidade uma autêntica desgraça.
Claro que não têm nada a ver com JES,são mais simpáticos,mais polidos e seguramente mais "cavaheiros".

Anónimo disse...

Amigo Cirilo,o Bob Geldof afinal tinha razão...para além de bom músico, é também muito bom observador.Esse sim teve-os no sítio...
O seu texto (como sempre) é ***** !

luis cirilo disse...

Caro Amilcar:
Como é óbvio.Existirá seguramente muita coisa de que nem suspeitamos.
Mas por este andar ainda vamos ouvir falar de colonialismo de sinal inverso.
Caro José Alves:
Uma coisa é certa: os nosso politicos,do presidente da republica ao presidente da junta de freguesia,são susceptiveis de serem mudados em eleições livres e democráticas.
Não é em vão que governo e câmaras municipais tem conhecido significativas alternâncias de poder.
Não me parece que seja o caso do regie do sr eduardo dos santos.
De resto,e embora reconhecendo as deficiências do nosso sistema democrático,vivemos num país em que as instituições vão funcionando.
Claro que para aquilo que Abril prometia ficamos a larga distância.Mas esse foi um tempo de muita utopia.
Caro Tony:
Bob Gerdof é um excelente exemplo.
Mas outros existem,de ONG a personalidades de relevo,que não vão nos cantos de sereia do regime angolano.
Nem acreditam em democracias especiais para alguns paises africanos.
Lembro-me bem das loas que se teciam por aí ao grande africano anti colonialista chamado Mugabe.
Era um exemplo para Africa.
Sabe-se hoje a verdadeira dimensão da tragédia que vive o Zimbabwe.

José Alves disse...

Que resultados temos conseguido com as eleições livres e democráticas em Portugal?
Poucos,muito poucos.
A grande verdade é que cada vez mais,todos hipotecamos o futuro dos nossos filhos.
Os valores do 25 de Abril a que me refiro não são utópicos,são postos em prática em algumas das democracias com que convivemos diáriamente,que predominam por uma muito maior equidade no tratamento com o seu povo.
E honestidade.
Essencialmente.

Nuno Leal disse...

Caro Cirilo, de facto é tanto tempo passado que já nem militante sou, vê lá tu...

Mas sobre essas questões, sabendo que nunca é possivel ter toda a razão, para falar sobre Portugal e Angola, eu tenho uma vantagem decisiva sobre ti: conheço os dois lados!

Acredita que há liberdade de expressão: deverias ver alguns jornais de oposição que aqui são publicados, vendidos e lidos. Há liberdade de pensamento e expressão política: concorreram mais de 20 partidos às legislativas, participação massiva nas eleições, as pessoas andavam nas ruas com camisolas e chapéus alusivas aos vários partidos e candidatos. Angola, de facto, já não é uma ditadura. Poderá não ser uma democracia plena aos olhos e nossos conceitos europeus, mas é mais democrática que algumas autarquias, garanto-lhe eu que tambem as conheco...

Quanto ao convite, e caso não tenha mudado de número, lá o contactarei e de forma desapaixonada iremos tomar um café e pormos conversa em dia, previsivelmente muito haverá a dizer entre as partes...

luis cirilo disse...

Caro Jose Alves:
Compreendo bem o seu desencanto com a democracia que temos.
Não era,de facto,suposto estarmos como estamos.
Deixe-me contudo dar-lhe duas notas:
A primeira para lhe dizer que com todos os seus defeitos a democracia ainda é o melhor dos sistemas.
Mesmo que funcione com algumas sombras como a nossa.
A segunda nota tem a ver com um facto real que é o de muita gente com valor ir-se progressivamente desinteressando do que se passa.
Saem dos partidos,abandonam a intervenção civica e no limite deixam de votar.
Eu sou dos que acredita que os partidos se melhoram por dentro,estando lá e lutando por aquilo em que acreditamos,e melhorando os partidos melhora-se a democracia.
Agora que não é fácil...não é !
Caro Nuno:
Nisso tens inteira razão.
Conheces os dois lados e isso permite-te estabelecer comparações e avaliar a realidade angolana por dentro.Que é precisamente o conhecimento que me falta pois nunca estive aí.
Oxalá, e desejo-o sinceramente,a evolução de Angola para uma democracia plena seja apenas uma questão de tempo.
Porque se existe país (ex colónia) com o qual Portugal tem uma enorme
afectividade é precisamente Angola.
Que preencheu, e volta agora a preencher, os sonhos de uma vida melhor para muitas gerações de portugueses