Sou ainda de uma geração que apreendeu a ler com o jornal "A Bola".
E com os grandes jornalistas que por lá escreviam.
Já não apanhei os escritos de Cândido de Oliveira, seu fundador e mentor,mas "consolei-me" a ler prosas de Carlos Pinhão,Vítor Santos,Alfredo Farinha,Carlos Miranda,Aurélio Márcio,Homero Serpa,Cruz dos Santos entre outros.
Escreviam com elegância,conheciam os assuntos,faziam pedagogia nos seus escritos.
Eram claramente adeptos dos clubes de Lisboa mas não se deixavam levar pela clubite na hora de escreverem crónicas,fazerem entrevistas,analisarem os mais diversos aspectos do desporto em geral e do futebol em particular.
E durante quase trinta anos foi o meu jornal desportivo de referência.
Pese embora algumas discordâncias com escritos mais políticos que por lá apareciam.
Mas o tempo passou.
E essa "inclita" geração de jornalistas desportivos ,por força das leis da vida,foi desaparecendo.
Substituída ,nalguns casos,por filhos e sobrinhos.
Vítor Serpa,Leonor Pinhão,Rui Santos entre outros.
Tendo como consequência uma brutal queda de qualidade e um acentuar da clubite até atingir as raias do fanatismo.
Benfiquista entenda-se.
E mudei para "O Jogo".
Jornal do Norte, feito por um naipe de jornalistas cada vez melhor,com grande atenção aos clubes da região.
Nomeadamente ao Vitória.
E pelo "O Jogo" fiquei nos últimos dez anos/onze anos.
Particularmente sensibilizado pelo facto de quando o Vitória desceu de divisão terem continuado a proporcionar-lhe uma atenção idêntica á proporcionada quando estava na I Liga.
Eis senão quando o Vitória e o Porto se desentendem no inicio desta época desportiva.
E "O Jogo" passa a tratar o Vitória de outra forma.
Menos isenta,menos factual,mais especulativa e ás vezes até na periferia da destabilização.
Até pode negá-lo (como aliás já o fizeram quando responsáveis vitorianos denunciaram o facto) mas eu leio jornais á quarenta anos.
Nas linhas e nas entrelinhas.
Simultâneamente constatei que "A Bola" estava a dar uma atenção ao Vitória superior ao que era habitual.
O que me agradou.
Todo este introito para concluir o seguinte.
Ontem o Vitória ganhou na Luz com toda a justiça.
Como a generalidade dos comentadores reconheceu.
Hoje comparei as peças dos dois jornais sobre o desafio.
E fiquei definitivamente elucidado.
"A Bola" dá a capa toda ao Benfica,é certo, mas a análise do jogo é intrinsecamente verdadeira.
Reconhece que o Vitória dominou o jogo,que ganhou com justiça e que o árbitro fez uma boa exibição.
Quanto ao golo consideram-no perfeitamente legal.
Como aliás as imagens televisivas amplamente documentam.
Nos lances mais polémicos realçam,para além do acerto na validação do golo,uma entrada sem bola de Di Maria a Moreno que devia ter merecido punição disciplinar e um lance aos 88 m em que Nuno Gomes faz um remate perigoso mas em fora de jogo não assinalado.
Quanto á avaliação dos jogadores dão um total de 69 pontos ao SLB (que perdeu) e de 79 pontos ao Vitória.
Lógico portanto.
E "O Jogo" ?
Uma vergonha senhores.
Capa com jogadores do Vitória e um grande titulo "O Adepto da Onça" realçando o benfiquismo de Cajuda.
Que aliás acentuam em sub titulo.
Depois um vendaval de anti vitorianismo.
Golo irregular,árbitro com influência no resultado,o SLB perdeu por cauda de um golo irregular e das lacunas próprias (só não dizem que esteve sozinho em campo mas pouco faltou...) e quanto aos lances Di Maria/Moreno e Nuno Gomes em fora de jogo nem uma palavra.
Uma que fosse.
Mas o melhor está mesmo guardado para o fim.
O rapazito que fez a análise individual dos jogadores (Filipe Pedras de seu nome) pontuou as duas equipas da seguinte maneira:
SLB (que perdeu) 67 pontos.
Vitória (que ganhou) 56 pontos !
Mais do que ver jogos com óculos vermelhos,o que é evidente pelo que escreveu sobre os jogadores, o rapazito deu um tremendo exemplo de desonestidade intelectual.
Compare-se o que o tipo escreveu sobre Lionn com o que em " A Bola" escreveu o jornalista Hugo do Carmo:
Rapazito de "O Jogo": "Demorou a entrar no jogo e,enquanto não o fez,foi vendo Di Maria causar estragos pelo seu flanco.E mesmo quando se preparava para subir um furo de rendimento foi sempre "fustigado" pela opção atacante dos encarnados". Deu nota três.
Hugo do Carmo em "A Bola": Rápido e incisivo ganhou duelo com Di Maria um dos rápidos executantes da equipa adversária". Pontuou Lionn com nota seis.
É um entre vários exemplos de como o jornal lisboeta e benfiquista tratou correctamente o Vitória enquanto ao jornal do Norte só lhe faltou lamentar expressamente o resultado.
Não será isto ainda o suficiente para voltar a ser leitor assíduo de "A Bola" até porque uma andorinha não faz a Primavera.
Mas é seguramente o suficiente para colocar " O Jogo" no patamar dos jornais para os quais se olha com cada vez mais duvidas.
E a esses lemos ocasionalmente e compramos de forma cada vez mais espaçada.
Nota final para esclarecer que neste post não de fala do Record porque é um jornal que nem me passa pela cabeça ler quanto mais comprar !
Depois Falamos