sexta-feira, junho 24, 2022

Feudalismo

 O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Acho piada a esta conversa feudal dos "grandes" e dos "pequenos". Alimentada por adeptos, por jornalistas, por dirigentes.Em que parece que três clubes fazem um grande favor aos outros em os deixarem jogar com eles.
Em que três clubes andam há cem anos a espezinharem a verdade desportiva para construirem a sua "grandeza".
Em que três clubes alicerçam a "grandeza" numérica das suas massas simpatizantes no tremendo atraso cultural deste país que permite haver em Chaves adeptos do Sporting, em Braga adeptos do Benfica e em Arouca adeptos do Porto só para dar exemplos de três cidades com clubes na primeira divisão em que os adeptos dos chamados "grandes" serão mais do que os do clube da Terra.
Em que três clubes são muito maiores que os outros porque tem uma imprensa que os promove até ao limite do absurdo, tem um sistema bancário que lhes permite endividamentos vedados aos outros e ainda lhes concede perdões de divída que são um insulto a todos quantos pagam religiosamente os seus compromissos, tem um poder político e autárquico que os sustenta e lhes dá benesses e favores que não dá a mais ninguém.
Tem, e os últimos são os primeiros em termos de importância nesta matéria, arbitragens, conselhos de disciplina, videoárbitros, direcções da Liga e da Federação que os levam ao colo com o maior dos despudores e fazendo deles o centro e o motivo de toda as suas preocupações como se o futebol português fossem eles e o resto fosse mera paisagem.
Foi assim, é assim, assim será a construção do mito dos "grandes" do nosso futebol.
Grandes nos favorecimentos, grandes na falta de vergonha, grandes nos calotes, grandes nos atropelos à verdade desportiva, grandes na forma vergonhosa como tratam os outros clubes nacionais, grandes nas pressões para manterem o "status quo" feudal que lhes sustenta a pseudo grandeza.
Por mim, enquanto vitoriano que gosta do seu clube( apenas e só) mas também gosta de futebol, desejo sinceramente que um dia exista uma Superliga europeia e que nela caibam (o que é duvidoso) os tais pseudo "grandes" do nosso futebol.
Que bom seria vermos-nos livres desses "trastes" e podermos ter campeonatos com verdade desportiva, com igualdade de tratamento para todos os clubes , com justa distribuição das verbas televisivas.
Campeonatos competitivos, com vencedores incertos e um futebol em que quem paga cotas, lugares anuais, bilhetes não fosse ludibriado pelo "sistema" que actualmente faz de três filhos e dos outros todos enteados.
Não caros portistas,benfiquistas e sportinguistas.
Os outros clubes não precisam dos vossos para nada.
Os vossos é que precisam dos outros.
Para terem com quem jogar nas competições nacionais, para terem a quem comprar barato para depois venderem caro, para terem a quem ganhar com relativa facilidade para depois poderem ter as salas de troféus recheadas de taças e tacinhas.
Até um dia.
Até ao dia em que os outros abram os olhos e façam valer os seus direitos, no limite mandando-vos jogar sozinhos, até ao dia em que os outros sejam todos eles dirigidos por gente imune ao vosso "virus" e que vistam apenas a camisola dos seus clubes, até ao dia em que os cidadãos deste país abram os olhos e percebam que devem apoiar os clubes das suas terras e não apenas aqueles que veêm na televisão, e de longe a longe num estádio, porque ganham mais vezes que os outros.
Se tiverem dúvidas sobre como isso se faz basta porem os olhos em Guimarães e nos adeptos do Vitória.
Que adoram ganhar mas não fazem disso condição de apoio ao seu clube.
Que estão em grande número nos momentos bons mas em número ainda maior nos momentos maus e em que sabem que o clube precisa deles.
Que tem um orgulho inultrapassável na sua Terra e o exprimem através do apoio ao seu principal clube.
Fossem todas as terras como Guimarães e o nosso futebol, o nosso desporto e a nossa cultura de comunidade seriam seguramente bem melhores.

P.S. Não se veja neste texto qualquer falta de respeito por Benfica, Sporting e Porto. Que respeito enquanto instituições históricas e com relevantes serviços prestados ao desporto em Portugal. Exerço apenas o meu direito á indignação pela forma como parte da “grandeza” desses clubes foi conseguida, com os apoios descritos no texto, e por haver quem apreciando comer gelados com a testa pretenda que os outros os comam também.
Com os vitorianos não terão seguramente sorte nenhuma!

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