O meu artigo desta semana no zerozero.
A minha crónica de hoje debruça-se sobre um lance, de um normal jogo
de futebol, mas cujas implicações e leituras vão muito para lá do próprio lance
e do seu principal protagonista.
Refiro-me ao acontecido no último Sporting-Moreirense com a expulsão
do sportinguista Gelson Martins por tirar a camisola nos festejos do golo que
viria a significar o triunfo da sua equipa e marcado numa altura em que já
poucos o acreditavam possível.
E esse lance, decisivo para o resultado mas também para o futuro
próximo da equipa leonina, tem de ser visto em toda a sua dimensão e dele
retirar algumas conclusões.
Desde logo porque tem um antecedente.
O primeiro cartão amarelo mostrado num lance defensivo em que Gelson
teve de suprir a ausência de um colega e fazer falta sobre um adversário que
caminhava em direcçao à área da sua equipa num lance de perigo relativo.
Aí, e bem, o árbitro Tiago Martins mostrou-lhe cartão amarelo e marcou
a falta no sítio respectivo.
Ao contrário do acontecido na semana anterior, no Vitória-Braga, em
que num lance em tudo semelhante o árbitro Rui Costa mostrou vermelho directo a
Wakaso e marcou uma grande penalidade de todo inexistente.
Critérios diferentes para lances iguais ou a prova da mentira que o
nosso futebol é.
Restando dizer que no jogo de Guimarães, e em dois lances em que se
exigia a sua intervenção, o VAR ficou calado provando que de facto só existe
para favorecer os que já são largamente favorecidos desde sempre.
Nos jogos em que esses não intervém o VAR não está para se incomodar.
A segunda conclusão do lance de Gelson prende-se com a reacção de
Jorge Jesus.
Que tem toda a razão ao estar desapontado com a atitude do seu jogador
numa fase crucial do campeonato e em que manifestamente agiu sem pensar no
interesse da equipa.
Não há no futebol europeu, nem a nível dos grande colossos, nenhuma
equipa que possa lutar em quatro frentes sem a perda de competitividade
originada pela fadiga, pelas lesões, pelos abaixamentos de forma.
É humanamente impossível.
E o Sporting, cujo plantel tem quantidade e qualidade mas não tem
muita quantidade na qualidade, depois de vencer a taça ctt ainda está na luta
pelo titulo, pela taça de Portugal e pela Liga Europa.
Quando na véspera de um jogo decisivo, no qual uma derrota significará
o adeus ao titulo, a equipa perde aquele que é provavelmente o seu maior
talento porque este num gesto infantil tira a camisola sabendo que já tinha um
amarelo e que portanto iria ver o vermelho face aos regulamentos é natural que
isso cause no treinador a decepção bem patente nas palavras de Jesus.
Que com Bas Dost preso por “arames” ,e dificilmente recuperável para o
“Dragão”, fica também sem Gelson que com ele é responsável por 80% do volume
ofensivo da equipa.
E isto leva-nos à questão do profissionalismo versus maturidade.
Gelson Martins é um enorme talento, um jovem de elevado potencial e
cuja carreira seguramente atingirá um patamar bastante elevado sendo crível que
pouco mais tempo ficará pelo futebol português.
Mas ainda não é produto acabado nem em termos físico/técnicos nem em
termos de maturidade como esta expulsão comprova.
E desse processo de maturação terá de fazer parte a interiorização de
que o profissionalismo dos tempos
correntes é incompatível com atitudes como as que tomou que sendo de louvar no
plano dos sentimentos e da solidariedade pessoal se tornam gravemente lesivas
dos interesses da sua entidade patronal que são aqueles que deverá priorizar
sempre e em qualquer circunstância.
Que num jogo absolutamente decisivo, para o qual precisaria de todos os seus
melhores jogadores, não vai poder contar com alguns por lesão e com ele próprio
por uma acção disciplinar absolutamente evitável.
Dito isto, e a terminar, importa dizer o seguinte:
O golo é o objectivo maior do futebol e a sua maior alegria.
E a forma como os jogadores festejam os golos, às vezes com
coreografias tão próprias, fazem parte do grande espectáculo que é o futebol e
são dele parte cuja importância não deve ser subestimada.
Equivale isto a dizer que um jogador ver um amarelo por tirar a
camisola a festejar um golo é uma estupidez absoluta.
Não ofende, não choca (se por baixo trouxer outra camisola com
mensagens eventualmente impróprias isso deverá ser avaliado pelos orgãos
disciplinares) e é uma manifestação de alegria que enriquece o espectáculo.
Mas os regulamentos proíbem que se faça.
Mal mas proíbem.
E enquanto assim for os jogadores tem de respeitar os regulamentos,
consciencializar-se que não o podem fazer e não o fazendo defenderem os
interesses de quem lhes paga.
É tão simples como isso.