Já não valerá a pena escrever muito sobre o descalabro anunciado do PSD nas eleições autárquicas.
A não ser para memória futura.
Para que erros primários não comprometam vitórias que nunca foram tão fáceis de alcançar.
Depois do excelente triunfo nas europeias,mérito de Paulo Rangel e de Manuela Ferreira Leite,estava criado no partido e no país um clima que parecia apontar no sentido de uma vitória social democrata nas legislativas.
Um governo impopular,um primeiro ministro desacreditado,um país a clamar por mudança.
Que só o PSD podia protagonizar.
E que fez o PSD ?
Erros atrás de erros.
Na liderança,na secretaria geral,na escolha de deputados,na estratégia de campanha, no discurso.
O pior de todos, o que mais terá contribuído internamente para a derrota,foi a desgraçada opção de em cima de uma vitória fracturar em vez de unir.
Porque o afastamento de Pedro Passos Coelho, de Miguel Relvas e de outras figuras relevantes não foi uma opção politica.
Nem uma questão estratégica.
Foi uma "vendetta"!
Contra os que não pensavam da mesma maneira e tinham assumido outras opções nas ultimas directas.
Alguns dos quais não prescindiram de continuarem a ter opinião própria.
E o país percebeu isso.
Com desagrado.
Porque de intolerância, a de Sócrates,Lurdes Rodrigues e afins,já estavam todos fartos.
Mas essa dirigida para sectores específicos da sociedade.
Mas a intolerância contra os próprios companheiros de partido é mais assustadora.
Porque quem age assim dentro de casa é de temer que fora ainda faça pior.
E isso destruiu o elan interno e externo que as europeias tinham proporcionado.
Manuela Ferreira Leite não foi a alternativa que os portugueses esperavam.
Não ganhou um debate,não teve um discurso mobilizador,não foi afectiva e próxima das pessoas.
Dir-me-aõ que não é o seu estilo.
Pois não.
Mas era esse o estilo que o partido precisava.
Porque corresponde á sua marca genética.
O secretário geral foi o maior mistério da campanha. E sei do que falo nesse matéria.
Porque nunca vi, muito menos com duas eleições simultâneas,um secretário geral a passear-se pelo país atrás de um líder durante semanas a fio.
Não é essa a sua responsabilidade.
Foi um eficaz guarda costas não duvido.
Mas as funções de s.g. obrigam a outro tipo de actividade.
Em Lisboa na sede nacional.
A concepção da campanha um perfeito desastre.
Agenda reduzida ao mínimo, muitas das vezes terminando ao fim da tarde, dando a clara sensação de estar a ser cumprida por obrigação e não por convicção.
Sem comícios, sem grandes jantares,sempre as miseras salinhas de hotel (em Braga usaram a sala mais pequena do hotel turismo) dando a clara convicção de que andavam a fugir do povo.
Com o PS, CDS, CDU e BE a mostrarem em todos os telejornais capacidade de mobilização (á escala de cada um como é óbvio) e dinamismo popular chegou a tornar-se penoso para os apoiantes do PSD.
O discurso foi o que se sabe.
Mais TGV menos TGV,mais asfixia democrática menos asfixia democrática,mais coligação PS/BE menos coligação PS/BE.
Pouco atractivo,pouco mobilizador, sem esperança nem alento.
Não fez ninguém sonhar nem trouxe um mínimo de esperança.
Finalmente o descalabro das listas de deputados.
Cabeças de lista que nada tinham a ver com os distritos na maioria dos casos, critérios incompreensiveis na constituição das listas,autênticas afrontas ao partido como os convites a Pacheco Pereira ou a Maria José Nogueira Pinto.
Para além do afastamento de bons deputados.
Daqueles que honravam o cargo.
E volto á infeliz exclusão de Pedro Passos Coelho para dizer o seguinte:
Um líder deve ter como tarefa primeira prevenir o interesse presente e futuro do partido.
E MFL sabia que as eleições podiam correr mal
Daí que tivesse a obrigação de acautelar a possibilidade de os seus eventuais sucessores terem assento no orgão onde se pudessem defrontar com o vencedor das eleições.
Se PPC ficou em segundo lugar nas directas e mantém,ao que se sabe, a perspectiva de voltar a candidatar-se á liderança,a líder MFL tinha a "obrigação" de o incluir nas listas de deputados.
Porque com isso acautelaria o interesse do partido.
Mais:
PPC tinha o apoio da sua distrital (Vila Real) para encabeçar a lista.
Como Miguel Relvas tinha o da CPD de Santarém.
Foram excluídos.
Com que moral de escolheram Costa Neves,Deus Pinheiro,Bacelar Gouveia,Fernando Negrão,Teresa Morais,José Eduardo Martins,etc para encabeçarem listas contra a vontade das distritais ?
Foram erros demasiados que explicam cabalmente a derrota.
E a culpa não pode morrer solteira.
Sendo certo que não pode,nem deve,ser somente Manuela Ferreira Leite a assumir responsabilidades.
Outros responsáveis existem pelo descalabro.
Alguns dos quais andam por aí a assobiar para o ar, a sonharem com lideranças(se o ridiculo matasse...),ou a quererem continuar a dar a "táctica".
É tempo de o PSD virar de página.
E de substituir os responsáveis por este triste "autismo" democrático por protagonistas que permitam voltar a sonhar.
Depois Falamos
P.S. Na sua apagada deambulação pelo país Manuela Ferreira Leite esteve em Gaia a visitar uma empresa. Em mais um daqueles números que ao povo nada dizem mas permitem fazer de conta que se está a fazer campanha.
Esteve em Gaia.
Mas não deu uma palavra ao presidente da câmara.
Que é do PSD.
E foi,não por acaso,seu antecessor na liderança do partido.
É...basta de autismo !