O meu artigo desta semana no zerozero.pt
Num clube que vive o seu dia a dia com pemanente interesse dos associados e adeptos qualquer assunto que fuja ao nornal, digamos assim, suscita logo curiosidade a que muitas vezes se sucedem as inevitáveis polémicas.
E quando isso envolve treinadores e jogadores, por natureza os mais expostos à observação dos adeptos, é normal ( no Vitória) que os assuntos sejam logo transformados em “casos” muito sérios e que suscitam enormes discussões em seu torno.
Ricardo Quaresma é, sem qualquer dúvida, o futebolista com melhor curriculo que alguma vez vestiu a camisola vitoriana e por isso a sua chegada ao castelo (mais ao Paço dos Duques de Bragança e a cavalo!) suscitou incredulidade seguida de enorme entusiasmo porque ver um jogador com tal estatuto no clube era um sonho transformado em realidade.
E na sua primeira época de branco Ricardo Quaresma cumpriu com as expectativas.
Participou em 31 jogos, fez quatro golos e seis assistências, foi dos jogadores mais utilizados pelos vários treinadores que passaram pelo banco vitoriano numa temporada algo atribulada e em que a equipa ficou longe dos objectivos a que se tinha proposto.
O que não admirará muito se constatarmos que ao longo da época passaram pelo banco quatro treinadores (!!!) começando por Tiago Mendes, depois João Henriques, seguindo-se Bino Maçães e com Moreno a fazer os dois últimos jogos.
Mas não foi, seguramente, por responsabilidade de Quaresma que os objectivos deixaram de ser atingidos.
Na época em curso o panorama mudou.
Desde logo porque chegou ao banco um novo treinador- Pepa- e com este a equipa tem tido em termos de direccção técnica a estabilidade que lhe faltara na época passada com as várias trocas de treinadores mas também porque o plantel está melhor apetrechado para a luta pela Europa pese embora as saídas de Janeiro (Edwards,Sacko e André André) tenham reduzido de forma importante o seu valor qualitativo muito em especial pela falta que o talento do jovem inglês faz á equipa.
Para Quaresma as coisas também mudaram embora neste caso para pior.
Participou em menos jogos, fez apenas um golo e uma assistência, e embora tenha começado a época como titular foi perdendo esse estatuto ao ponto de na segunda volta ter participado em apenas cinco jogos e sempre enquanto suplente utilizado, não saindo do banco nos jogos com Braga e Porto e não sendo convocado nos jogos restantes por lesões e por opção técnica do treinador.
Ricardo Quaresma tem trinta e oito anos.
O fulgor físico, a velocidade, a forma explosiva como saía dos dribles para os seus cruzamentos letais já não são o que eram porque as leis da vida cobram o seu preço e o jogador não foge a elas.
Mas o resto está lá.
A exceppcional qualidade técnica, a experiencia de muitas batalhas, a capcidade de do nada criar um lance de perigo ou fazer um golo, a ambição de ganhar sempre que o transforma num líder e num exemplo para os colegas.
Mas também o profissionalismo, a comprensão do meio que o rodeia, o bom balneário para que contribui com atitudes positivas bem conhecidas de quem com ele lida no dia a dia.
Ricardo Quaresma, como escrevi no início deste texto, tem um curriculo impressionante ao ponto de muito poucos futebolistas portugueses, ou que jogam no nosso campeonato, possam sequer tentar comparar-se-lhe.
Tem 80 internacionalizações e dez golos por Portugal.
Foi campeão europeu de selecões e clubes.
Foi campeão nacional em Portugal, em Itália e na Turquia.
Ganhou Taças em Portugal, Inglaterra, Itália e Turquia.
Jogou no Sporting, Porto, Barcelona, Inter, Chelsea e Besiktas.
E isso confere-lhe um estatuto muito próprio que não o isentando de cumprir exemplarmente as suas obrigações profissionais ( o que faz) lhe dá o direito de ver a sua carreira respeitada e o seu estatuto reconhecido a cada momento.
Aos 38 anos, e com o fim da carreira a aproximar-se, Ricardo Quaresma não pode ter a veleidade de querer jogar sempre e, jogando sempre, jogar o tempo todo.
Ele, melhor que ninguém, sabe que isso já não é possível.
Tem que se fisicamente gerido de acordo com as suas possibilidades e com os interesses da equipa.
E nessa gestão tem de entrar, obviamente, uma relação franca com o treinador que tem de lhe dizer para que conta com ele e como tenciona rentabilizar as suas prestações jogo a jogo de molde a que todos possam tirar partido do muito que ainda pode dar à equipa.
Partindo do princípio de que está bem fisicamente então Quaresma, basicamente, ou joga de início e sai quando o cansaço imperar ou entra numa altura em que ainda haja tempo para a equipa aproveitar o acréscimo qualitativo que a sua presença em campo significa.
E se isso lhe fosse claramente dito, e praticado, não duvido que ele teria aceite de bom grado e sem dar origem a qualquer tipo de contestação.
Agora um jogador com a qualidade de Quaresma, e o estatuto (insisto neste ponto porque me parece a chave que explica o “caso”) que indiscutivelmente tem, ver-se remetido a última ou penúltima opção a que se recorre no banco dando-lhe entrada depois de colegas que jogam na mesma posição e que aportam muito menos à equipa é que me parece compreensivelmente mais difícil de aceitar.
Já para não falar de fazer dele substituição a que se lança mão para queimar tempo nos últimos minutos e quando a equipa está a defender um resultado, como aconteceu recentemente na Madeira, porque isso é simplesmente impossível de ser compreendido e aceite por um jogador com o estatuto (lá está...) que Quaresma tem.
E não é uma questão de profissionalismo porque esse é inatacável e o jogador, ao que se sabe, continua a trabalhar com o empenho de sempre mas sim de respeito por uma carreira que o merece.
A quatro jogos do fim do campeonato é provável que Quaresma não volte a jogar pelo Vitória.
E é pena não só porque nalguns jogos a sua qualidade podia ainda fazer a diferença mas também porque a sua passagem pelo Vitória merecia bem ter outro desfecho que não este.
Mas falhou a gestão de um jogador com a sua idade, carreira e estatuto daí nascendo um “caso” que era tão fácil de evitar.
E aí a responsabilidade maior não me parece ser dele.