No conjunto de publicações recentemente postas neste mural parece que existe um mundo de diferenças entre Vitória e Boavista e nenhum ponto de convergência importante.
Não é assim.
Houve ,ao longo dos anos,alguns pontos em comum como foi o caso de jogadores e treinadores que representaram os dois emblemas como foi o caso dos técnicos Mário Wilson e Fernando Caiado e dos atletas Mané, Jaime Alves, Frederico, Caetano, Silva, Rissutt, Paulo Turra entre outros.
Mas entre todos aquele que mais representou para ambos os emblemas, pelo papel que neles desempenhou, foi José Maria Pedroto.
Provavelmente o primeiro treinador "global" do nosso futebol.
Um visionário, um homem adiantado para o seu tempo, um grande treinador de futebol.
Que para além do treino e do jogo se preocupava com muitos outros aspectos que rodeavam uma equipa e podiam influenciar o seu rendimento.
E em todo o lado deixou marca.
Futebolistica e não só.
Em Setúbal construiu uma grande equipa (dando sequência ao trabalho de Fernando Vaz) mas também se preocupou com os direitos dos jogadores e com o fim da famigerada "lei da opção".
No Boavista ganhou duas taças de Portugal (uma roubada ao Vitória mas a culpa não foi dele)e conseguiu um segundo lugar no campeonato mas também foi pioneiro na organização do departamento de futebol e na valorização dos preparadores físicos em determinados aspectos do treino.
No Vitória cumpriu os objectivos que lhe foram pedidos mas também exigiu "outro" estádio e outro relvado e foi no seu tempo que começaram as obras de beneficiação do velho estádio municipal.
E no Porto, no "seu" Porto, alem de ter sido o ideólogo que lançou as bases do Porto ganhador dos últimos trinta anos, e acabou com os complexos de provincianismo que se manifestavam mal o FCP atravessava a ponte Luís I, ainda introduziu a moda (hoje tão actual) dos "mind games".
Após uma derrota do Benfica frente ao Varzim, em jogo disputado na Póvoa, Pedroto lançou o célebre "o Benfica não tem estofo de campeão" que destabilizou a equipa encarnada e permitiu ao FCP ganhar o titulo dessa época.
E na selecção, embora não tenha alcançado nada de especial em termos de competições europeias ou mundiais (em juniores foi campeão europeu em 1961), será sempre recordado por um célebre 0-0 em Wembley com uma equipa de "baixinhos" (Alves, Octávio, Vitor Martins), e o vitoriano Osvaldinho a lateral esquerdo,que fizeram um jogo perfeito e puseram os calmeirões ingleses de cabeça à roda.
Por isso quando se põe a questão de alguma convergência entre Vitória e Boavista lembro-me sempre de Pedroto.
Que teve um papel de referência nos dois clubes.
Que muito lhe devem pelas marcas que a sua passagem neles deixou.
E se lhe chamo, em titulo, "elo perdido" é pelo facto de a lei da vida ter levado José Maria Pedroto muito cedo roubando ao futebol ( e especialmente aos clubes em que trabalhou, deixando-os ligados pelo elo da sua competência) um personagem ímpar na história da modalidade em Portugal.
E se lhe chamo, em titulo, "elo perdido" é pelo facto de a lei da vida ter levado José Maria Pedroto muito cedo roubando ao futebol ( e especialmente aos clubes em que trabalhou, deixando-os ligados pelo elo da sua competência) um personagem ímpar na história da modalidade em Portugal.
Depois Falamos.
P.S. Na fotografia José Maria Pedroto no banco do Vitória num jogo disputado na Luz.
Ao seu lado Artur Jorge, nessa época seu adjunto, e Carlos Pimenta Machado então director do futebol vitoriano.
2 comentários:
Tirou-me muitos pensamentos do baú de recordações com este seu texto, Sr. Luís Cirilo. Mas se quer que seja franco, não gostei de Pedroto no Vitória. Deu-me falsas esperanças. Aquelas duas épocas cá passadas souberam-me a pouco e até me senti enganado. Apenas ainda povoam os meus sonhos como agradáveis memórias sem nada de concreto conquistado. Com Pedroto em 81 chegamos ao 5º lugar e em 82 subimos de posto na classificação até à 4º posição. Tudo apontava que na época seguinte chegaríamos ao 3º e se assim continuasse, dali a 2 ou 3 anos, seríamos campeões. Não fomos! O preço a pagar por esta ilusão do quase ainda hoje me está atravessada na garganta. Andei até 87 a satisfazer-me com um quase e a enganar-me com o zénite no campeonato que nunca chegou. Daí a minha frustração em relação ao José Maria Pedroto que nos trocou pelo Porto em 82 por um salário maior.
Fim de história.
Sem Pedroto, ou parte do seu legado presente, o Vitória manteve-se em 4º no ano seguinte, 6º em 1984, 9º em 1985 (ano da sua morte), 4º em 1986, 3º em 1987, e um ano depois, em 88, o Vitória tropeçou por ali abaixo, acabando em 14º. Enfim, o resto são as memórias que a maioria sabe.
Nem boas, nem más. Até à TP em 2013!
Concordamos que foi um grande treinador e que merecia ter acabado a sua carreira com a cereja em cima do bolo, como selecionador nacional, não fosse o vício do tabaco.
No entanto, tendo certeza previsional do que estou a dizer, as recordações que Pedroto deu ao Vitória nunca serão maiores do que aquelas que Rui Vitória já proporcionou. É a melhor homenagem que posso prestar à dinâmica de jogo de José Maria Pedroto, revendo em Rui Vitória uma nova áurea que, não fossem os desfalques das negociatas de Inverno ou de final de época, poderiam dar ao Clube uma dimensão maior do que este arranque surpreendente.
Talvez de propósito, o Sr. Luís Cirilo esqueceu-me outro elo comum entre Vitória e Boavista: Jaime Pacheco. Foi campeão no Boavista em 2001, emigrou para Maiorca, voltou ao Boavista (2004), veio para o Vitória tentar a sorte em 2005 e regressou ao Boavista na época seguinte, já em declínio.
Tanto Pedroto como Jaime Pacheco pertencem ao mofo do passado porque no presente estamos bem servidos.
E claro, em Rui Vitória, nada nos liga ao Boavista, pelo menos, por enquanto. Por isso, enquanto tivermos Rui Vitória, por mim respondo: Não, muito obrigado. Para trás mija a burra.
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
Conheço, contadas por quem esteve presente, as peripécias da contratação de Pedroto e a sua acção enquanto treinador do Vitória. A mim não me desiludiu nada antes pelo contrário. Recordo até que no primeiro jogo em casa vencemos o Braga por 5-0 (com 4-0 ao intervalo) numa das melhores exibições de futebol ofensivo que me lembro de ver uma equipa vitoriana fazer. Mas todos sabiamos que Pedroto estava a prazo no clube porque o seu sonho era voltar ao FCP. Mesmo assim, nos dois anos que cá esteve,deixou uma marca fortissima que esteve ne génese do crescimento vitoriano na década seguinte. Não farei comparações entre Pedroto e Rui Vitória. Trinta anos de diferença é muito tempo. Quanto a Jaime Pacheco não o referi porque não podia referir todos que trabalharam em ambos os clubes. Quanto ao mofo eu sei que está na moda reescrever a História mas eu orgulho-me muit da nossa. E especialmente daqueles que nos serviram com a qualidade com que José Maria Pedroto o fez.
Enviar um comentário