Conheço o PSD (que começou PPD) desde a sua fundação.
Filiei-me na JSD em Janeiro de 1975 mas já antes acompanhava as actividade do partido e a sua implantação em Guimarães.
Comprava semanalmente o "Povo Livre" e lia-o de uma ponta a outra com o entusiasmo de quem está a ver coisas novas e a entrar num mundo até então desconhecido.
Ainda hoje tenho alguns exemplares desses tempos heróicos em que ser do PPD era perigoso em muitos sítios deste país.
Especialmente a sul do Tejo mas também em muitos outros lugares.
Mas o PPD não tinha medo.
E não "dava" a rua à esquerda.
Fazia sessões de esclarecimento, comícios e manifestações de rua mesmo sabendo que algumas dessas iniciativas iriam ser alvo de tentativas de boicote e muitas delas terminariam em monumentais sessões de pancadaria.
Recordo-me bem de sessões, no Minho, que estavam a ser atacadas pela esquerda totalitária e se telefonava para as sedes de concelhos vizinhos a pedir reforços para fazer frente a quem não nos queria reconhecer o direito de existir.
E lá iam pessoas da JSD e do PPD ajudar os que estavam em dificuldades.
Com o passar dos anos , e o exercício do poder, o PPD (já PSD) foi-se acomodando e "esquecendo" a rua de onde vinha e que lhe tinha valido o poder.
Rua só nas campanhas com umas "arruadas" e pouco mais.
De resto optou pelos jantares de campanha, pelos comícios em espaços fechados e por outras iniciativas mais "confortáveis".
E fora das campanhas, então, caiu no vício das sessões e reuniões em hotéis com ar condicionado e confortáveis cadeira em cima de macias alcatifas.
Dir-me-ão que são tempos diferentes e que as coisas evoluíram.
Direi que só para nós PSD.
Porque a esquerda continua na rua e faz dela uma "coutada" por ausência de quem dela não tem que ter medo.
Vem isto a propósito da forma como a esquerda radical e os sindicatos por ela instrumentalizados transformam cada visita do primeiro-ministro num acto de contestação ao governo, com "direito" a noticia em todos os telejornais, fazendo passar a ideia de que em todo o país há uma enorme contestação ao governo e um estado geral de insatisfação e revolta.
Quando em muitos dos casos não passam de brigadas "autocarrotransportadas"de um lado para outro.
E o que faz o PSD para contrariar este estado de coisas?
Que se saiba...nada.
Nem sequer convocar os seus militantes para estarem presentes a apoiarem o seu governo e o seu primeiro-ministro.
E contrariarem a imagem quase diariamente passada nos telejornais.
Ter medo de "combater", evitar os terrenos do "inimigo", recear assumir o apoio a quem apoiamos é uma atitude que dificilmente deixará de conduzir a uma derrota "anunciada" e perante a qual parece existir algum conformismo.
Há que mudar de atitude e de estratégia.
Enquanto é tempo.
Depois Falamos.
P.S. A fotografia é de um comício do PSD/Madeira.
Que ao fim de 37 anos de poder continua a não "dar" a rua aos adversários.
Ocupa-a.
E também por isso está tão duradouramente no poder.
12 comentários:
dar a Madeira como exemplo daquilo que quer provar, é um bocado perigoso, mas se calhar é ilustrativo
Caro luso:
É perfeitamente ilustrativo. Na Madeira o PSD apesar de estar no governo desde 1976 sempre manteve uma actividade politica intensa. E nunca teve qualquer receio de organizar grandes comícios, manifestações e uma festa anual onde vão muitos milhares de pessoas como é o caso do Chão da Lagoa.
Eu não sou militante de nenhum partido. E a minha opinião sobre a passividade dos militantes do PSD é de que, mesmo os que votaram e militam no partido, estão descontentes com a política. Muitos não sabiam em quem estavam a votar. Porque actualmente há pelo menos dois PSD: há o dos social-democratas, e há o dos liberais radicais - ultrapassados pelos factos, e já fora do seu tempo, e que infelizmente insistem na cultura de uma política errática, a favor de quem nos levou para a crise em primeiro lugar. Se fosse militante do PSD só não estaria descontente se entretanto tivesse arranjado trabalho a reboque da liderança do partido. Mas o PS e o Bloco estão ainda mais divididos que o PSD... qualquer um deles seguirá a mesma deriva política, porque para resolver os problemas do país, os partidos vão ter de acabar com muitos interesses instalados. É que isto está na mesma. E continuar assim é admitir que a ditadura continua, agora de uma outra forma, mas que não deixa de ser ditadura. A democracia não pode andar a reboque de interesses privados. É preciso não esquecer que a crise económica do Estado deve-se à cedência ao interesse privado. Ainda esta semana a segurança social perdeu 58 milhões em investimentos na PT... A segurança social não tem nada que andar a jogar os nossos impostos na bolsa. Isso é o mesmo que jogar as nossas poupanças no casino. Com isto se percebe porque é que os militantes do PSD, mas também os do PS, têm vegonha de sair à rua.
Caro Anónimo:
Ser militante de um partido é uma forma de liberdade. Que não torna o cidadão menos livre do que aqueles que não tem filiação. Eu com 40 anos de PSD/JSD não me sinto menos livre por isso nem inibido de dar opinião. Mesmo quanto é critica para o governo liderado pelo meu partido. Não acredito que alguém (com raríssimas excepções) se sinta feliz com a realidade actual.
Há é os que percebem o que aconteceu e porque é preciso governar assim, os que nunca perceberão isso e os que percebem mas fazem de conta que não percebem. Nenhum governo impõe austeridade por gosto ou ideologia. E por isso os militantes do PSD não tem que ter vergonha de saírem à rua a defenderem o governo apoiado pelo partido.
Gostei do que escreveu. Sr. Luís Cirilo e acabei lendo a suspirar fundo. Pelo saudosismo dos tempos de antigamente. Quando ainda se fazia história com gente de fibra. Quando não havia atitudes amorfas dos militantes em apoiar os nossos quando era preciso.
Houve uma altura da minha vida que quase fui apanhado por essas lides políticas que descreveu no seu texto. Era contagioso. Pouco meses antes da morte de Sá Carneiro com Soares Carneiro a discutir a Presidência em 80 e quando Freitas do Amaral entrou também na corrida a Belém em 86. Depois optei por manter distância.
Embora partilhamos o mesmo partido, quem opta pela política tem de estar preparado para tudo e defender ou atacar com o poder da palavra. É a única arma permitida. Quando fala no modo de combater permitido aos militantes, subentendo estar presente para abafar a meia centena ou a centena e meia que protesta ao ponto de cair no ridículo.
Na nossa política combate-se a oposição com eloquência, oratória, gestos simples, educados, graciosos, honra, boas políticas. Mas o povo está alheio a isto tudo. É outra conversa. O povo quer felicidade e ser tratado com respeito e inteligência. Quer ver um Governo sem mácula que os protege. Quer ser bem representado na Europa.
Quer ver um Governo humanista, que sinta e goste de Portugal, que defenda crianças, pobres e indefesos e os trate por igual, que todos os dias, se for preciso, que reze com o povo de terço na mão.
No PSD, Sr. Luís Cirilo, há anos que não me emociono desde os tempos de Sá Carneiro. Havia nele algo diferente que nos encantava. Ninguém depois dele foi capaz de falar com a mesma determinação. E assim me afastei de combater pelos meios que refere, reservando-me apenas a minha participação ao voto e em alguns fóruns, como o seu, onde realmente valha a pena.
Depois, a parte chata do PSD, faz-me ser contido com algumas figuras tabu. Há meia dúzia de pessoas que me envergonham. Cruzo-me de vez em quando em alguns restaurantes com esta gente e faço de conta que não os reconheço porque se foram bons psd's, deixaram de o ser quando puseram os seus interesses pessoais a falar mais alto.
São eles, só para citar alguns: Isaltino Morais, Macário Correia, Duarte Lima, o ex Basílio Horta, Dias Loureiro, Alberto João Jardim... podia continuar até triplicar a lista, mas teria de colocar aqui pessoas com menos fama que os anteriores, à semelhança do renegado Miguel Relvas que mal teve tempo de aquecer o banco.
Há um preço a pagar quando se deixa de combater e faz-se deserção para salvar a própria "pele". Se no PSD sei pelos nomes quem são os prevaricadores, no caso do PS, nem me apetece falar porque a lista gastaria intermináveis rolos de papel. Por isso, mesmo que o combate de hoje seja guerra perdida para o PS, que perdeu os argumentos para voltar a Governar quando desfalcou o País, todo o português que saiba ler ou escrever estará a prestar um mau serviço ao País se vier a virar costas ao atual Governo na hora de votar. Uma nova mudança à esquerda leva-nos de volta ao delírio ou mania das grandezas com que o PS até Sócrates nos foi enganando.
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
Entrei para a JSD com 15 anos em 1975.
Estive em comicios do PPD, e depois da AD, com Sá Carneiro.
Que foi de facto uma personalidade sem paralelo na nossa vida democrática.
Conheci pessoalmente quase todos os líderes do partido (as excepções foram Francisco Balsemão,Sousa Franco, Mota Pinto e Fernando Nogueira)e com alguns colaborei de perto. Conheci( e conheço) imensos dirigentes ao longos destes quase 40 anos de partido e, como em todos os sectores sociais, há neles gente excelente, gente boa e alguns que não prestam. Nessa diversidade de feitios, caracteres e competências se faz o PSD. Como qualquer partido.
A realidade de hoje é naturalmente diferente. Mudaram as pessoas, as circunstâncias, os protagonistas. Costumo lembrar que em 1999 quando fui eleito deputado a direcção do grupo parlamentar tinha como presidente António Capucho e os seus vice presidentes eram Manuela Ferreira Leite, Rui Rio, David Justino, Carlos Encarnação, Marques Guedes e Guilherme Silva. Uma realidade diferente da de hoje.
Mas o PSD, as suas causas e valores, quero acreditar que são perenes. E continuo firmemente convencido que o actual governo,com os seus erros e fracassos,será sempre muito melhor que um governo PS liderado por Costa e composto pela sua horda de ressabiados. E por isso acho que vale a pena "lutar". Por vias pacíficas,é evidente, mas em todos os lugares. Do Parlamento à rua.
O 25 de Abril e a descolonização de Angola levaram-me a abandonar a carreira militar. Os negócios de família em Luanda, quase todos vandalizados ou roubados, foram durante o final de 70 uma prioridade numa altura em que se vivia uma instabilidade decorrente da novidade democrática. Não estava cá, nem tinha tempo para integrar ativamente nenhum partido, mas identifiquei-me sempre com os valores sociais democratas.
Certamente estivemos juntos em alguns comícios, coincidindo com algumas estadias em Portugal, porque privei de muito perto algumas vezes com Sá Carneiro e Mota Pinto, de quem era amigo próximo em virtude de alguns amigos comuns. Talvez o desgosto sentido pelas mortes prematuras destes dois grandes amigos, me tivessem vedado um destino político. E apenas apareci a apoiar efusivamente Freitas do Amaral, que hoje é apenas um holograma do que já foi antes, em 1986. Ganhou-se a primeira volta a pensar que a segunda estava ganha. Foi fatal e a derrota mais difícil de engolir. Nunca mais voltei a interessar-me por política quando vi socialistas e comunistas unidos para tramarem sociais democratas cristãos e eleger Mário Soares.
Gostava de hoje voltar atrás, sabendo o que sei hoje e com a minha juventude. Certamente tudo faria para Sá Carneiro não entrar naquele avião. Tentaria convencer Marcelo Caetano a fazer-se uma transição sem tanto aparato. E estender a primeira liga futebol a Angola, Guiné e Moçambique evitando uma autodeterminação abrupta que, no caso de Angola, já deu em oligarquia.
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
Interessante reflexão a sua. E qual de nós não gostaria de voltar à sua juventude sabendo o que sabe hoje? Olhe a mim, num certo aspecto bastar-me-ia recuar dois anos e meio sabendo o que sei agora.
Talvez o seu sonho estivesse mais perto de ter pernas para andar...
Dois anos e meio, Sr. Luís Cirilo, é muito curto. A não ser que quisesse impressionar plateias com revelações de cartomancia ou levasse as chaves premiadas do euromilhões e ultrapassasse o Bill Gates no ranking dos mais ricos...
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
Bastavam dois anos e meio.
Teria tomado decisões bem diferentes das que tomei.
Por curiosidade, Sr. Luís Cirilo... seriam as decisões mais importantes da sua vida?
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
Em termos de Vitória sem sombra de duvida.
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