A decisão tomada hoje pelo Tribunal da Comarca de Lisboa de inocentar Carmona Rodrigues, Fontão de Carvalho e Eduarda Napoleão das acusações que enfrentavam desde 2007(!!!) é de saudar com satisfação no plano pessoal ,e até político, mas suscita duas amargas reflexões.
A primeira prende-se com a morosidade da Justiça que andou com este processo em mãos durante quase uma década e só agora surge uma decisão que ainda pode ser passível de recurso.
Dez anos é muito tempo.
Especialmente quando implica processos judiciais a pessoas que se vem apurar estarem inocentes.
A quem ninguém indemnizará nunca das preocupações, das angústias, dos transtornos pessoais e profissionais, dos graves danos injustamente causados ao bom nome a quem todos tem direito.
A segunda é politica.
Carmona Rodrigues ganhara a Câmara de Lisboa em 2005 pelo PSD, sucedendo a Pedro Santana Lopes, e foi alvo de uma brutal pressão interna para se demitir por parte do então presidente do partido (Luís Marques Mendes) e da então presidente da distrital de Lisboa (Paula Teixeira da Cruz)a partir do momento em que foi constituído arguido neste processo.
E pese embora as reiteradas afirmações de Carmona Rodrigues alegando a sua inocência não desistiram enquanto ele não se demitiu provocando eleições antecipadas.
Que "deram" a Câmara de Lisboa a António Costa.
2007 foi o ano em que Luís Filipe Menezes ganhou as directas a Marques Mendes.
E estive suficientemente envolvido nessa campanha para me recordar bem das várias vezes em que em intervenções públicas Menezes alertou Marques Mendes de que na questão de Lisboa estava a ir por muito mau caminho com um "justicialismo" partidário que se antecipava ás decisões dos tribunais e transformava arguidos em culpados.
Tinha razão.
Antes do tempo, como em várias outras coisas, mas tinha razão.
E se ninguém pode compensar Carmona, Fontão e Eduarda de todos os prejuízos causados por uma acusação injusta também ninguém compensará o PSD de ter entregue a maior câmara do país ao PS por decisões profundamente erradas dos seus dirigentes de então.
Há erros que marcam eras.
E deviam "marcar" também quem os cometeu mais que não fosse obrigando-os a outra contenção nas críticas a terceiros.
Porque foram grandes de mais para serem esquecidos.
Depois Falamos
P.S. Confesso que no próximo sábado adorava ver Marques Mendes falar na SIC sobre este processo e os seus próprios erros no que a ele diz respeito.
Mas desconfio que não vou ter sorte.
Lá teremos mais umas "tácticas" ao governo e a divulgação de mais uns "sussurros" oriundos do conselho de ministros.
Para lá disso...era muita sorte mesmo!
6 comentários:
Na minha terra tem-se opiniões muito próprias sobre homens de determinados tamanhos. E Marques Mendes insere-se no perfil. Porque quem o vê ao sábado com aquele ar doutoral e cheio de moral a dar lições ao governo e a contar as bisbilhotices que lhe contam do governo não diria que já fez muita "borrada" na politica. E a forma como arrasou o eng Carmona e deu a câmara ao PS foi uma das maiores de todas. Também eu gostava de o ver no próximo sábado a assumir as responsabilidades que perpetrou a meias com Paula Teixeira da Cruz contra um Homem Sério como o eng Carmona Rodrigues. Mas o "rei das cunhas" vai continuar a pregar moral para os outros com a desfaçatez com que o faz desde sempre.
Cara Vanda:
Não há duvidas que em 2007 Marques Mendes e Teixeira da Cruz cometeram um erro monumental que lesou gravemente o PSD e afectou brutalmente as pessoas por ele atingidas.
saber reconhecer os próprios erros é uma qualidade que não está ao alcance de todos.
Aguardemos por sábado.
Sentados é claro
Discordo parcialmente da sua argumentação. Não se trataram de meros boatos. A Justiça encontrou matéria passível de ser julgada, e como tal, as pessoas foram constituídas arguidas. Da decisão proferida, inferir que são inocentes, e como tal, absolvidos, pode não corresponder à verdade dos factos. Poderá a acusação ter sido incompetente e eventualmente não terem provado em tribunal a culpa dos arguidos? Assim, a meu ver e na dúvida, Marques Mendes agiu correctamente à data. Podemos e deveremos censurar é a Justiça ter demorado demasiado tempo para se pronunciar. Quanto à CML os lisboetas sabem e dizem-no, que António Costa é um mau presidente. Está perfeitamente ao alcance do PSD reconquistar uma Câmara onde tão bom desempenho teve. Preocupa-me muito mais a nossa cidade, gerida com vistas curtas e demasiado provinciana. Aqui, infelizmente, o PSD ainda não conseguiu completar um trabalho sério e credível, e que consiga convencer a população a correr com o PS.
DF
Caro DF:
Duas notas:
Aconselho-o a,tendo tempo, ler o livro do jornalista Gustavo Sampaio intitulado "Os Facilitadores". É notável. Especialmente sobre pregadores televisivos de moral.
Quanto ao resto acho que pessoas quase andaram quase dez anos debaixo dos holofotes da opinião pública, que viram as suas vidas devassadas e as suas carreiras profissionais prejudicadas merecem respeito. E a sua lógica é perigosíssima: Ou seja a Justiça esteve bem quando encontrou indícios para os acusar mas se calhar foi incompetente na hora de provar as acusações. Para si eram culpados sem qualquer dúvida. Um Estado de Direito não funciona assim. Felizmente.
Em relação ao PSD de Lisboa estamos de acordo. Mas quem deu a Câmara ao PS foi, repito, o PSD de Marques Mendes.
Já tenho o livro que menciona em minha casa, mas ainda não comecei a ler. Estou a acabar de ler um livro muito interessante acerca da I Guerra Mundial e de seguida leio "Os Facilitadores". Obrigado de qualquer modo pela sugestão.
Quanto ao resto, a diferença é mais que semântica. Até prova em contrário qualquer cidadão é inocente. Tenho de ser lúcido e inteligente para não alinhar nos julgamentos na opinião pública e putativas condenações, sob risco de "queimararmos" a reputação das pessoas. Luis Filipe Menezes passa por isto aos dias de hoje.
No caso da CML, os juízes afirmaram que "a Câmara navegava em águas pouco rigorosas e pouco competentes". Talvez não do ponto de vista criminal, mas do ponto de vista administrativo há seguramente responsabilidade política do executivo camarário.
DF
Caro DF:
Aí estamos de acordo.
Um executivo camarário tem responsabilidades próprias.
Mas não é aos tribunais que cabe avaliar a sua competência. É aos eleitores. Quanto aos julgamentos na opinião pública tem infelizmente razão. Não é da minha nem da sua responsabilidade mas a verdade é que para o comum dos cidadãos não existe presunção da inocência quanto aos titulares dos cargos politicos. São todos, mas todos mesmo, culpados dos maiores atropelos. E convencer o povo do contrário é bem difícil.
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