Passam os dias, passam as semanas, correm os meses e o mundo continua
a combater o covid-19 sem ter nenhuma certeza quanto ao sucesso desse combate
nem aos prazos nos quais poderá regressar a uma normalidade que nunca será a
normalidade do pré pandemia mas algo de bem diferente.
Com a Europa e os Estados Unidos a registarem quase 90% das infecções e
mortes por causa da pandemia ( o que não deixa de ser sintomático e a merecer
outro desenvolvimento que não o de num artigo sobre desporto) é evidente que o
sucesso do combate ao corona vírus passará pelo sucesso que esse continente e
esse pais conseguirem nos seus esforços.
Deixando de lado os Estados Unidos, que é outra realidade económica,
política e social a Europa , duramente castigada pela pandemia, tem sido
incapaz de até agora concertar uma resposta comum ao combate que tem pela
frente bem como um lamentável atraso nas medidas, e na sua dimensão, que se entendem necessárias para combater a enorme
crise económica que se prevê para o pós covid-19.
Não direi que é cada um por si mas pode bem dizer-se que a
solidariedade entre países da União Europeia não foi a desejável o que obrigou
a que outros protagonistas (Rússia e China ) aparecessem a ajudar os país mais
fustigados como foi, por exemplo, o caso da Itália.
Se a Europa como continente, e a União Europeia como realidade
política , não foram capazes de darem resposta cabal ao problema nem preparar o
futuro, mostrando que há na Europa várias Europas, não seria muito de esperar
que no que ao futebol concerne a UEFA fosse capaz de fazer muito melhor.
Porque a UEFA, como alguns governos, é excelente a navegar em “águas
mansas” e fartura de meios económicos (quem não é ?) já quando as coisas se
complicam, e muito como neste caso, tudo muda de figura e revela-se incapaz de
não só propor soluções para o conjunto das suas federações como dirigir o “barco”
em águas encapeladas.
E daí a desorientação que grassa quanto aos campeonatos nacionais, as
competições europeias e a época de 2020/2021.
Sem grande esforço de memória todos nos recordamos que a UEFA, depois
de reuniões por videoconferência com as federações nacionais, tomou basicamente
duas grande decisões:
A primeira foi adiar o
campeonato da Europa para 2021 face às impossibilidades várias que tornavam inviável que ele fosse disputado
este ano.
A segunda, sobre o concluir das provas nacionais, foi decidir que... não
decidia empurrando as decisões para as federações e ligas de cada país trocando
assim uma decisão centralizada que mereceria o respeito de todos, porque igual
para todos, por um “à vontade do freguês” que ameaça correr mal um pouco por
todo o lado.
Mas, pior ainda, mal uma federação nacional decidiu de forma que à
UEFA não agradou logo veio a terreiro criticar a decisão tomada nesse país (a
Bélgica) e ameaçar com a exclusão dos seus clubes das provas europeias da
próxima temporada.
Sintomático do desnorte que por lá grassa e mais uma prova do quão
pouco democrática é a instituição que manda no futebol europeu.
E por isso se chegou a esta situação de num mesmo continente e numa mesma
associação de federações haver um conjunto díspar de decisões.
A Bélgica decidiu dar o campeonato por terminado e homologar a
respectiva classificação.
A Holanda decidiu dar o campeonato por terminado mas sem campeão, sem
subidas e descidas, fazendo tábua rasa desta época desportiva. Há clubes que
discordam e ameaçam recorrer aos tribunais pelo que ninguém sabe como o assunto
irá acabar.
A Alemanha anuncia o retomar da competição para 9 de Maio, com jogos à
porta fechada, mas sem se saber ainda todas as condições em que será disputado.
Em Itália, um dos países europeus mais castigados pelo vírus, quer-se
terminar o campeonato até dois de Agosto mas o processo está atrasado por força de negociações entre sindicatos de
jogadores e a Liga entre outros problemas não se sabendo como e aonde serão os
jogos.
Em Inglaterra pretendem regresso dos jogos, à porta fechada, a 1 de
Junho com jornadas de dois em dois dias
para não porem em causa os prazos para o começo da próxima época.
Em Espanha Federação e Liga querem o regresso aos treinos, sem
apontarem datas para os jogos, mas é um dos campeonatos em que a oposição dos
jogadores ao retomar da competição é mais forte pelo que neste momento as
decisões ainda não estão tomadas.
Em França o modelo é outro; A Federação quer fazer disputar, no final
de Junho, as finais da Taça e da Taça da Liga e posteriormente reiniciar o
campeonato ainda em Junho ou logo no princípio de Julho.
E Portugal?
Se na Europa há várias Europas em Portugal não podia deixar de haver
vários “Portugais”.
Para o futebol não profissional já houve uma decisão que passa por
campeonatos suspensos e ausência de campeões e de subidas e descidas. É assunto
arrumado.
Para o futebol profissional a decisão é radicalmente diferente e passa
por acabar os campeonatos à viva força embora ainda sem datas para a disputa
dos jogos, sem decisões sobre locais e apenas se sabendo que serão à porta
fechada.
A Federação está a estudar o processo em todas as suas componentes com
a abrangência necessária, o sindicato dos jogadores vem pondo algumas reservas
ao regresso dos jogos sem estarem reunidas todas as condições de segurança (Que
obviamente são impossíveis de garantir) enquanto o governo já deu “luz verde”
ao regresso do futebol.
Os clubes, por seu turno, cada um faz como lhe parece melhor com uns
já a treinarem , outros a programarem o regresso aos treinos e outros com os
jogaodres e treinadores ainda de férias.
Há para todos os gostos.
É impossível , hoje, prever como tudo isto irá acabar nas várias Europas e em Portugal.
Interesses desportivos, interesses televisivos, questões legais (como
contratos de jogadores por exemplo) questões de segurança, combate ao vírus,
conciliação de datas são um novelo complexo que não será fácil desenrolar e
menos ainda quando os organismos com poder para isso, como a UEFA, estão a
falhar rotundamente.
Deseja-se apenas que no corolário do processo não “morram “ alguns
clubes, como se começa a temer em várias latitudes, porque em função do
covid-19 já há mortes que cheguem e sobrem.
Quanto ao resto...andando e vendo!
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