Andam muitos benfiquistas tão contentes por se terem visto livres de Jorge Jesus que nem sequer se deram ao trabalho de repararem na forma como as coisas foram feitas nem se aperceberam que o grande derrotado do processo foi o por eles idolatrado presidente do clube.
Sobre a forma, um levantamento de rancho em que profissionais regiamente pagos se insubordinaram contra a hierarquia e desrespeitaram por completo a instituição, já escrevi noutro texto e não me vou repetir.
Sobre o derrotado, sim, direi mais alguma coisa.
Desde logo que ele é hoje presidente do Benfica apenas e só por ter sido um grande jogador de futebol, que caiu no coração dos adeptos pelo seu inegável benfiquismo, porque nunca revelou qualquer outro talento especial que o recomendasse para a presidência de uma instituição com a inegável grandeza do Benfica.
Andou mais de uma década como vice presidente de Luís Filipe Vieira, nunca viu nada, nunca suspeitou de nada, nunca se apercebeu de nada estranho, provavelmente nem sabe quem é Paulo Gonçalves, pensará que a porta 18 é apenas aquela que fica entre a 17 e a 19 entre muitas outras coisas que lhe passaram ao lado. Assim se supõe pelo menos!
Durante essa década em que levitou sobre todos os problemas teve como entretenimento principal assumir alguns comportamentos em túneis, corredores e balneários que fariam corar de vergonha homens como Borges Coutinho ou Fernando Martins, para citar apenas dois grandes presidentes do Benfica, e que em nada beneficiaram a imagem que tinha deixado como jogador.
Mas chegou a presidente.
Muito por força da amizade e da promoção que Luís Filipe Vieira sempre lhe proporcionou.
E como presidente, pese embora toda a experiência que tem do futebol, nunca percebeu (ou se percebeu não agiu) que a relação de Jorge Jesus com o balneário estava degradada, que dentro do balenário havia agitação fomentada pelo do costume contra o treinador ( se não sabem quem é o do costume perguntem a Rui Vitória ou a algum dos seus colaboradores que eles explicam...) e que este pela sua forma de ser também contribuira para a degradação do ambiente.
E nesse cenário é que um líder agiria.
Antes que as coisas dessem no que deram.
Mas Rui Costa nada fez, deixou andar e as coisas deram no que deram com o tal levantamento de rancho dos jogadores.
E aí, se Rui Costa liderasse de facto, o que havia a fazer era tomar atitudes.
Se a continuidade do treinador era insustentável, e tudo indica que sim face ao ambiente no balneário e á impossibilidade de despedir todo o plantel mais o do costume (ok, eu ajudo, o do costume é aquele individuo alto, tipo porteiro de discoteca, que jogou muitos anos no clube e em todos os fins de época ameaçava que ia embora se não lhe aumentassem o ordenado...), então havia que agir em dois planos:
Acertar com o treinador a saída depois de anunciada uma severa punição pecuniária a esta espécie moderna de "Amotinados da Bounty" pelo desrespeito mostrado pelo clube com as suas gravissímas atitudes de indisciplina.
Assim teria mostrado autoridade, separado as águas entre quem manda e quem tem de obedecer, reposto a disciplina e não ficaria refém dos jogadores que numa próxima oportunidade em que não gostem de um treinador se sentirão à vontade para repetirem a insubordinação sem que o presidente tenha qualquer moral para os contrariar.
Mas o presidente, ex jogador convém não esquecer, não fez nada disso.
Despachou rapidamente o treinador e foi juntar-se ao do costume e aos jogadores , afinal a gente dele, para em conjunto celebrarem os amanhãs que supõe de glória deixando pelo caminho o prestígio do clube de rastos como se isso fosse coisa menor.
E por isso considero que Rui Costa é o grande derrotado deste processo.
Não liderou, não impôs autoridade, não pôs como primeira prioridade a defesa da imagem da instituição, ficou refém dos funcionários e por isso acredito que num prazo mais ou menos curto acabará por ser ele próprio apeado do cargo que ocupa.
Precisamente por aqueles que hoje aplaudem o "vale tudo" que serviu para despachar o treinador.
Resta dizer, a terminar, que pela forma como rapidamente aceitou sair, como prescindiu da indemenização a que teria direito, como teve palavras de respeito pelo clube no seu discurso de despedida o treinador Jorge Jesus foi o único cavalheiro em todo este processo que envergonha o Benfica e seguramente os benfiquistas que consigam ver as coisas sem fanatismos à mistura.
A vida tem de facto ironias bem saborosas.
Depois Falamos.
P. S. A outra ironia maior de tudo isto é que os resultados desportivos não justificam em nada a saída do treinador. No campeonato está na luta pelo título, está na "final four" da taça da liga, apurou-se para os oitavos de final da liga dos campeões num grupo onde ninguém dava nada pelo Benfica e na Taça de Portugal foi afastado pelo Porto no "Dragão" o que é absolutamente normal.
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