Já sei que entre os simpatizantes do partido e os adeptos do clube há muitos que não vão perceber a comparação que neste texto se fará entre o Futebol Clube do Porto e o Chega.
Mas respeitando estritamente as áreas onde cada um se move, o desporto e a política, e que devem permanecer preferencialmente separadas a verdade é que há algumas semelhanças entre a afirmação e o crescimento do Porto desde 1983 e do partido Chega desde a sua fundação em 2019.
Desde logo ambos cresceram amparados em lideranças carismáticas, Pinto da Costa e André Ventura, com profunda aceitação nos adeptos de um e nos militantes de outro e que se distinguiam da concorrância por dizerem coisas diferentes e pretensamente combaterem o status quo.
Em volta dessas lideranças, em ambos os casos, se solidificou um núcleo duro obediente e leal ao "chefe" capaz de seguir as suas orientações sem discutir e convictos do dogma da sua infalibilidade.
Depois adeptos e militantes que veêm no líder quase (ou mesmo) um profeta que os levará à "terra prometida" , capazes de "morrerem" por ele caso isso se torne necessário, e defensores de todas as suas estratégias e orientações independentemente do acerto das mesmas.
Finalmente um forte "espírito de corpo" oriundo de portistas e cheganos acharem que o mundo todo está contra eles e que por isso tem de se unir para lhe fazerem frente.
E quanto mais os combatem, ou eles acham que são combatidos, mais fortes se tornam.
Desde 1983 o discurso de Pinto da Costa em nome do FCP foi sempre contra o centralismo lisboeta, o domínio de Benfica e Sporting nas estruturas do futebol, a comunicação social que os defendia e fazia o seu jogo atacando o FCP.
Desde 2019 o discurso de André Ventura em nome do Chega tem sido contra o poder do Terreiro do Paço, contra PS e PSD que dominam as estruturas do poder desde o governo ao parlamento passando pelas autarquias, contra a comunicação social que faz o jogo desses dois partidos e ataca permanentemente o Chega.
Ou seja num e noutro caso a estratégia de crescimento e afirmação centrou-se no líder forte, na luta contra os poderes dominantes incluindo a comunicação social, na lealdade dos dirigentes e no quase fanatismo dos adeptos e militantes tendo como "leitmotiv" o terem o mundo contra eles.
Desporto e política são mundos diferentes mas tem pontos de encontro que não deixam de ser curiosos pela similitude que apresentam como neste caso.
Resta dizer que a estratégia do FCP teve inegável sucesso traduzido em títulos nacionais e internacionais enquanto a do Chega, muito mais recente é verdade, terá a 30 de janeiro o seu primeiro "match point" do qual dependerão, em bom rigor, muitas das suas possibilidades de sucesso futuros.
Depois Falamos.
P.S. O facto de Pinto da Costa ser um simbolo do portismo e André Ventura um fervoroso benfiquista é uma daquelas ironias que cruzamentos entre desporto e política raramente dispensam.
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