segunda-feira, junho 12, 2023

Futuro Próximo

O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Agora sim pode dizer-se que está terminada a época para as equipas da I e II Liga do futebol profisisonal português com a conclusão do play off que decidiu a descida do Marítimo, depois de 38 anos consecutivos no escalão maior, e a presença do Estrela da Amadora no próximo campoenato da I liga depois de catorze anos de ausência.
Está, assim, tudo decidido.
O Benfica foi campeão nacional pela trigésima oitava vez e disputará a fase de grupos da Liga dos Campeões.
O Porto foi segundo classificado, venceu a Taça de Portugal , a Taça da Liga e a Supertaça e também disputará a fase de grupos da Liga dos Campeões.
O Sporting de Braga ao conquistar o terceiro lugar terá também acesso à Liga dos Campeões mas terá de disputar um play off de dificuldade desconhecida até se saber quem é o adversário que lhe calha em sorte ou em azar.
O Sporting estará na Liga Europa fruto do quarto lugar que lhe soube seguramente a muito pouco numa época em que nada ganhou.
O Arouca, depois de na época anterior ter estado entre os “aflitos” até á ultima jornada, fez desta vez um grande campeonato e conseguiu o apuramento para a terceira pré eliminatória da Liga das Conferências.
O Vitória, que chegou a ter o quinto lugar na mão mas não o soube segurar, conseguiu o apuramento para a segunda pré eliminatória da Liga das Conferências que era o mínimo dos mínimos exigível face às expectativas criadas aquando da mudança de gestão nas eleições de 2022.
Estará nas competições europeias pelo segundo ano consecutivo o que tem de ser considerado positivo face ao histórico dos últimos já largos anos.
De resto sabe-se que Paços de Ferreira e Santa Clara também desceram dando-se os regressos de Moreirense, que tinha descido na época passada, e Farense que descera duas épocas atrás.
Foi assim 2022/2023.
E agora olhemos para o futuro próximo e para o que será a próxima época.
Com os clubes em férias e o mercado ainda muito parado, salvo uma ou outra aquisição acompanhada de maior ou menos folclore , é prematuro tecer considerações sobre até onde poderá ir cada equipa sendo certo que como habitualmente Benfica e Porto lutarão pelo titulo e depois logo se vê no que toca aos restantes,nomeadamente o Sporting, até onde poderão ir.
Pelo que importará uma pequena reflexão sobre o quanto nacional é o campeonato.
E chega-se à triste conclusáo de que actualmente a prova maior do nosso futebol está reduzidíssima a clubes de apenas seis distritos num país que tem dezoito mais duas regiões autónomas.
Começando por estas pode dizer-se que o campeonato agora terminado foi trágico para os clubes da Madeira e dos Açores com o Santa Clara a descer directamente e o Marítimo num dramático play off decidido nas grandes penalidades.
E assim, de uma penada, as duas regiões autónomas ficaram sem representantes na primeira liga com especial incidência para o Marítimo que já levava trinta e oito anos consecutivos na divisão maior onde era o mais antigo em termos de presenças consecutivas após os chamados “grandes” e o Sporting de Braga.
E quanto aos distritos?
Apenas seis.
Braga que já era o maior, com cinco clubes, reforçou esse estatuto com a subida do Moreirense passando a ter seis.
Vitória, Braga, Famalicão, Vizela, Gil Vicente e Moreirense.
Com Guimarães a ser o único concelho, a par de Lisboa e Porto, a ter dois clubes primodivisionários.
Lisboa que tinha quatro clubes- Benfica,Sporting, Estoril e Casa Pia- passa a ter cinco com a subida do Estrela da Amadora.
Porto, outrora o distrito mais poderoso em número de clubes e não só, desceu de quatro para três com a despromoção do Paços de Ferreira mantendo-se F.C. Porto, Boavista e Rio Ave.
Faro passa de um para dois com a manutenção do Portimonense e a subida do Farense dando maior dimensão à presença na I Liga do sul do país nomeadamente do Algarve o que é claramente positivo.
Restam Aveiro e Vila Real.
Aveiro com o Arouca, um clube do interior do distrito que vai estar na Europa, e Vila Real com o sensacional Desportivo de Chaves que comandado por Vítor Campelos aproveitou a embalagem da subida de divisão para se alcandorar a um excelente sétimo lugar.
E é tudo.
Doze distritos não tem representação na primeira liga (Viana do Castelo, Bragança, Guarda e Beja nunca tiveram) notando-se particularmente as ausências de Coimbra, Leiria e Setúbal que tradicionalmente estavam representados mas para os quais os últimos anos tem sido nefastos.
Isto enquanto Évora, Portalegre, Castelo Branco e Santarém já estão há muitos, demasiados, anos afastados desse escalão porque a vida não tem sido fácil a clubes como o Lusitano de Évora, Campomaiorense, Elvas, Sporting da Covilhã e União de Tomar.
Quanto a Viseu a descida do Tondela na época passada quase foi compensada pelo regresso do Académico de Viseu mas ficou-se pelo quase.
Em suma o campeonato da primeira liga está mais concentrado que nunca nos três maiores distritos ( Braga, Lisboa e Porto tem catorze dos dezoito clubes) seguindo-se Faro com dois clubes e depois Aveiro e Vila Real com um cada enquanto doze distritos e duas regiões autónomas não constam deste mapa.
E as causas disso, dessa cada vez maior concentração de clubes em tão poucos distritos, devia merecer uma séria reflexão ( e preocupação) das entidades que gerem o futebol e do próprio poder político porque obviamente que o futebol e as suas especificidades são insuficentes para uma global explicação dos factos.
É um problema do país do qual o futebol é apenas a expressão mais visível.
Assunto a que voltarei em próximo artigo.

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