domingo, fevereiro 25, 2024

O Silêncio dos Inocentes

 O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Naturalmente que uma derrota caseira com o Casa Pia, a quem o Vitória nunca ganhou nos quatro jogos que com ele disputou para o campeonato, logo a seguir a um empate mal digerido com o Portimomense teve para lá da perda de cinco pontos em seis que se davam como certos o efeito de um balde de água fria sobre uma equipa e uma massa adepta que viviam em estado de euforia com a boa carreira que se vinha fazendo e que ainda recentemente tivera um ponto de referência no empate com o Benfica a quem árbitro e VAR não nos deixaram vencer.
Sendo igualmente certo que nos últimos cinco jogos a equipa registou dois empates e duas derrotas apenas vencendo em Vizela o que significa que nos últimos quinze pontos possíveis apenas fez cinco!
Sinal de crise?
Nem tanto.
Apenas o aterrar na realidade de que um plantel com carências no sector ofensivo bem conhecidas (falta um verdadeiro homem de área e pelo menos um extremo que vá à linha e não que procure terrenos interiores) a que se somam erros tácticos, substituições infelizes e a falta de um plano B já consolidado para quando o plano A não resulta vai ter muitas dificuldades agora que o campeonato se encaminha para a hora das decisões e a luta pelos pontos assume um carácter de cada vez maior urgência, e até aflição, para algumas equipas.
Sejamos mais claros ainda.
O plantel do Vitória está bem composto na baliza, no sector defensivo e no meio campo (embora a saída de Dani Silva se comece a sentir cada vez mais) mas na frente de ataque a saída de Anderson Silva no inicio da época e de Nélson da Luz no mercado de Janeiro não foram devidamente compensadas porque Butzke não se afirmou e a equipa esteve e está muito dependente de André Silva e Jota Silva que sendo excelentes avançados, que fazem golos e assistem bem os colegas, não são homens de área tipicos aquilo a que se convencionou chamar de “matadores”.
E de “matadores” tem o Vitória uma longa e magnifíca história de Edmur a Cascavel passando por Tito, Jeremias, Mendes, Saganowski, Djalma, Ernesto Paraíso, Manuel, Gilmar, Edinho e vários outros que a memória vitoriana guarda e que os adeptos bem recordam.
É verdade que a chegada de Nélson Oliveira atenua o problema porque é um bom jogador, experiente, internacional A, mas que está ainda em período de adaptação e os curtos minutos que até agora se viram a Kaio César deixaram boas expectativas mas é outro que também acaba de chegar.
Pelo que a equipa se tem ressentido dessa falta de soluções a par de André e Jota estarem a pagar , o que também é normal, o desgaste de uma época que já vai longa porque começou muito cedo e na qual tem sido opções permanentes.
Por isso não considero que estes maus resultados evidenciem uma crise mas apenas um momento menos bom do grupo de trabalho e para o qual existem soluções num plantel que como se explicou não é abundante nelas.
Não me sinto minimamente capaz de dar conselhos a Álvaro Pacheco que sabe muito mais de futebol do que eu mas ainda assim não resisto a deixar-lhe duas ou três sugestões.
A primeira é que faça mais vezes, quando as coisas não correm bem, aquilo que fez ontem e que foi passar de uma defesa de cinco para uma de quatro dando entrada a mais uma unidade para o meio campo ou preferencialmente o ataque mudando assim o sistema táctico e criando novos problemas ao adversário. É o tal plano B que valerá a pena consolidar.
A segunda é que com cinco substituições ao dispor as faça todas e se necessário bem mais cedo do que fez ontem porque ao intervalo fez duas (bem no timing mas nem tanto nas opções porque logo aí devia ter entrado alguém para a frente) mas a terceira que significou a primeira entrada de um avançado demorou uma eternidade e ainda por cima foi a inexplicável troca de um dianteiro por outro!
A terceira é que desista de uma vez por todas de tirar André Silva, o nosso goleador, quando a equipa precisa de marcar porque além de ontem já o tinha feito em Barcelos e em Portimão e sem qualquer benefício para as nossas cores.
Se assim for creio que a equipa retomará o percurso de sucesso que vinha fazendo dando corpo aquilo que é o sentir profundo dos vitorianos e daqueles que conhecem bem o Vitória que são triunfos, conquistas, exibições e troféus quando possível.
É esse o nosso ADN!
Porque para nós não chegam, nunca chegaram, vitórias morais, exibições bonitas ornadas com derrotas e empates desoladores , desculpas e pretextos mil vezes repetidos sem o adiantar de soluções que os evitem, cartilhices que queiram fazer de nós idiotas mostrando “realidades” que apenas no mundo da cartilha existem.
Ontem 14.000 adeptos, muitos dos quais expostos a uma chuva inclemente, apoiaram a equipa de princípio a fim e despediram-na com um aplauso final apesar da derrota.
Somos assim.
Não ficamos em silêncio mesmo quando somos inocentes na responsabilidade dos insucessos.
O que se espera e deseja, embora com pouca esperança nisso, é que outros que não são inocentes nas responsabilidades embora o sejam noutras matérias saibam ficar em silêncio quando o interesse do clube o exige.
Nomeadamente quando em finais de Fevereiro ainda dão pública nota da tentativa de venderem jogadores intranquilizando o grupo de trabalho, destabilizando os expostos num mercado tão tardio e preocupando os adeptos que tem perfeita noção de que não há margem para sair mais ninguém sob pena de todos os objectivos irem por água abaixo.
Às vezes conjugar os inocentes (no mau momento) que não se mantém em silêncio mas estão sempre ao lado da equipa com o desejável “silêncio de inocentes” que falam e escrevem a despropósito pode ser uma boa ajuda para ultrapassar um momento menos bom.

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