Aviso já que não tenho qualquer intenção de me juntar à enorme horda de "Ronaldólogos" que por tudo que é lado escrevem sobre Ronaldo, entendem de Ronaldo, sabem de Ronaldo, proferizam o futuro de Ronaldo.
Menos ainda aqueles, e alguns são, que andam deleitados a fazerem os seus ajustes de contas mesquinhos, parvos e invejosos com o mais talentoso futebolista português de todos os tempos apenas e só porque é português e tem um sucesso inegável a nível mundial. A inveja no seu triste esplendor.
Mas sobre Ronaldo direi, tão objectivamente quanto posssível, o seguinte e sem esconder que sou seu admirador sem reservas.
Ronaldo tem 37 anos.
Continua a ser um dos melhores futebolistas do mundo mas tem de ser interpretado e gerido em função da idade e do desgaste que uma carreira há vinte anos sempre a alto nível provoca.
Mesmo nele que é um profissional exemplar e que trabalha a forma física como ninguém.
Esta época, por sua cabeça e provavelmente mal aconselhado por alguém em quem total confiança, fez a maior asneira de toda a sua carreira ao recusar fazer a pré temporada no Manchester United pondo todas as fichas numa transferência que acabou por não acontecer para um clube que dispute a sua bem amada Liga dos Campeões onde é o melhor da História.
E não tendo feito a pré temporada no tempo certo anda a fazê-la agora, no clube e na selecção, com um rendimento bem abaixo do que lhe é normal mas em linha com o atraso na preparação.
Sensatamente Erik ten Hag tem , ciente disso, gerido bem a sua presença no jogos do MU alternando titularidade com banco enquanto de forma insensata Fernando Santos o "condena" a fazer 90 minutos em dois jogos muito próximos com Ronaldo a terminar o jogo frente à Espanha completamente esgotado.
Estivesse ele mais "fresco" e talvez aquele remate nos instantes finais tivesse tido melhor destino.
O que quero dizer com isto?
Que Ronaldo continua a ser um grande futebolista, que estando a jogar no clube tem lugar de caras na selecção mas cuja utilização tem de ser feita com outra racionalidade equiparando-o a todos os outros e deixando de vez a ideia de que Portugal é Ronaldo e mais dez.
Se em Praga depois do 2-0 ou do 3-0 tivesse sido substituido e poupado a minutos que nada acrescentaram e para os quais o seu contributo era dispensável talvez pudesse ter estado melhor em Braga.
Onde, dentro da sua actual realidade, até poderia ter ficado no banco e entrado nos últimos vinte/trinta minutos "fresco" e motivado causando bem maiores problemas à defensiva espanhola já desgastada com o decorrer do jogo.
De Ronaldo já não se podem esperar hoje aquelas jogadas vertiginosas em que em velocidade e dribles desfazia as defesas e marcava golos de antologia como num célebre jogo em Estocolmo em que quase sozinho arrasou a Suécia.
Mas pode esperar-se que na área, onde continua a ser um finalizador letal (provavelmente o mais letal de sempre), possa ainda marcar muitos golos e ajudar Portugal a muitos triunfos.
Mas a equipa tem de ajudar. Tem de construir as jogadas e colocá-lo em situações de finalizar que ele depois trata disso como ninguém.
Para isso é preciso mudar algumas coisas na selecção.
E já que pelos vistos não é possível mudar o seleccionador (era a mudança essencial) alguém que o convença que o lote de talentos ao seu dispor justifica uma equipa sem medos, que faça do ataque a sua prioridade, que jogue o futebol de excelência que os jogadores exibem nos clubes e que saiba enquadrar Ronaldo.
Uma selecção que deixe de jogar para Ronaldo, como se este fosse a última Coca Cola antes do deserto, mas que jogue com Ronaldo permitindo que nesta fase avançada da sua carreira ele possa dar o muito que ainda está ao seu alcance.
Uma selecção que solte o talento de Bernardo Silva, de Matheus Nunes, de Diogo Jota, de Rafael Leão, de Diogo Dalot e de tantos outros pondo-os ao serviço de um futebol ofensivo, imaginativo, criativo e eficaz e não daquele futebol impregnado de um medo quase patológico de perder.
Uma selecção em que Ronaldo seja titular quando tiver de ser titular e fique no banco quando tiver de ficar no banco sempre no interesse do colectivo.
Acredito que Ronaldo vai chegar ao Mundial do Catar em bem melhor forma do que a destes dois jogos e nele será, uma vez mais, um jogador determinante de Portugal.
E tanto mais o será quanto mais a racionalização do seu esforço for bem feita.
No interesse de Portugal e no seu próprio interesse.
Falta é saber se Fernando Santos aprendeu alguma coisa com estas lições recentes ministradas por Sérvia e Espanha.
E aí prefiro aguardar para ver...
Depois Falamos.
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