domingo, janeiro 31, 2016

Papas de Sarrabulho

Nunca fui apreciador de papas de sarrabulho.
Que durante muitos anos só comia uma vez por ano (já lá vamos...) e por obrigação porque por opção era prato que não me passava pela mesa.
Sei que é uma comida tradicional minhota, que há restaurantes especializados na sua confecção e apreciadores que não se importam de fazer muitos quilómetros para as irem saborear aqueles sítios onde são particularmente saborosas.
Que seja.
Comigo não.
Mesmo tendo na família materna uma velha e apreciada tradição de todos os anos no dia 8 de Dezembro a família se juntar para agradáveis confraternizações em volta de um almoço em que o principal prato são sempre...papas de sarrabulho!
Uma tradição religiosamente cumprida ao longo dos últimos 45 anos (talvez mais...) e que nas suas primeiras edições me obrigava literalmente à ingestão anual de papas de sarrabulho porque não tinha idade para dizer ...não.
Nesse tempo, e bem, as crianças não usavam o "não gosto" e o "não quero" com a liberalidade e o sucesso (mal) com que o fazem nos tempos que correm.
Depois com o passar dos anos lá fui ganhando a idade e a autonomia para dizer não e passava essa confraternização (ainda no passado mês de Dezembro o voltei a fazer) "refugiado" nos rojões e a esconjurar as papas perante a absoluta indiferença do resto da família entretida a saborear o petisco.
Mas a vida dá muitas voltas.
Semanas atrás abriu em Braga um restaurante a cujos proprietários também tenho ligações familiares o que justificou uma visita inaugural para experimentar as especialidades da casa.
E para a mesa, não para mim como é evidente, veio (como uma das entradas) uma terrina de papas de sarrabulho.
Olhei para aquelas com o distanciamento habitual preparadinho para tratar das restantes "entradas" e deixar as papas para quem as aprecia.
Mas tinham bom aspecto e cheiravam divinamente.
E como o "Jacinto" de Eça de Queirós, em "A Cidade e as Serras" perante a canja e o arroz de favas, resolvi provar.
Divina decisão!
Que maravilha.
Comi, voltei a comer, comi outra vez ainda.
Fiquei cliente.
Do restaurante e das papas.
Ontem voltei lá.
O que comi?
Rojões com papas?
Não.
Papas com rojões.
Lá é essa a minha prioridade.
Tal como Sean Connery no seu último OO7 em relação ás papas aprendi que "Nunca mais digas Nunca".
Depois Falamos.

P.S. Para evitar o trabalho de perguntarem esclareço que o restaurante se chama "Santo Adrião" e fica na praça Humberto Delgado.

3 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

A fatalidade triunfa desde que se crê nela

saganowski disse...

Na semana passada comi (bem longe de terras minhotas) um Arroz de Sarrabulho, acompanhado por uns belos rojões à moda do nosso querido Minho, feitos com a mestria da Confraria do Sarrabulho!
Comi...e chorei por mais!

luis cirilo disse...

Caro Joaquim de Freitas:
"Fatalidades" como estas papas...venham muitas!
Caro Saganowski:
Acredito.
Longe do Minho ainda se sofre mais pelos nossos pratos tipicos