Sobre as eleições presidenciais já estará tudo praticamente dito, feitas todas as análises e extraídas múltiplas conclusões.
Deixo por isso, aqui e agora, uma visão final sobre estas eleições na óptica de um proponente e votante na candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.
Creio que os resultados foram absolutamente inequívocos e todos (uns melhor que outros em boa verdade) os terão percebido na sua plenitude.
Marcelo venceu de norte a sul, em todos os distritos e nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, revestindo-se essa vitória da espantosa marca de ter vencido em 292 dos 308 concelhos do país o que é realmente esmagador.
As excepções são 14 pequenos concelhos do Alentejo(situados nos distritos de Évora, Beja e Portalegre) e os concelhos de Barreiro e Moita no distrito de Setúbal.
Venceu em todos os escalões etários, em todos os estratos sociais e económicos.
Do meu ponto de vista por duas razões:
Porque era, de muito longe, o melhor candidato e porque tinha uma notoriedade inigualável quer pelos outros candidatos quer por qualquer outro político português arrisco dizê-lo.
Era o melhor candidato pela formação, pelos mais de quarenta anos de vida pública, pelo currículo político e académico, pelas funções que ao longo da vida política foi exercendo, pela enorme experiência que possui.
De deputado constituinte a conselheiro de estado passando pela liderança do PSD.
E se isso já lhe dava vantagem é igualmente evidente que as horas de televisão ao longo de quase vinte anos, que o tornaram companhia habitual nas noites de domingo de milhões de portugueses, reforçaram brutalmente a sua notoriedade e permitiram uma enorme identificação entre portugueses e candidato.
O que lhe permitiu uma campanha diferente, sem brindes , bandeiras e cartazes, num tom muito mais intimista e afectuoso porque toda a gente o conhecia, toda a gente sabia que ele era candidato, toda a gente sabia que ele estava em campanha.
Do outro lado, daqueles que se lhe opunham, a estratégia (com excepção do Bloco de Esquerda mas disso falarei noutro post) foi toda errada e reflectiu-se nos resultados como não podia deixar de ser.
O grande vencido, uma vez mais, foi o PS.
Que ao perceber o desinteresse de António Guterres por uma candidatura- e era o único que podia dar "luta" a Marcelo- deixou o processo entrar em verdadeira roda livre com as suas figuras mais mediáticas a espalharem-se por duas candidaturas.
Sampaio da Nóvoa já estava no terreno mas António Costa não o quis apoiar desde logo e permitiu que Maria de Belém também avançasse obrigando então o PS a declarar uma neutralidade entre candidaturas que sendo muito mais aparente do que real (a direcção socialista esteve em peso ao lado de Nóvoa com pouquíssimas excepções mas entres as quais o próprio Costa) acabou por penalizar fortemente os resultados dos dois candidatos com muitos votos que em teoria seriam para um só candidato socialista(se o houvesse) a dispersarem-se por Marcelo e Marisa essencialmente.
Mas também o PCP é um dos grandes derrotados destas eleições.
O candidato era fraco, o discurso antiquado e maçador, a campanha não convenceu ninguém nem sequer os que por norma já estão convencidos e por isso o candidato teve o pior resultado de sempre do PCP/CDU.
Confesso que ao ver Edgar Silva a discursar me veio muitas vezes à ideia a imagem (fictícia é claro) dele com um megafone em punho , em Berlim (Leste é claro)por volta de 1988, a querer convencer os que estavam do outro lado do muro que do lado dele é que era bom!
Não só não convenceu os "outros" como ainda maçou os "dele".
E o resultado prova-o.
Creio que a grande lição destas eleições ( e o resultado de Vitorino Silva prova-o de certa forma, mas falarei disso noutro post) é que nenhum partido pode cantar vitória nestas eleições.
Claro que PSD e CDS tem boas razões para estarem satisfeitos mas terão consciência de que o "factor partidos" não foi relevante na vitória de Marcelo dado ele ter estabelecido uma empatia tão forte com os eleitores que eles votariam sempre nele mesmo que os dois partidos não tivessem aconselhado o voto no Professor.
Também o BE tem algumas razões para estar satisfeito embora tenha sido um dos derrotados da noite.
Satisfação essa que tem mais a ver com a expressão eleitoral alcançada por Marisa Matias, e que confirma o BE como terceira força política, do que com o ter alcançado nestas eleições algum objectivo prioritário.
Marisa não foi eleita, o novo presidente não é de esquerda e nem sequer conseguiram obrigar Marcelo a ir a uma segunda volta!
Ou seja no acessório ganharam mas no essencial, para eles, perderam.
Quanto a PS e PCP (mais "Verdes") já atrás se disse, e agora se repete, foram os grandes derrotados destas eleições.
E há um interesse indisfarçável em seguir as sequelas internas destas derrotas.
Depois Falamos
(Continua)
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