Não sei , naturalmente, se os dirigentes dos principais partidos portugueses tem uma noção aproximada do que muitos portugueses pensam da política, dos políticos, do funcionamento das instituições e dos próprios partidos.
Especialmente nas faixas etárias mais extremas porque os jovens olham para o futuro com pouca esperança e os mais idosos não tem um percurso final de acordo com o que esperaram e para o que em muitos casos trabalharam uma vida inteira.
E isto tem a ver com os vários partidos e quase todos os governos do Portugal democrático.
Com os partidos que exerceram o poder (PSD-PS-CDS) e com os que nunca tendo sido governos mas tendo assento parlamentar (especialmente PCP e BE) nunca conseguiram contribuir para nenhuma solução viável e se se limitaram durante quase 40 anos a propor demagogicamente o impossível e a exigirem monocordicamente a demissão de todos os governos democraticamente eleitos.
Por isso é comum ouvir os cidadãos, quando se lhes fala de partidos e de políticos, dizerem invariavelmente que "são todos iguais".
E isto corrói a democracia, fomenta a abstenção, abre espaço a diversas formas de radicalismo.
Que noutros países vem tendo uma expressão que felizmente ainda não chegou cá!
Conheço suficientemente os partidos, especialmente os chamados do "arco do poder", para ter a certeza que em nenhum deles existe uma vontade reformadora suficientemente forte para tomar as medidas necessárias a inverter este crescente descrédito da opinião pública perante os seus agentes políticos e as suas instituições.
Nomeadamente alterando seriamente as leis eleitorais e introduzindo, por exemplo, os círculos uninominais.
Mas neste ano que agora se inicia, marcado por eleições legislativas no Outono e uma campanha presidencial que começará lá para o Verão e culminará nas presidenciais de 2016, espera-se que ao menos os partidos façam um esforço sérios de credibilização perante os eleitores.
Deixando as candidaturas presidenciais para quem quer de facto ser candidato e não "inventando" candidaturas ao sabor de estratégias partidárias.
E escolhendo criteriosamente os seus candidatos a deputados melhorando significativamente o quadro parlamentar actual que é dos mais fracos que me lembro no Portugal democrático.
Se fizerem isso...já não fazem pouco!
Depois Falamos.
P.S: Ontem no Parlamento alguns deputados do PSD( os "bons da fita") fizeram uso de uma figura que ás vezes dá jeito (a liberdade de consciência) para darem uma imagem pública de "progressistas" deixando aos "retrógrados" companheiros de bancada( os "maus da fita") a maçadora tarefa de fazerem respeitar a orientação do partido e os compromissos perante o eleitorado.
Ficaram bem perante a opinião publicada (muitas vezes diferente da opinião pública como se sabe)e perante alguns entusiastas frequentadores das redes sociais que adoram estes assomos de "independência" partidária e parlamentar.
A tal nova imagem que o PSD ( e os outros mas o PSD é o que mais me interessa) tem de passar também por aí.
Aumentar a esses "progressistas "internos a possibilidade de exercerem o direito à independência e à liberdade de opinião dispensado-as da maçada de serem deputados.
5 comentários:
Normalmente o povo diz que "são todos iguais", porque se sente distante de todos da mesma maneira.
E sente-se distante porque tem a sensação que a classe política governa enclausurada numa gaiola dourada, sem verdadeiro contacto com o país real.
Essa opinião acaba por ser confirmada pelos sucessivos casos de corrupção, ou alegações de corrupção, favores,etc
Se esse estado de coisas mudar, talvez mude a opinião dos protugueses
O que me revoltou no passado foi de constatar que toda classe que aspira à dominação, procura conquistar primeiro o poder político afim de representar por sua vez o seu interesse próprio como sendo o interesse geral.
A falta de credibilidade que afecta os partidos políticos, que aponta muito bem no seu "post", Caro Amigo, pode ter consequências trágicas para as democracias. Em Portugal o perigo no qual penso não parece assim tão iminente. Mas em França e noutros países europeus, este perigo , o populismo extremista da direita, existe.
Este perigo, tem um conteúdo de classe muito marcado, e mesmo muito unificador, ao globalizar todas as camadas sociais populares desfavorecidas e directamente vitimas do sistema e da crise.
Este perigo contem em germes todos os ingredientes duma revolta social e política profunda.
No contexto actual, com a degradação total de imagem dos partidos e instituições políticas parlamentares, ele contém mesmo naturalmente uma aspiração espontânea a uma mudança radical, sem que a sua natureza seja possivelmente definível.
Seria portanto a primeira alternativa visivelmente constituída que encheria o vazio, do qual a natureza tem necessariamente horror, como sabe. Sobre o tema de " experimentamos já tudo, excepto ", existe doravante um vencedor potencial que é o social-fascismo.
Caro luso:
É exactamente esse o problema. As direcções dos partidos tem um contacto cada vez mais "filtrado" com o país e vão progressivamente ficando isoladas da realidade. E isto tem a ver com todos os partidos parlamentares embora em proporções diferentes. Basta seguirmos os debates na Ass. República ou nas televisões para ficarmos com essa convicção. Para mim a mudança tem de passar, entre outras coisas, pela reforma do sistema eleitoral.
Caro Freitas Pereira:
Eu até vou mais longe. A falta de credibilidade dos partidos de direita e esquerda moderadas, que são os que governaram a Europa do pós guerra, abre caminho a perigosos extremismo de direita e de esquerda porque nessa matéria de radicalismos receio ambas as partes por igual.
Naturalmente que a Europa em que vivemos foi no século passado muito mais dolorosamente marcada pelo nazismo do que pelo comunismo confinado para lá da cortina de ferro. Hoje o risco é outro. Na França que conhece muitíssimo melhor que eu o risco está na extrema direita da família Le Pen. Já na Grécia parece estar no Syriza à beira de ganhar as eleições de amanhã e abrir uma "caixa de Pandora" de consequências imprevisiveis. Num e noutro caso a perdedora será sempre a democracia parlamentar. Não quero profetizar desgraças, até porque sou naturalmente optimista, mas creio que nesta matéria do descrédito dos partidos, mais os problemas de migração de magrebinos para países como França, Alemanha,Espanha ou Itália, mais os problemas do fundamentalismo islâmico, o pior ainda está para vir.
Essa imagem que acompanha o post é muito boa mesmo.
O povo está farto.
E está farto porque essa gente ligada aos partidos está mais interessada em governar-se a ela própria, do que ao povo que os elege.
É uma questão cultural. E serão necessárias décadas para se mudarem mentalidades.
Por um lado temos na nossa população os que como o Sr. Luis Cirilo refere (e bem) neste post, dizem que os políticos "são todos iguais". E nem vão votar...
Pessoalmente, tento dizer a essas pessoas que devem ir votar e exercer o seu direito de voto, fazendo a parte deles para mudarem as coisas, até porque se todos tiverem a mesma atitude, certamente que as coisas não mudam para um rumo de um Portugal mais próspero.
Por norma, digo isso a essa gente, embora interiormente as compreenda. Porque, de facto, os sucessivos actos de corrupção, são ao mais alto nível, e vão-se vendo todos os dias em qualquer telejornal. E isso dá uma certa razão às pessoas que pensam assim...
Por outro lado, temos os mais velhos. Na sua maioria têm uma côr partidária, como se a política fosse um desporto.
"Em quem vais votar?""
"Vou votar no PS/PSD/CDS/BE/CDU..."
"E porquê?"
"Porque sou e sempre fui do PS/PSD/CDS/BE/CDU..."
Infelizmente, este tipo de raciocínio (muito pouco racional e fruto de uma escolaridade pouco avançada, de mentes com uns horizontes muito pequeninos) ainda está muito enraizado no seio da nossa cultura.
Estes dois tipos de atitudes dominam a maioria da população portuguesa e nesse sentido dificilmente alguém que tente pensar friamente na situação do país, pode olhar para Portugal com um ar optimista.
Não é por isso de admirar que embora só façam asneira, PS e PSD alternem o poder, impunemente, com os queixumes e ao mesmo tempo a contribuição do mesmo de sempre: o Zé Povinho.
(parece surreal, mas não. É mesmo assim... A figura do Zé Povinho, é antiga mas a sua essência mantém-se intacta.)
É por essas e por outras que vejo todos os dias colegas meus a fazerem as malas e a emigrarem para outras paragens.
Mesmo tratando-se de pessoas com emprego estável.
Eu não os recrimino nem sensuro. Aliás, penso que um dia destes serei eu também.
Com muita pena minha, enquanto português patriota (não fosse eu vimaranense), sou obrigado a resignar-me.
Essa gente que nos tem governado nos últimos 40 anos, não digo que tenha assassinado Portugal.
Mas feriu gravemente.
Herdou um estado rico, proveniente do estado novo (é certo que tinha muitos defeitos, mas essa virtude não lhe podem tirar), que conseguiu desbaratar em poucas décadas.
Esbanjou as injecções de capital fornecidas pela UE, no início da sua adesão, sem nunca fazer as profundas reformas em todos os sectores, como seria expectável.
Para onde foi esse dinheiro? Meia dúzia de chico-espertos.
Agora o Zé Tuga que se desenrasque...
Já me alonguei muito.
Parabéns uma vez mais pela imagem do post.
Portugal precisa mesmo é de vomitar essa escumalha toda para fora e rejuvenescer!
Caro Mr Karvalhovsky:
Li o seu comentário com o interesse de sempre e devo dizer que estou em grande parte de acordo consigo.
Não serei tão radical num ou noutro ponto mas em boa verdade o teor do comentário é rigoroso.
Pessoalmente acho que a solução passa mais pela regeneração interna dos actuais partidos do que pela aparecimento de novas forças políticas tipo "Syriza" ou "Podemos" porque em Portugal, como diz e bem, as pessoas estão na política como no desporto com um clubismo profundo. Dir-me-á que as gerações mais novas já não são assim, o que é parcialmente verdade, mas o problema é que uma percentagem significativa das novas gerações ou se abstém ou emigra.
Penso que a regeneração terá de passar necessariamente por uma profunda alteração das leis eleitorais que permitam uma muito maior identificação ( e responsabilização) entre eleitores e eleitos. Penso que ainda vai demorar algum tempo, por razões tão óbvias que nem vale a pena citá-las de novo, mas a introdução dos círculos uninominais é inevitável. E aí pode ser que as coisas comecem a mudar
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