segunda-feira, junho 10, 2024

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Eleições europeias são eleições europeias e eleições legislativas são eleições legislativas pelo que não faz qualquer sentido comparar os resultados entre ambas dado as motivações, e a afluência, dos eleitores serem totalmente diferentes.
E menos sentido faz, ainda, em relação a uns partidos comparar resultados de europeias com resultados de europeias e em relação a outro comparar legislativas com europeias.
É de uma enorme desonestidade intelectual.
Infelizmente praticada profusamente nas diversas televisões, por jornalistas e comentadores, na noite de ontem ao sabor do já conhecido facciosismo de tantos deles.
Devo dizer, antes de mais , o seguinte.
Enquanto eleitor da AD só não considerei a noite de ontem como perfeita porque o PS venceu as eleições , por poucochinho mas venceu, enquanto a AD ficou muito perto de um triunfo que só lhe escapou por razões que espero que os estados maiores dos seus partidos saibam perceber de modo a não repetirem os erros cometidos.
Fora isso os resultados contribuirão em larga medida para que o governo possa governar, com alguma tranquilidade por algum tempo, dado que face à expressão da votação em cada partido não vejo quem possa desejar eleições tão cedo.
E o país precisa de ser governado e não de andar em permanentes eleições.
Voltemos aos resultados.
Que nos dizem com insofismável clareza que mais uma o centro e a direita venceram enquanto a esquerda e a extrema esquerda tiveram mais uma  derrota que nem os festejos pindéricos nas sedes de PCP e BE conseguem disfarçar.
Porque enquanto a AD manteve os sete eleitos de 2019 já Chega (numa coligação) e IL que nessa eleição tinham alcançado resultados residuais sem qualquer eleito desta vez conquistaram cada um dois eurodeputados que foram perdidos por PS, BE, CDU e PAN .
Ou seja há uma transferência directa de quatro eleitos da esquerda para a direita.
E o PS que venceu as eleições por poucochinho ainda assim perdeu um eurodeputado o que não deixa de ter a sua importância e merece um relevo que ontem alguns se esqueceram de dar.
Bem como as tais festejos pindéricas assentes na redução para metade da representação de cada um dos partidos festivos o que só existe num país em que a extrema esquerda nunca reconhece as quase constantes derrotas e os seus apaniguados na CS fazem por não referir.
Como atrás referi, com a tal desonestidade intelectual infelizmente comum, alguns comentadores televisivos referiam ontem que o grande derrotado da noite era o Chega (e houve até quem ousasse colocar BE e CDU como vencedores imagine-se...) com base na tal comparação entre legislativas e europeias que não faz sentido pelas razões atrás expostas.
E que eles, comentadores, usavam para o Chega mas não para os outros.
Mas se quisermos ir por aí as coisas não são bem assim.
Porque já atrás referiramos que em número de deputados a AD manteve e o Chega e a IL passaram de zero para dois cada enquanto todos os partido de esquerda perderam mandatos e o PAN até desapareceu do Parlamento Europeu.
O que trás desde logo uma abordagem diferente sobre quem ganhou e quem perdeu sem pôr em causa que o PS como mais votado venceu as eleições.
Mas olhemos então para os números comparando as duas eleições.
Que nos dizem desde logo que apenas Iniciativa Liberal pode cantar vitória em termos absolutos porque para lá de ter eleito dois deputados quando não tinha nenhum também conseguiu subir a votação de 319.685 em 10 de Março para 358.261 ontem. Ou seja mais 38.576 votos.
E subir em número de votos de legistivas para europeias é algo que merece saliência por ser invulgar.
Todos os outros perderam votos.
O Chega 783.209, a AD 638.715, o PS 545.681, o BE 114.303, a CDU 42.705, o Livre 56.234 e o PAN 78.053.
O que nos leva a concluir que sendo o Chega quem mais votos perdeu das legislativas para as europeias, mas crescendo em número de deputados de zero para dois, não me parece que AD e PS tenham grandes razões para nessa matéria se poderem rir da desgraça alheia porque a deles pouco diferente é.
Todos os três maiores partidos perderam mais de meio milhão de votos cada um e se a esmagadora maioria deles terá ido para a abstenção nem por isso deixam de ser votos cuja perda se lamenta numa eleição que pese embora todas as facilidades para votar  (voto antecipado, voto em mobilidade) teve uma taxa de abstenção absolutamente vergonhosa.
Por outro lado há a registar o facto de salvo a IL todos terem falhado os seus objectivos.
O PS queria aumentar o número de deputados e diminuiu.
A AD queria ganhar e não ganhou.
O Chega queria eleger nove deputados e elegeu dois.
BE e CDU queriam mais deputados e tiveram menos estando perto de também eles desaparecerem do Parlamento Europeu.
O Livre queria eleger e não elegeu.
O PAN queria reforçar a votação e foi á vidinha dele e provavelmente sem retorno.
E tudo isso merecerá, seguramente, uma enorme reflexão das direções de todos esses partidos face ao divórcio entre o que elegeram como objectivo e aquilo que o povo lhes deu.
Deu... e tirou nalguns casos.
Por mim, e a concluir, analisados os resultados e ouvidas as declarações dos candidatos e líderes partidários  apenas refiro que hoje como nesse tempo a célebre tese de Francisco Sá Carneiro sobre a bipolarização continua a fazer todo o sentido. Cada vez mais até.
Uma bipolarização entre dois grandes blocos liderados por PSD e PS.
O PSD liderando o centro e a direita e o PS a esquerda e a extrema esquerda.
E depois dos resultados de ontem creio que haveria uma nova  oportunidade para isso
Houvesse vontade, houvesse estratégia que para aí apontasse e houvessem protagonistas para que tal fosse uma realidade.
Mas não há.
Depois Falamos.

Nota: Com o devido respeito devo dizer que enquanto seu eleitor  acho que ontem houve António Costa a mais na noite eleitoral da AD.
Pareceu-me prematuro o apoio declarado a uma candidatura que nem se sabe se vai existir.
Já para nem entrar pela avaliação dos méritos e deméritos do putativo candidato.
Mas é apenas a minha opinião como está bom de ver.

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