Assistindo do sofá , pela primeira vez desde 1976, às eleições autárquicas consigo ter uma visão mais distanciada dos 308 combates políticos (obviamente que muito mais de alguns municípios que me interessam particularmente ) que se travam pelo país fora.
E a primeira constatação que faço é a de não me lembrar de a um mês de eleições se assistir a tão pouca actividade política, tão pequena presença dos candidatos junto dos eleitores, tanta falta de sessões de esclarecimento.
Uns outdoors, uns flyers, uns panfletos e pouco mais.
É Agosto dirão uns.
É a pandemia dirão outros.
É tudo isso mas é também o crescente desinteresse dos portugueses pelo fenómeno político que os leva a alhearem-se das eleições e a contribuírem para taxas de abstenção em crescendo que em nada beneficiam a democracia.
A segunda constatação é a da presidencialização da política.
Costumo dizer que em Portugal o presidencialismo está em todo o lado, da política ao desporto passando pelo associativismo, menos na Constituição da República.
E as autárquicas são um grande exemplo disso com as campanhas para as câmaras (para as juntas de freguesia é bastante diferente apesar de tudo) a centrarem-se na figura do presidente recandidato e dos aspirantes ao lugar subalternizando por completo os restantes membros das listas.
O que corresponde, é verdade, à estratégia de uma identificação clara por parte dos eleitores de quem são as pessoas que se propõe gerir os destinos dos municípios mas também ao entendimento muito pessoal do que é o poder local por parte de muitos, felizmente não todos, presidentes de câmara.
Que se acham os autênticos xerifes do seu território municipal, onde apenas a vontade deles impera (uma espécie de Reis Sol na versão loja dos 300) , em que só a campanha personalizada deles importa e onde as estruturas locais dos partidos são menosprezadas e apenas servem de estribo para ajudarem o xerife a montar a cavalo!
Porque uma vez lá empoleirado essas estruturas mergulham em quatro anos de quase absoluta penumbra sem actividade política própria e sem outras posições públicas que não sejam os louvores à liderança do xerife e à defesa da sua gestão camarária.
E isto também não é bom para a democracia como é bom de ver.
Assunto a que voltarei um destes dias.
Depois Falamos
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