segunda-feira, março 11, 2024

Poucochinho

Os portugueses votaram em número significativo (uma das abstenções mais baixas dos últimos largos anos) e disseram de sua vontade quanto a cada um dos partidos e coligações concorrentes.
Mas votando em grande número não o fizeram de modo claro marcando uma distância significativa entre quem queriam que governasse e quem não queriam que o fizesse o que deixou um mapa eleitoral razoavelmente embrulhdo se assim se pode dizer.
A AD ganhou e o PS perdeu, quanto a isso não há dúvidas, mas como diria um dos derrotados da noite eleitoral ganhou por poucochinho e a diferença antes dos resultados da emigração é de cerca de 50.000 votos e dois deputados a seu favor.
Veremos se a emigração vai estreitar ainda mais a margem ou se a vai alargar (falarei disso adiante) mas que é um resultado que dá pouco conforto disso não restam dúvidas ainda que obviamente seja melhor ganhar pelo tal poucochinho do que perder pela mesma diferença.
Dado que a IL, único parceiro que a AD admite para futuro governo, manteve os seus oito deputados é evidente que os dois juntos estão muito mas muito longe de terem uma maioria no parlamento e por isso o futuro não se antevê fácil por maior que seja a capacidade negociadora de Luís Montenegro.
Pode assim dizer-se que a AD obteve o principal objectivo que era ganhar mas quer em votos quer em eleitos ficou bem longe das suas próprias expectativas.
O PS teve uma enorme derrota perdendo quase meio milhão de votos e 40 deputados mas o resultado acabou por não ser completamente mau dada a curta distância a que ficou da AD.
Depois de oito anos de mau governo, com o país num caos em sectores tão importantes como a Saúde, a Educação, a Segurança, a Habitação e tantos mais, apresentando como candidato a primeiro ministro um dos piores ministros do seu governo que fora dele afastado por incompetência e irresponasabilidade, e ainda assim conseguir quase um milhão e oitocentes mil votos é obra.
Obra que resulta também de um misto de credulidade e de clubite de muitos portugueses.
Ainda assim PNS tem o partido na mão, um resultado confortável em que se apoiar, a facilidade em dizer sobre o mesmo assunto três coisas diferentes, a irresponsabilidade como forma de vida e a demagogia como forma de estar, pelo que é previsivel que vá ser um adversário duro de roer.
Mesmo que o PS tenha oferecido ao país o patético espectáculo de na sua noite eleitoral se terem ouvido uns guinchos ("25 de Abril sempre, fascismo nunca mais") passadistas e ridiculos provando que os portugueses fizeram bem em não darem aquela tralha a hipótese de governar.
O Chega teve uma noite de glória.
Em 2019 André Ventura foi eleito como deputado único do partido e tratado no Parlamento de uma forma que por vezes quase raiava o bullyng.
Em 2022 passou de um para doze deputados, um crescimento espantoso, e passou de última a terceira força parlamentar representando mais de 380.000 portugueses.
Sabe-se a história a seguir.
Linhas vermelhas, cercas sanitárias, hostilidade permanente de comentadores políticos e restantes forças partidárias, um massacre nas televisões, acusações falsas e caluniosas através de chavões sem substância, tudo isso consubstanciado numa brutal ignorância do que realmente o partido representa.
Ontem ficou-se a saber.
Triplicou a votação, quadriplicou o grupo parlamentar, conseguiu a maior votação e o maior número de deputados de sempre de um terceiro partido, venceu num distrito (foi apenas o quinto partido a consegui-lo depois de PSD, PS, PCP e CDS), ficou em segundo lugar em vários distritos, elegeu deputados em dezanove dos vinte circulos eleitorais.
Representa um milhão e cem mil portugueses.
E quem ignorar, subestimar, depreciar isso comete um brutal erro político.
Dos restantes partidos não há muito a dizer.
A IL cresceu ligeiramente em votos mas manteve o número de deputados ficando aquém do seu objectivo mas mantendo a esperança de fazer parte da solução de governo liderada pela AD embora não servindo para conseguir maioria tenha a sua utilidade seriamente diminuida.
O Bloco de Esquerda também cresceu ligeiramente em número de votos, também manteve o número de deputados mas não fará parte de solução nenhuma seja para o que for.
A esperança de uma nova geringonça foi desfeita pela evidente rejeição dos portugueses a uma solução desse género.
A CDU perdeu um terço do seu já reduzido grupo parlamentar e a marcha para o abismo da irrelevância parece inexorável não sendo também ela solução para coisa nenhuma.
O Livre foi um pequeno vencedor da noite.
Quase triplicou os votos, quadriplicou o grupo parlamentar tal como o Chega (embora passar de 1 para 4 seja ligeiramente diferente de de 12 para 48) e junta-se a BE e CDU no conjunto de sonhadores frustrados com uma nova geringonça.
Finalmente o PAN que subiu ligeiramente a votação, manteve a deputada e continua a não servir para nada como na anterior legislatura.
Com 226 deputados já eleitos e sendo 135 pelo centro e pela direita e 91 pela esquerda e extrema esquerda pode claramente falar-se de uma ampla vitória dos primeiros e de uma enorme derrota dos segundos a que os números da emigração darão a composição final aumentando os números do triunfo ou atenuando os da derrota.
E sobre a emigração há , então, que referir o seguinte.
Estão em jogo quatro deputados.
Em 2022 o PS elegeu os dois da Europa e dividiu com PSD os dois de Fora da Europa.
No total o PS obteve 55.250 votos ( 36.06 mais 19181) e o PSD 40.534 ( 16.391 mais 24.143) naquilo que foi o pior resultado de sempre do PSD e um dos melhores do PS.
Nada faz prever que se repita.
Por um lado porque o PS não tem agora a onda eleitoral de 2022 mas essencialmente porque o PSD aprendeu com os erros e as suas listas foram encabeçadas por dois pesos pesados (Carlos Gonçalves no circulo da Europa e José Cesário no de Fora da Europa) com largos anos de trabalho proficuo e reconhecido junto das comunidades emigrantes e tendo ambos sido secretários de estado da Emigração.
Pelo que é bem provável que os resultados se invertam e o PSD obtenha um triunfo nos dois circulos ficando apenas a incógnita sobre se o Chega irá interferir na tradicional distribuição de deputados entre PSD e PS.
Em suma é a análise sumária aos resultados de ontem e no dia 20 se saberão os resultados finais.
Depois Falamos

Em tempo: O ADN, fruto da confusão de siglas com a AD, teve um resultado espantoso embora sem eleger deputados o que também mostra as deficiências do nosso sistema eleitoral. Em 2022 tinha obtido 10.001 votos e agora teve dez vezes mais obtendo 100.044. E só faço dois comentários. É estranho um partido com essa votação não eleger nenhum deputado, independentemente das razões porque os obteve, e houve da parte da AD um claro subestimar dos danos que essa confusão poderia originar e que provavelmente a terá feito perder deputados em alguns circulos. A reacção no dia das eleições pecou por tardia e inútil quando teria sido fácil tomar medidas ao longo da campanha para um melhor esclarecimento dos eleitores. Que sirva de lição.

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