Acho que os principais canais televisivos, patentes na imagem, são bem responsáveis por muitas e muitas depressões que por aí andam e que foram contraídas pelos portugueses nos últimos dois ou três anos.
Atente-se no que são as suas principais notícias de abertura e largos minutos dos seus principais ( e dos outros também) serviços noticiosos.
Nos últimos dois anos foi a pandemia.
Com todo o seu cotejo de mortos, de infectados, de desgraças nas famílias, com entrevistas e reportagens empenhadas em mostrar até à exaustão o que de pior fosse possível em torno do problema e das suas consequências.
Depois complementadas com inúmeros programas com especialistas de tudo e de coisa nenhuma a repisarem até ao limite do insuportável aquilo que já estávamos todos fartos de ver e saber.
Gasto o assunto pandemia, que não a própria que continua a andar por aí em números preocupantes, apareceu a guerra na Ucrânia.
Mortos, feridos, famílias separadas, desgraças sem fim, cidades destruidas, infraestruturas do país arrasadas imagens terrifícas da carnificina levada a cabo pelo invasor russo numa barbárie sem fim que não se julgava possível na Europa do século XXI.
Peças repetidas até á exaustão, enviados especiais sempre em procura do pior horror, programas com supostos especialistas (alguns dos quais claramente pró russos que qualquer televisão decente devia banir dos seus ecrans) , um massacre televisivo claramente orientado pela busca do sensacionalismo.
Ele são os massacres nos EUA com tiroteios quase diários nas escolas e com dezenas de crianças e adolescentes a serem mortos perante a impotência do governo face ao poderosíssimo lobby do armamento que impede que sejam tomadas medidas que combatam significativamente o problema.
É o dia a dia da essência dos telejornais das nossas televisões.
Que não contentes com as doses industriais de horror que nos metem pelas casas dentro ainda encontram tempo para complementarem essas desgraças com outras do foro mais "doméstico" , digamos assim, mas que nem por isso nos horrorizam menos.
É o aumentos dos combustíveis para preços pornográficos perante a apatia satisfeita (o ISP dá jeito) do governo.
É o aumento da inflacção, e consequentemente dos bens essenciais, para números que de que não nos lembravamos há décadas.
É o disparar dos números da violência doméstica.
É o caos nas urgências hospitalares e um SNS completamente sem capacidade de resposta dando prova clara da incapacidade do governo para resolver um problema gravissímo.
E como se tudo isto, que são infelizmente realidades, não chegasse a capacidade sádica das televisões ainda consegue ir mais longe e torturar os telespectadores com outros horrores.
Seja o Presidente da República a comentar tudo que lhe põe à frente sem critério nem reserva, seja o primeiro ministro a por-se em bicos de pés dando ares de uma importância que no contexto internacional ninguém lhe reconhece tal a sua insignificãncia, sejam as obrigatórias noticias sobre as maiores irrelevâncias de três clubes desportivos sem os quais nenhum telejornal parece passar.
Ufa...é preciso coragem e muita resistência para ver telejornais das televisões portuguesas sem cair na mais profunda depressão.
Até porque para lá disso há o país real.
E esse caminha para a depressão colectiva.
Depois Falamos.
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